quinta-feira

Poesia de Luis Sepulveda

ese-po

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quarta-feira

Mário de Sá Carneiro. Poeta de sempre

O que corrói a alma neste caso, como no de Fernando Pessoa é constatar que estes dois nomes maiores da cultura e das letras nacionais do século XX - foram homens maiores do seu tempo. Mas no "seu" tempo nunca foram reconhecidos enquanto tal, esse foi um reconhecimento quase-póstumo, o que não deixa de ser uma tremenda injustiça. Pessoa lidou melhor com isso, e conseguiu dar a volta ao texto ainda em vida, mas já não sucedeu o mesmo com o seu amigo, Mário de Sá Carneiro, aqui evocado como poeta de sempre. 




Eu não sou eu nem sou o outro, 
Sou qualquer coisa de intermédio: 
    Pilar da ponte de tédio 
    Que vai de mim para o Outro. 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro' 
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Quási

Um pouco mais de sol - eu era brasa, 
Um pouco mais de azul - eu era além. 
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... 
Se ao menos eu permanecesse àquem... 

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído 
Num baixo mar enganador de espuma; 
E o grande sonho despertado em bruma, 
O grande sonho - ó dôr! - quási vivido... 

Quási o amor, quási o triunfo e a chama, 
Quási o princípio e o fim - quási a expansão... 
Mas na minh'alma tudo se derrama... 
Entanto nada foi só ilusão! 

De tudo houve um começo... e tudo errou... 
- Ai a dôr de ser-quási, dor sem fim... - 
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, 
Asa que se elançou mas não voou... 

Momentos d'alma que desbaratei... 
Templos aonde nunca pus um altar... 
Rios que perdi sem os levar ao mar... 
Ansias que foram mas que não fixei... 

Se me vagueio, encontro só indicios... 
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; 
E mãos de herói, sem fé, acobardadas, 
Puseram grades sôbre os precipícios... 

Num impeto difuso de quebranto, 
Tudo encetei e nada possuí... 
Hoje, de mim, só resta o desencanto 
Das coisas que beijei mas não vivi... 

. . . . . . . . . . . . . . . 
. . . . . . . . . . . . . . . 

Um pouco mais de sol - e fôra brasa, 
Um pouco mais de azul - e fôra além. 
Para atingir, faltou-me um golpe de aza... 
Se ao menos eu permanecesse àquem... 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão' 
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Mariana Mortágua dá tareia política na Miss Swaps - Mª Luís Albuquerque


Triste, triste, triste é constatar o ponto a que o PSD chegou: um partido seguidista, de Yes man face a Bruxelas, sem pensamento, sem doutrina nem acção, desprovido da ideia de bem comum, paralisado na acção e refém dum nado-morto: Passos Coelho que, tal como Salazar após a queda da cadeira pensava que ainda mandava no país, aquele julga que ainda ocupa o cadeirão de S. Bento..




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Esta direita portuguesa é a face de Janus da política à portuguesa

A função e o papel do CDS no regime político nacional é alinhar ora com o PS ora com o PSD. Fá-lo à vez e exclusivamente tendo em vista cavalgar os tachos do poder que lhe prometem a troco dum prato de lentilhas... 



Sabe-se que o PCP votará contra o projecto de resolução do CDS que procurará chumbar o Programa de Estabilidade (PE), que com esta nova liderança tenta por-se em bicos de pés para se afirmar para fora (sociedade) e para dentro (do partido) e, assim, crescer sociologicamente e limitar o espaço de manobra ao PSD, ou seja, o CDS de Cristas tenta crescer parasitando o PSD apático do nado-morto Passos Coelho. Por seu turno, o outro parceiro da "geringonça", o BE já veio alinhar a sua vontade com o seu "irmão mais velho", o PCP em ordem a dar sustentabilidade ao Governo liderado pelo PS. É sob este quadro que a direita é acusada, e bem, de estar a fazer chicana política, um número de cartaz apenas para projectar a novel liderança do CDS, mas que nenhuma consequência terá para a sociedade. 

Senão, vejamos: se este programa fosse chumbado, como o CDS de Cristas (só) aparentemente deseja, Portugal teria imediatamente problemas com a Comissão Europeia. Na verdade, os objectivos a prosseguir entre o actual Governo e a direita da austeridade (que durante 4 anos empobreceram Portugal e os portugueses e nenhuma reforma estrutural fizeram na economia nacional) são reduzir o défice e equilibrar as contas públicas, ainda que o método para lá chegar seja diferente, a finalidade a atingir é a mesma. A esta luz, a "geringonça" e a Pàf apenas se distinguem no método para atingir os mesmos resultados/objectivos. 

Por outro lado, o PSD esteve tão reservado quanto apático nesta discusão, e na raiz dessa indecisão estava o receio de Passos ter de vir a aprovar o Programa de Estabilidade do PS, caso o mesmo fosse votado, como desejaria o CDS. Ou seja, o CDS de Cristas quase levou o PSD de Passos a fazer mais uma triste figura, tendo de aprovar medidas que, na prática, exigem alguma contenção na despesa em vista ao equilíbrio das finanças públicas e, ao mesmo tempo, assegurar algumas reformas e, claro, salvaguardar as pensões, os salários e a componente social que está na base da coligação que une - precariamente - o BE e o PCP ao PS. 

