domingo

Da Junta de Freguesia da Cruz-Quebrada para Belém

Nota prévia: O outro conheceu diferente trajectória: foi da Figueira da Foz para S. Bento. Misteriosos são  os caminhos do senhor. Uma coisa é certa: somos nós, enquanto povo e comunidade que pagamos caro os erros de políticos falhados que aplicaram erradas políticas públicas e que manifestaram uma congénita falta de vocação para a gestão da coisa pública.

- Quanto à candidatura do primo de Diogo Freitas do Amaral - convinha perguntar ao Vice-PM o que ele achar desta brincadeira...

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Paulo Freitas do Amaral apresenta candidatura a Belém


Paulo Freitas do Amaral apresenta candidatura a Belém

Publicado ontem às 14:10

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sábado

O Sermão de Sto António aos Peixes. Evocação de António Vieira -


Neste famoso Sermão, proferido em S. Luís do Maranhão, que remonta ao séc. XVII, e na sequência dum conflito entre os indígenas e os colonos portugueses no Brasil, o velho Vieira puxou pela imaginação e habilidade oratórias e conseguiu satirizar toda uma situação sociopolítica que representava uma profunda injustiça entre os homens, e desenvolveu, para o efeito, e com uma mestria sem par, uma metaforização surpreendente, i.é, utilizou os vários peixes (pegador, voador, roncador e o polvo) para representar os vícios dos homens, em particular o daqueles colonos que cometiam brutais injustiças sobre os povos colonizados e indefesos que apenas pretendiam defender as suas terras e o direito de nelas viverem com os seus costumes e práticas.


E o que fez António Vieira para denunciar essa situação colonial?! Construiu - no plano literário - uma lógica argumentativa, assente no sermão, para, consoante as circunstâncias - enaltecer as virtudes humanas, e criticar ou censurar os vícios dos colonos, os quais se comportavam como animais, tamanha a injustiça que os colonos portugueses cometiam sobre os indígenas nesse imenso continente que é o Brasil. 

Todo o sermão é alegórico e foi pregado nessa base. 

Dito doutro modo: todo o sermão denuncia uma alegoria, porque os peixes são, afinal, uma metáfora dos homens. Mas há idiotas que, chegados à idade adulta, não conseguiram captar essa comezinha verdade... 

Pelo que quando vemos um cidadão comum a comer peixe ou o mesmo acto ser praticado por um sujeito político de relevo, especialmente se for objecto de profunda censura, naturalmente esses dois actos têm traduções diversas, porque distintas são as pessoas, o seu nível de responsabilidade relativa na sociedade, na economia e na política, seja na esfera doméstica seja na esfera europeia, internacional ou mesmo na escala global.

Todavia, há por aí uns empresários(zecos), gente que apenas quer exportar e facturar (ou facturar e exportar à sombra de governos incompetentes e iníquos como é o XIX Governo (in)Constitucional) que abre a boca, diz três asneiras e denuncia imediatamente interesses em caixa.

Um dia destes promovemos aqui um Curso de empreendedorismo para empresários ávidos, nem que seja para lhes explicar, como quem ensina uma criança ou lembra ao povo, que o dinheiro não é tudo, e utilizar os vested interests (através da cultura, gastronomia ou outros activos relacionados com o capital simbólico dum povo e são manifestações parcelares duma cultura) - que uma coisa são os negócios da empresa e os alinhamentos políticos que permitem continuar a fazer certos negócios (ou negociatas!!!), coisa distinta é a promoção da cultura dum povo de forma neutra e desinteressada.

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quinta-feira

Hospital de Santa Maria dominado por interesses da Maçonaria, Opus Dei e partidos políticos

Nota prévia: A maçonaria, de facto, já foi muito influente e fez cair governos na Iª República. Ainda assim, a sua influência continua a ser perniciosa na sociedade e na economia nacionais. O mesmo se diga da Opus Dei.. Corrompe muitos sectores do funcionamento da sociedade: na justiça, na educação, no ambiente, na saúde e em em inúmeros serviços do país de que depende o funcionamento do Estado e o próprio sector privado. Valerá a pena perceber sob que manto de interesses está refém o maior hospital público do país, talvez se compreenda melhor a razão de certas decisões na gestão corrente do referido hospital e do seu impacto na vida do cidadão comum que aguarda uma consulta ou mesmo uma intervenção cirúrgica.

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Hospital de Santa Maria dominado por interesses da Maçonaria, Opus Dei e partidos políticos

Estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos conclui que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, está minado por interesses públicos e privados de "grupos poderosos" que condicionam o funcionamento dos serviços e a aquisição de material clínico.