Perante este quadro de relações ambivalentes, senão mesmo hipócritas, pode-se perguntar o que terá motivado o CDS de Cristas a fazer este número do Caldas?! além do mediatismo desta farsa, o CDS procura obrigar o BE e o PCP a votarem o Programa de Estabilidade do PS e, assim, a clarificar mais e melhor as águas. Mas para quem está atento a estas movimentações e "números políticos", percebe-se facilmente que o CDS não é um partido sério e faz política espectáculo, sacrificando o bem comum, mas desde que isso vá ao encontro do seu interesse partidário e à fixação da nova liderança - há que ir em frente e sofisticar a mera chicana política num partido que, desde 1974, nunca ganhou uma única eleição legislativa, mas já "se deitou politicamente" com o PS e com o PSD, demostrando, assim, a sua verdadeira natureza de rameira de luxo da III república. 

Este CDS é uma sombra do que foi o verdadeiro e genuíno CDS de Freitas do Amaral e de Francisco Lucas Pires, e é pena constatar este lamentável contraste. 

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A vingança dos perdedores da globalização - por Wolfgang Munchau -

Nota prévia: Uma interessante reflexão acerca dos perigos e desafios, activos e passivos da globalização (negativa) na vida das sociedades europeias.
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Eu gostaria de apresentar uma visão alternativa. O fracasso da globalização no Ocidente deve-se à incapacidade das democracias para lidarem com os choques económicos que inevitavelmente resultam da globalização, como a estagnação dos rendimentos médios reais por duas décadas. Outro choque foi a crise financeira global - uma consequência da globalização - e o seu impacto permanente sobre o crescimento económico a longo prazo.
Em grande parte da Europa, a combinação da globalização e dos avanços tecnológicos destruiu a antiga classe trabalhadora e prejudica agora os empregos qualificados da classe média baixa. Portanto, a insurreição dos eleitores não é chocante nem irracional. Por que razão saudariam os eleitores franceses as reformas do mercado de trabalho, se isso pode resultar na perda dos seus empregos atuais, sem esperança de conseguirem outros?
Algumas reformas funcionaram, mas perguntemo-nos porquê. As aclamadas reformas do mercado de trabalho na Alemanha, em 2003, foram bem-sucedidas no curto prazo porque aumentaram a competitividade dos custos do país através de salários mais baixos em relação a outros países desenvolvidos. As reformas produziram um estado de quase pleno emprego só porque nenhum outro país fez o mesmo. Se outros se tivessem seguido, não teria havido nenhum ganho concreto.
As reformas tiveram uma grande desvantagem. Elas reduziram os preços relativos na Alemanha e impulsionaram as exportações, gerando no entanto saídas maciças de poupanças, a causa profunda dos desequilíbrios que levaram à crise da zona euro. Reformas como essas dificilmente poderão ser a receita para os países desenvolvidos resolverem o problema da globalização.
Nem há qualquer prova factual de que os países que fizeram reformas estejam numa melhor situação ou sejam mais capazes de lidar com uma insurreição populista. Os EUA e o Reino Unido têm estruturas de mercado mais liberais do que a maioria da Europa continental. No entanto, o Reino Unido pode estar prestes a sair da UE; nos EUA, os Republicanos podem estar prestes a nomear um populista radical como candidato presidencial. A Finlândia lidera todos os rankings de competitividade, mas a economia é um caso bicudo de não recuperação e tem um forte partido populista. O impacto económico das reformas é geralmente mais subtil do que os seus defensores admitem. E não há nenhuma ligação direta entre as reformas e o apoio aos partidos políticos estabelecidos.
O meu diagnóstico é que a globalização tem sobrecarregado política e tecnicamente as sociedades ocidentais. Não há nenhuma maneira de o podermos esconder, nem devemos fazê-lo. Mas temos de gerir a mudança. Isso significa aceitar que o momento ideal para o próximo acordo de comércio ou liberalização do mercado pode não ser imediatamente.
No fim de semana houve grandes protestos na Alemanha contra o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, um acordo entre os EUA e a UE. Um dos seus aspetos mais controversos é que ele reduziria a soberania legal dos parceiros.
Nos últimos dois anos, houve uma reversão dramática da opinião pública na Alemanha sobre os benefícios do livre comércio global em geral e do APT em particular. Em 2014, quase 90% dos alemães eram a favor do livre comércio, de acordo com uma sondagem da YouGov. Esse número caiu para 56%. O número de pessoas que rejeitam liminarmente o APT subiu de 25% para 33% durante o mesmo período de tempo. Estes números não sugerem que a UE se deva tornar protecionista. Mas a mudança rápida nos números deve servir como um sinal de alerta para os políticos serem cautelosos.
Eu não compreendo por que motivo Sigmar Gabriel, líder dos sociais-democratas e ministro da Economia da Alemanha, é um defensor tão acérrimo do APT. Se ele quiser verdadeiramente parar a erosão do apoio ao seu partido deve ser mais aberto sobre os custos políticos deste acordo. Não é surpreendente que muitos apoiantes do partido anti-imigrantes Alternative für Deutschlandsejam antigos eleitores do SPD.
Um não ao APT iria remover pelo menos um dos fatores por trás do aumento das atitudes antiglobalização ou anti-UE. Os benefícios económicos marginais do acordo são superados pelas consequências políticas da sua adoção.
O que os defensores da liberalização do mercado global devem reconhecer é que tanto a globalização como a integração europeia originaram perdedores. Ambas deveriam ter resultado numa situação em que ninguém ficasse pior e em que alguns pudessem ter ficado melhor.
Tal não aconteceu. Estamos perto do ponto em que a globalização, e a adesão à zona euro em particular, tem prejudicado não só certos grupos da sociedade, mas nações inteiras. Se os decisores políticos não reagirem a isso, os eleitores fá-lo-ão certamente.
Editor do Financial Times
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terça-feira

Estado tem 148 milhões de euros em paraísos fiscais

Nota prévia: O Estado português está aqui a dar um "belo" exemplo do que é cumprir as obrigações fiscais e a observar a transparência que ele exige aos contribuintes. Se o Estado não declarar a aplicação destes fundos lesa-se a si próprio, pois arrecada menos impostos deliberadamente; e, nesse caso, é o prevaricador-mor que dá exemplo e incentiva os contribuintes mais habilidosos a incorrer pelos trilhos do crime fiscal. Mas enquanto folgam as costas o Estado vai gozando com uns contribuintes, multando outros e beneficiando-se dum regime de excepção execrável, típico dum verdadeiro agente criminoso que nenhuma autoridade tem perante aqueles a quem pede contas: os contribuintes.

O Estado é uma abstracção jurídica. O Estado somos todos nós. 


BOM VENTO, BOM INVESTIMENTO? Ilha de Jersey, onde o Estado português tem 131 milhões de euros em aplicações financeiras
REUTERS


João Silvestre, Expresso

Estas aplicações são referidas na base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) onde são listados os investimentos de carteira – em ações, obrigações ou outros ativos financeiros – dos países. Os dados do Coordinated Portfolio Investment Survey (CPIS) do FMI remontam a 2001 e vão até junho do ano passado, os dados mais recentes disponibilizados.
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O acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia

Nota prévia: Foi há 30 anos, em Chernobyl, na Ucrânia. Este acidente nuclear, o maior da história deste género, suscita meditação atenta entre nós, até porque a sociedade portuguesa - recorrentemente - discute a vantagem da geração de energia do nuclear como forma de produção de energia alternativa, e a central de Almaraz, em Espanha (na Província de Cáceres) fica aqui tão perto. Se houver uma explosão lá, por força atmosférica dos ventos, bastam uns minutos para a contaminação se operar e fazer os seus estragos nas populações, nos solos e nas generalidade das infra-estruturas, rios e nos animais, enfim, em toda a vida humana, biológica e animal em Portugal (e noutras regiões envolventes). Neste livro, autora, Svetlana Alexievich chama a atenção do drama que foi o acidente, das mortes que ele provocou, dos impedimentos e dos sofrimentos que gerou, 3 décadas de depois, e, pasme-se, da forma como a Comunidade internacional tem tratado aquelas populações completamente desprezadas e entregues à sua sorte. Isto revela bem a crueza da humanidade, provocada por um conjunto de violações de procedimentos de segurança, como sinalizámos abaixo na explicação mais técnica do sucedido (a amarelo), no longínquo ano de 1986. 

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No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu. (link)

Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Urânio-235, elemento químico de grande poder radioativo.

Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat.

Ao terem ciência do acontecido, autoridades soviéticas organizaram uma mega operação de limpeza composta por 600 mil trabalhadores. Nesse mesmo tempo, helicópteros eram enviados para o foco central das explosões com cargas de areia e chumbo que deveriam conter o furor das chamas. Além disso, foi necessário que aproximadamente 45.000 pessoas fossem prontamente retiradas do território diretamente afetado.

Para alguns especialistas, as dimensões catastróficas do acidente nuclear de Chernobyl poderiam ser menores caso esse modelo de usina contasse com cúpulas de aço e cimento que protegessem o lugar. Não por acaso, logo após as primeiras ações de reparo, foi construído um “sarcófago” que isolou as ruínas do reator 4. Enquanto isso, uma assustadora quantidade de óbitos e anomalias indicava os efeitos da tragédia nuclear.

Buscando sanar definitivamente o problema da contaminação, uma equipe de projetistas hoje trabalha na construção do Novo Confinamento de Segurança. O projeto consiste no desenvolvimento de uma gigantesca estrutura móvel que isolará definitivamente a usina nuclear de Chernobyl. Dessa forma, a área do solo contaminado será parcialmente isolada e a estrutura do sarcófago descartada.

Apesar de todos esses esforços, estudos científicos revelam que a população atingida pelos altos níveis de radiação sofre uma série de enfermidades. Além disso, os descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas congênitos e anomalias genéticas. Por meio dessas informações, vários ambientalistas se colocam radicalmente contra a construção de outras usinas nucleares.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
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segunda-feira

Eduardo Lourenço - A Cultura -

Nota prévia: Eduardo Lourenço é um livre pensador e genial intelectual do nosso tempo. O Labirinto da Saudade sustenta esta simples afirmação. E só por isso Deus poderia ter-lhe dado uma fisionomia mais distinta da de Salazar, mas isto não aconteceu, o que considero uma tremenda injustiça estética, não obstante a originalidade do seu pensamento acerca da nossa identidade e da inserção de Portugal nesta miserável Europa.


A Cultura não é o lugar de revelação alguma, é apenas o lugar onde todas as revelações são examinadas e discutidas sem fim. Para que cada um de nós possa viver dessa discussão infinita do mundo e de si mesmo.


Público / 20050218
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Lembra-te - por Mário Cesariny -




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Poesia - por Alberto Serra -

hoje. escrevo-te à hora do pão quente. ainda com o sabor nocturno. do teu corpo. ontem à noite. a língua rodava. fina agulha de flor sobre os teus seios de massa tenra. escrevo-te. a boca besuntada de farinha. a trincar framboesas nas tuas coxas. anda tudo trocado. meu amor. dás-me a provar frutos. no teu corpo . à hora do jantar. e já não tenho compotas. chã de ervas. com que possa. matar a fome. de ti. se a esta hora. do pão quente. alcançasse a temperatura da noite.a minha primeira refeição. eram.maçâs.rosadas.pelos teus lábios.


escrito por alberto serra a 5.12.06  (link)

(quadro de picasso)


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O Dia da Liberdade. Na infância do desenvolvimento


Portugal, findo o império, foi dos únicos povos e nações do mundo que (souberam) fazer uma revolução e conseguiram ter a arte de por as armas a "disparar rosas", em vez de balas, como seria previsível num contexto de pré-guerra civil que nunca chegou a eclodir. 

Consabidamente, estivemos à beira duma guerra civil, mas à última da hora, mercê do esforço de alguns militares mais sensíveis e compreensíveis, e da natureza "mansa" dos portugueses descrita pelos poetas, tal não ocorreu. E isso foi um activo nacional, pois pouparam-se centenas, milhares de vidas, não se destruíram as infra-estruturas do país (já de si pobre), enfim, não tivemos que sarar as feridas decorrente duma guerra civil, como ocorreu em Espanha em 1936 e noutros países cuja transição da ditadura para a democracia pluralista foi traumática. Ou mesmo a nossa própria experiência quando, desastradamente "encerrámos" o império, e se deu início ao processo dos retornados que ocuparam o Jamor e encheram o país de dramas...

Mas se hoje fizermos um balanço da situação  acerca desse dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo, como diria Sophia de Mello Breyner Andresen, o que apuraríamos?! 

Que todos passámos a votar, é certo, mas nem por isso uma democracia com mais de 40 anos está onde deveria estar. Pois ela, a democracia, foi sequestrada pelos lobies, grupos de interesse, muitos deles organizados nas sociedades de advogados cujos deputados (que são advogados de interesses de empresas de manhã e à tarde fazem uma "perninha" no Parlamento onde legislam e fingem defender o bem comum) contribuem para disfuncionar a democracia representativa e pluralista, que o deixa de ser pela captura das liberdades fundamentais por parte daqueles poderes fácticos que operam em nome de interesses corporativos e de natureza empresarial.

E o que dizer da Justiça? Qual dos cidadãos em Portugal crê nela? Quantos banqueiros foram presos em Portugal por ocasião das fraudes do BPN, BPP, BES, Banif, etc? Que procedimentos tomaram já as estruturas de justiça para inquirir os casos de portugueses envolvidos nos Panama Papers e que, por via desse esquema de ocultação de património e de lavagem de dinheiro, subtraem milhões de €uros em impostos ao erário público que tem de ser carregado por via do saque fiscal imposto ao contribuinte que não tem offshores?!

A democracia, nas suas valências económica, social e cultural - ao longo destes 40 e tal anos de prática democrática, também deixa muito a desejar. Somos ainda uma sociedade com estatutos remuneratórios profundamente assimétrica, até mesmo entre homens e mulheres; a sociedade, de Norte a Sul, do litoral ao interior é ainda um mar de contrastes agravada pelas rivalidades regionais e locais que nos tira fôlego para desenvolver harmoniosamente o território e as suas infra-estruturas. No plano cultural, somos um povo do 3º Mundo, quer pelos recursos que os orçamentos de Estado dedicam à área, quer ainda pelos níveis de subsidiodependência que a classe dita cultural (e os seus agentes, operadores e criadores) têm relativamente ao Estado e do qual, em boa parte, dependem para trabalhar, criar e vender as suas produções culturais.

Neste tosco retrato, qualquer português realista constatará que a evocação do 25 de Abril é mais um exercício de fachada que as instituições da república têm de continuar para preencher as formalidades simbólicas e institucionais dum estado de direito. No day after, a bandeira cai, assim como a máscara de cada português, e tudo se converte no folhetim miserável de sempre:

- o dia não é inicial, nem inteiro nem limpo - para desgosto de Sophia..
- e também não emergimos do silêncio do tempo, mas sim das suas cumplicidades manhosas,  criminosas e opacas que hoje tecem o quotidiano dos portugueses, e que os factos e os docs. divulgados nos Panama Papers vieram evidenciar.

Esta democracia lusa ainda está na infância do seu desenvolvimento, está cheia de acne e vícios. E enquanto essas camadas de pus não forem eliminadas da epiderme social nacional com o devido antibiótico para rebentar essa borbulha de pus - estamos votados a ser uma nação adiada.

Adiada, embora cumpridora dos salamaleques simbólicos que o estado de direito impõe à república para fingir que tudo vai bem neste nosso podre reino da Dinamarca... 

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domingo

Evoc. de Guilherme Shakespeare

Loucura

É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos.
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A vida é uma simples sombra que passa (...); é uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada significa.


Macbeth

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sábado

O drama dos Panama papers e a alimentação do capitalismo desenfreado


Algumas notas acerca desta orgia hiper-capitalista que alimenta o mundo do crime, da evasão fiscal, do tráfico de armas, pessoas e órgãos e constitui um suplemento vitaminado do terrorismo globalitário que está literalmente a destruir o Ocidente europeu e a sua civilização nos nossos dias:

1. Já se percebeu que os jornalistas (via Consórcio) que está na posse da informação das pessoas e empresas ligadas à criação e uso e abuso das offshores (e seus parceiros nos vários países) estão a libertar o nome das identidades dessas pessoas a conta-gotas, o que configura uma gestão política desses casos. Ou seja, tudo é político, até a gestão da informação racionalizada pelos jornalistas que em Portugal têm essa informação e a vão utilizando cirurgicamente;

2. Os partidos fortes do chamado arco da governação, PS e PSD, tendem a mexer-se em ordem a que tudo fique mais ou menos na mesma, e por razões identitárias que relevam da composição sociológica das suas elites e estruturas e quadros dirigentes. Dentro e fora das máquinas partidárias;

3. O dinheiro gera dinheiro, e quem o tem usa-o em seu proveito criando estruturas, esquemas e expedientes que estão milhas à frente da lei a fim de multiplicar esse valor, ainda que nas margens da lei. E é em função dessa lei sociológica que os agentes políticos acabam por obedecer e agir, quer no plano legislativo, quer no plano eminentemente político. A essa luz todos somos, mais ou menos, (neo)marxistas.

Só que para uns esse mesmo capitalismo cede a corda com que algumas pessoas se enforcam; para outros, ao invés, essa corda é utilizada para criar nós e pontes criativas para sofisticar os mecanismos de evasão de capitais e de ocultação de património que serve de base à alimentação dessa mega-máquina esfomeada que é, e sempre foi, o capitalismo transnacional. 

Pior mesmo é quando estão reunidas nas mesma pessoas, como em Putin, por ex., inúmeras dessas dimensões poderosas que tecem os perigosos fios que alimentam o capitalismo global do nosso tempo.

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O sr. Constâncio e a atitude anti-patriótica

Nota prévia:  Ao não querer prestar esclarecimentos no Parlamento português no caso Banif que afecta a economia nacional e os portugueses, alegando que não é obrigado constitucionalmente a isso, Constâncio revela vários aspectos na sua dimensão privada e pública: (1) revela a natureza do seu carácter (furtivo e lamentável); (2) revela a cobardia política pela forma como exerce as suas funções públicas na Europa (lamentável e anti-patriótico); (3) revela que é, afinal, um Yes man do BCE e do sr. Draghi - e que está naquelas funções exclusivamente preocupado com a sua carreira, o seu ego e a sua vaidade. Seria útil ao país conhecer o que dele disse o ex-director do Expresso, José António Saraiva, no seu livro Confissões... 

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Caso Banif: Constâncio diz que não tem de responder ao Parlamento português

Em Amesterdão, e questionado pelos jornalistas se vai responder à comissão de inquérito ao Banif e se o vai fazer por escrito ou por videoconferência, o vice-presidente do Banco Central Europeu e ex-governador do Banco de Portugal responde que não recebeu “nenhum pedido nesse sentido” e que o BCE apenas tem de prestar contas ao Parlamento Europeu. (...)


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sexta-feira

Teodora Cardoso e a sua austeridade no Conselho de Finanças Públicas

Nota prévia: Teodora Cardoso faz o seu papel, que é o de levantar dúvidas relativamente ao realismo das previsões do Governo no quadro do Programa de Estabilidade. Além de não acreditar nele, o CFP - liderado por Teodora Cardoso - questiona a sua execução sem o rever, ou seja, sem apresentar novas medidas de austeridade  que se traduz(a) em aumentar os impostos. Mas quem é Teodora cardoso? Uma ultra-conservadora que, no plano doutrinário e da teoria económica, parou no tempo. Enganou-se rotundamente no Plano de Estabilidade apresentado por Vitor Gaspar, que destruiu meio milhão de emprego em Portugal, destroçou o tecido económico e social. Mas neste particular, a srª Teodora nada disse, não se retratou publicamente nem, como devia, se demitiu pela incapacidade de utilizar as ferramentas económicas ao seu dispôr para ajuizar (d)a sustentabilidade dos orçamentos. 
- Portugal olha para a srª Teodora como alguém que já há décadas deveria estar em casa a fazer o bacalhau espiritual e a brincar ao lego com os bisnetos, nunca num Conselho desta natureza, supostamente independente, para ajuizar das previsões - e das receitas e despesas - deste OGE/16, ainda que ele tenha de ser revisto como, aliás, o são todos os OE em Portugal. Mas há limites para o aceitável e para a capitulação perante Bruxelas que apenas quer impor a sua agenda neoliberal que implica mais pobreza, desemprego e desigualdades sociais em Portugal. É isto que a srª Teodora também quer, ao comportar-se como o agente duma delegação do Eurogrupo com representação em Lisboa.
- A sua, dela, credibilidade em matéria de conselho económico para Portugal equivale a pensar-se que ela marca o mainstream da moda em matéria de penteados. É algo do outro mundo, e não se deve conceder importância a quem não a tem. Porque, simplesmente, a senhora não é nem credível nem imparcial. 

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Conselho de Finanças Públicas desconfia das contas do Governo


Conselho de Finanças Públicas desconfia das contas do Governo

No parecer a entidade considera que "o conjunto de previsões para o período apresenta um risco de não realização", o que pode "implicar a revisão dos resultados esperados para os objetivos orçamentais"
O Conselho de Finanças Públicas (CFP) alertou para uma possível revisão das metas orçamentais inscritas no Programa de Estabilidade 2016-2020, enviado ontem à Assembleia da República, porque as previsões económicas podem não se concretizar.
No parecer do CFP sobre as previsões macroeconómicas subjacentes ao Programa de Estabilidade, a entidade considera que "o conjunto de previsões para o período apresenta um risco de não realização", o que pode "implicar a revisão dos resultados esperados para os objetivos orçamentais".
A entidade liderada por Teodora Cardoso aponta que esses riscos "incidem sobre a prudência dos pressupostos relativos à evolução da procura externa e ao crescimento das exportações no médio prazo e à fundamentação para a dinâmica do investimento".
Além disso, destaca o CFP, "a instabilidade em torno do sistema financeiro português constitui um risco não negligenciável para a concretização do cenário macroeconómico" até 2020.
A entidade escreve ainda que a perceção dos riscos associados às previsões "pode ser mitigada pela articulação entre o cenário macroeconómico do Programa de Estabilidade e os demais instrumentos de política económica que consubstanciem a prossecução das reformas estruturais de que a economia portuguesa ainda carece".
Para o CFP, essa articulação "é especialmente relevante quando se trata de um documento que devia estabelecer a orientação da política orçamental para o período de uma legislatura".
Contudo, o Governo não apresentou ao CFP informação que permita tê-la em conta, lamenta a entidade.
Na conferência de imprensa após a aprovação, em Conselho de Ministros, dos programas de Estabilidade e Nacional de Reformas, o ministro das Finanças, Mário Centeno, considerou que os documentos se baseiam num cenário "prudente".
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quinta-feira

Plano - por Nuno Júdice -


- O melhor "Plano" de Nuno Júdice -


Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida” 
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quarta-feira

Procissão Corpus Christi. Autor, Amadeo de Souza-Cardoso


Procissão Corpus Christi. Autor, Amadeo de Souza-Cardoso

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Evocação de Sergio Pitigrilli


Itália 
9 Mai 1893 - 8 Mai 1975 
Escrito

Se se pudessem interrogar as estrelas perguntar-lhes-ia se as maçam mais os astrónomos ou os poetas.
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Evoc. de Oscar Wilde

Os vegetarianos do amor - Pitigrilli

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Eurico Heitor Consciência - partida -

Nota prévia: Conhecia o Dr. Consciência doutros tempos, de miúdo, do tempo de meu Pai, que ainda fora seu cliente e amigo. Mais recentemente, por vicissitudes da vida que agora não têm cabimento, mas que também remetem para o termo da vida, volto a encontrá-lo em Abrantes. Após esse encontro, tive gosto em partilhar com ele um livro de Pitigrilli, A Decadência do Paradoxo. Um livro excepcional que nos ajuda a pensar, e a fintar o próprio pensamento. - Qual não é o meu espanto quando, uma ou duas semanas depois da minha oferta, recebo dele o mesmo título de Pitigrilli, mas numa edição mais antiga e requintada... Tive aquela feliz sensação de estar, ao mesmo tempo, a ser premiado e a ser "gozado"..
- Semanalmente tinha a gentileza de me enviar a sua prosa mordaz e sempre num português bem construído, próprio de quem domina a língua, sabe pensar, escreve com grande encadeamento de ideias, conhece os costumes e está a par do que se passa na sua cidade, no país e no mundo. 
- Crítico feroz da nova classe política (quem não é?!) - a sua opinião era sempre meditada com atenção. Goste-se ou não dele, era um homem inteligente e sabedor e como beneficiei dessa sua partilha nestes últimos anos - só me restava dar aqui sinal dessa gratidão intelectual, afinada no mundo das ideias, e que, forçosamente, por força das minhas circunstâncias de vida, me encaminha também para a partida do meu próprio Pai. 
- Aqui fica o seu último artigo que há dois dias o decano dos advogados de Abrantes tinha tido a gentileza de partilhar comigo. Mais um..

- Bem haja, Dr. Consciência e até sempre. 

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A cultura está na moda, - por Eurico Heitor Consciência - 

As questões culturais não costumam preocupar os meios de comunicação social, e só muito raramente vão à primeira página dos jornais ou aos primeiros minutos dos telejornais. Mas, confirmando que não há regra sem excepção, nos últimos quinze dias, o Ministério da Cultura andou nas bocas do mundo, nas primeiras páginas dos jornais e nas aberturas dos telejornais. Foram primeiro as salutares bofetadas que o Ministro João Soares prometeu dar ao Vasco e a outro comentador. Seguiu-se aquela amistosa e simpática declaração do sorridente António Costa sobre as recomendações que faz a toda a hora aos seus ministros Sejam contidos. Não se esqueçam, nem à mesa do café, de que são membros do Governo. Com esse recado, o sorridente António Costa só quis travar os ministros que estavam a beber whisky’s atrás de whisky’s no café, porque, sendo certo que os tempos de austeridade já lá vão, não convém começar já a abusar e a dar maus exemplos. 
Mas o João Soares pensou que aquele recado era para ele e demitiu-se, depois de ter sossegado o Vasco e o outro : que era só para os assustar; homem de paz como é, que nunca bateu a ninguém, iria agora dar bofetadas ao Vasco e ao outro! Nem pensar…
Dias depois noticiou-se que o novo Ministro da Cultura era um poeta admirado, um poeta p’ra diante. Mas um Secretário de Estado de Qualquer Sector da Cultura terá sido um dos 203 portugueses que já leram versos do novo Ministro, e, como não gostou dos versos do Ministro demitiu-se.
Há-de ser substituído agora por um dos inúmeros talentos que sobram por aí e que goste dos versos do Sr. Ministro.
Foi um forróbódó. Ninguém ousaria, um mês atrás, prever que se andasse a falar de cultura entre nós. Por isso é  que  entendo que o desporto deve ser transferido para o Ministério da Cultura. A cultura não é só artes e poesia, abrange também a prática desportiva, a cultura física, como há não sei quantos séculos foi já dito e praticado pelos gregos. A mens sana in corpore sano dos romanos foi tirada dos gregos.
E vão ver que, logo que ao desporto se atribua a devida dignidade cultural, vão ver que neste país só se falará de questões culturais. Claro que nessa altura terá que haver um Secretário de Estado do Futebol, que, de certeza, logo contratará vários assessores, consultores, adjutores e coadjutores e outros estupores, que, neste caso, bem se justificam. Por exemplo: o assessor para as arbitragens há-de descobrir e informar o seu Secretário de Estado sobre as razões que têm levado os árbitros a não marcar penaltis contra o Benfica, como fartamente tem propalado esse notável português que dá pelo nome de Bruno de Carvalho.
Cultura a rodos então. Que bom. Os povos precisam de ser cultos.
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PS (sem PCP nem BE) : Depois de minutada esta crónica, li nos jornais que o Secretário de Estado que se demitiu não era da Cultura mas da Educação. Para mim é tudo o mesmo : a cultura dá educação e a educação pressupõe cultura.
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ABRANTES: MORREU O ADVOGADO EURICO HEITOR CONSCIÊNCIA (EM ATUALIZAÇÃO)

Eurico Heitor Consciência foi um dos fundadores do Partido Socialista em Abrantes, professor do Liceu e professor Universitário, diretor do Correio de Abrantes, colaborador da imprensa local e regional, inclusivé como cronista do Jornal O Ribatejo nos últimos 30 anos, magistrado do Ministério Público e Notário, organizador das Jornadas Culturais de Abrantes, ativista social e político, entre muitas outras atividades que exerceu e dinamizou ao longo da sua vida.
Pessoa muito “empenhada e envolvida cívica e politicamente”, a notícia da morte de Eurico Consciência foi um “choque” para Joaquim Duarte, diretor do jornal O Ribatejo.
“É um grande choque e uma grande perda em termos pessoais, para a região, para o jornal e para a advocacia”, disse Joaquim Duarte ao mediotejo.net
“Era um dos advogados mais prestigiados da região, com escritórios em Abrantes, Santarém e Lisboa, uma figura muito inteligente e um homem apaixonante e que fez do seu nome – Consciência – o seu sentido de vida”, destacou.
Eurico Heitor Consciência (1936/2016) no seu escritório em Abrantes
Fotos: Fernando Baio/CM Abrantes

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Marcelo com todos




Marcelo está em todo o lado: na cidade, no campo, na Europa, no interior de Portugal, disserta sobre atletismo, couves, tomates, a desblindagem dos estatutos do BPI e as conexões a Angola, cumprimenta o rei de Espanha, põe A.Costa com uma enxada na mão,  puxa as orelhas a Passos Coelho e coloca-se ao lado do Governo das esquerdas em matéria de regulação do sector financeiro em Portugal e mais 300 etc. 

Marcelo é, hoje, em Portugal o único agente político omnipresente, omnisciente e quasi-omnipotente. 

Trata-se, pois, dum deus menos que se passeia na Terra. Oxalá que do seu magistério hiper-influente Portugal e os portugueses possam beneficiar e o país comece a viver um ciclo de prosperidade que hoje (ainda) desconhece. 

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terça-feira

Picasso e a definição de artista



The artist is a receptacle for emotions that come from all over the place: from the sky, from the earth, from a scrap of paper, from a passing shape, from a spider's web. 

Pablo Picasso


It takes a long time to become young. - Pablo Picasso



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Uma casa do outro mundo - por Amadeo Souza Cardoso -

Só falta vermos o ribeiro...
- mas ele está lá...

Brook house, Amadeo Souza Cardoso

The Hawks, 1912, Amadeo de Souza Cardoso

“Amadeo de Souza Cardoso é a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX.” – José de Almada Negreiros (Lisboa, 1916)
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Narrativas do Brasil sequestrado por ele próprio



Narrativas do Brasil sequestrado por ele próprio
- Pergunto-me se o Cristo Redentor, no morro do Corcovado, também vota...
- E em caso afirmativo, votará em quem: na continuidade da corrupção ou na corrupção da continuidade?!

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segunda-feira

Dilma e um problema colossal chamado Brasil




Creio que o problema maior de Dilma foi, de facto, o reconhecimento por parte da sociedade brasileira, intra e extra-muros, de que ela não tinha jeito, vocação ou habilidade para a governação. Além das chamadas "pedaladas fiscais", expediente financeiro utilizado pelo Governo federal assente no atraso deliberado (mas dissimulado) dos pagamentos devidos às entidades públicas a fim de manipular as contas públicas, o problema maior de Dilma foi o fosso social que ela veio a agravar entre os ricos, muito ricos e os pobres e muito pobres brasileiros. Na raiz desse problema estão as políticas públicas seguidas, especialmente as que tinham dimensão e efeito social imediato.

Depois, a recuperação política que ela fez de Lula da Silva, chamando-o para a chefia da Casa Civil, na esperança de se salvar politicamente, teve um efeito de boomerang na imagem governação, e quer Dilma quer Lula da Silva, envolto em casos de corrupção e ocultação de património, acabaram por ver as suas posições conjuntas ainda mais enfraquecidas junto da sociedade brasileira. Quer os actores políticos, quer as instituições do Estado sob seu comando, perderam autoridade e legitimidade à luz da opinião pública. 

O resto é luta política de rua e, claro, da feroz oposição nos corredores do poder. A destituição foi aprovada por 367 deputados, suplantando os 342 deputados necessários na Câmara dos Deputados para assegurar aquela destituição. O debate político no Brasil, hoje, não existe. O que existe são ameaças e acusações de traições mutuas, ou seja, entre o Governo e os deputados da oposição que querem a deposição de Dilma.  

Uma vez o Governo derrotado na Câmara dos Deputados a luta política é transferida para a Câmara Alta, i.é, para o Senado que tem agora a "chave" da solução na mão. Ninguém quer perder, e, como tal, mesmo os que querem a manutenção de Dilma no Governo, com receio de ficarem isolados diante da derrota futura, passam-se para a oposição à última da hora. Fazem-no por medo de isolamento político futuro, por chantagem política ou ainda pela promessa de recompensa de cargos, dinheiro e vantagens várias. Ou seja, não existe mais transparência política no Brasil, toda a gente, ou quase toda a gente que conta politicamente, é corrupta ou corruptível, circunstância que não abona aqueles que são hoje oposição e que se perfilam para ser poder amanhã.

Diante toda esta confusão, ameaças políticas, corrupção generalizada talvez fosse preferível censurar Dilma e exigir dela políticas públicas com mais dimensão social e esperar até às eleições gerais de 2018, momento em que o povo brasileiro seria chamado a renovar a sua democracia, que hoje se encontra seriamente doente, e que este processo de destituição de Dilma também não é a cura.

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