O hospital de Santa Maria, o maior do país, está minado por uma teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e organizações católicas, conclui um estudo que avaliou a qualidade e funcionamento de seis instituições nacionais. 
- A análise ao Hospital de Santa Maria (HSM), a cargo de Sónia Pires, salienta que, "apesar das melhorias registadas a partir de 2005", a unidade hospitalar "continua atravessada por fortes conflitos de interesse e atos nas zonas cinzentas ou silenciadas que se configuram como corrupção". 
- "A Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos ainda são três realidades externas que intersetam a esfera do HSM", refere o estudo "Valores, qualidade institucional e desenvolvimento em Portugal, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que vai ser apresentado na quinta-feira. 
- A investigadora, que se baseou em questionários e entrevistas recolhidos entre 2012 e 2013, traça um retrato negro da instituição onde se entrecruzam os interesses públicos e privados de "grupos poderosos", nomeadamente na classe médica e na direção de serviços de apoio que condicionam o funcionamento dos serviços a nível de recursos humanos e aquisição de material clínico. 
O diagnóstico era ainda pior há dez anos: "a situação estava fora de controlo, não havendo registos de utilização do equipamento e verificando-se roubos regulares, por parte de médicos e de outro pessoal, que se serviam a seu bel-prazer dos armazéns do hospital para fornecer as suas clínicas privadas". 
- O fecho do hospital chegou a ser ponderado e foi necessária "a intervenção enérgica" do ministro da Saúde, que nomeou um novo Conselho de Administração e um novo presidente para salvar a instituição, refere o documento, acrescentando que esse dirigente e a sua família receberam ameaças de morte e chegaram a ser acompanhados por uma escolta policial. 
- Sónia Pires destaca que "as condições melhoraram" entretanto, mas continuam a ser "prática comum" pequenos atos de corrupção como, por exemplo, "troca de favores, fazendo passar à frente, nas listas de espera, amigos e familiares, e o médico assistente canalizar os pacientes que têm de fazer análises para laboratórios privados dos quais é sócio".
A corrupção foi mais evidente até meados de 2000, e sofreu uma quebra com a reorganização dos serviços. 
- "Com efeito, a introdução da informatização dos serviços, as alterações nas chefias dos serviços de apoio (com a vinda de atores do setor privado bancário ou do setor dos seguros de saúde), a entrega de relatórios de contas por serviço, área ou departamento, ou a externalização de certos serviços (como a alimentação, a lavandaria ou obras de manutenção) fazem com que o despesismo seja mais controlado", adianta o relatório.
- O documento revela igualmente casos de absentismo de chefias médicas nos serviços de ação médica e nomeações dos diretores de serviço feitas "à revelia das normas e regulamentos". 
- Justifica, por outro lado, a permanência de alguns médicos no serviço público com o facto de "pertencer ao HSM ser útil para conseguir o estatuto social e simbólico próprio à profissão", admitindo que, embora se mantenham os melhores elementos, há ausência de meritocracia, nas nomeações e na promoção. 
- "Os processos de nomeação não são claros e estão atravessados por outras dinâmicas como os jogos de interesse e as lutas entre professores na Faculdade de Medicina, e a presença de dinâmicas externas próprias à sociedade portuguesa -- como a maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos (ligação mais recente, temporalmente, e com ênfase particular no Partido Comunista e no Partido Socialista)", salienta a investigadora, baseando-se nas informações que recolheu. 
- Santa Maria foi a organização mais mal classificada entre as seis analisadas no estudo (Autoridade Tributária, ASAE, EDP, Bolsa de Lisboa, Hospital de Santa Maria e CTT), destacando-se essencialmente na avaliação sobre inovação e flexibilidade tecnológica. 
- No entanto, a partir de 2011, as restrições orçamentais no Serviço Nacional de Saúde condicionaram a introdução de maior flexibilidade tecnológica e inovação nos serviços, notou Sónia Pires. 
- O estudo envolveu vários investigadores e foi coordenado pela professora da Universidade Nova de Lisboa Margarida Marques e pelo professor da Universidade de Princeton Alejandro Portes.

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Narrativas lusófonas

Nota prévia: 
- Falar sempre em português nos fora internacionais e, já agora, escrevendo em bom português, o que supõe - deliberadamente - contornar as regras do novo Acordo Pornográfico - que desvirtua a nossa língua, subverte os significados a algumas palavras e descaracteriza-nos enquanto povo e massa identitária. 
- Há limites para tudo, até para a prostituição duma língua secular que, por acaso, deu origem ao Brasil - permitindo a esta nação-continental encontrar um denominador comum que jamais seria possível sem esse catalisador que foi, é e será a língua portuguesa, conforme ilustra o ex-embaixador Seixas da Costa..

PS: O bold a amarelo é nosso.


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CPLP: Líderes lusófonos devem falar sempre em Português nos fora internacionais
Fotografia © Filipe Amorim / Global Imagens
Diplomatas frisaram esta quarta-feira, em Lisboa, que os líderes políticos lusófonos deveriam discursar sempre em Português perante a comunidade internacional.
O embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, enfatizou que essa prática constitui uma afirmação de poder da língua perante o mundo - como fazem sempre os dirigentes da Rússia ou da China - e, por isso, deve haver "uma descolonização mental" que coloque a língua portuguesa no patamar de outras como o inglês ou francês.
Mário Vilalva, um dos intervenientes num debate organizado pela conferência "Português: Língua de oportunidades" sobre as relações diplomáticas entre Angola, Brasil, Moçambique e Portugal, recordou um episódio ocorrido há anos com o então presidente brasileiro Lula da Silva numa cimeira do G8: exigiu falar em português.
O embaixador português Francisco Seixas da Costa sugeriu que os países lusófonos deveriam apostar na formação de intérpretes, dando assim instrumentos aos organismos internacionais para facilitar a utilização da língua portuguesa.
Argumentando que deveria falar-se em "literatura lusófona" em vez de apenas portuguesa, brasileira ou angolana, Seixas da Costa lamentou que não exista "uma afirmação externa, global", da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Isso é visível, entre outros exemplos, no facto de não se pronunciar enquanto organização sobre as grandes questões globais, lamentou Seixas da Costa, observando ainda que a polémica em torno do Acordo Ortográfico "não é um elemento positivo para a afirmação interna" da língua enquanto património comum dos membros da CPLP.
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Evocação de Luíz Pacheco e o plágio


Volta e meia aparece-nos um melro à janela, oportunista (como são todos os melros), que nos come o miolo de forma não consentida e escapa-se  rápido, como a sombra. É assim na vida pessoal, empresarial, política etc e tal. É assim quando as pessoas não têm carácter, ainda que o apregoem publicamente. São as novas rameiras virtuais, com epicentro na blogosfera e ramificações no FBook. Mas há sempre um problema nesses pequenos plágios de lana-caprina... Deixa-se sempre um rasto, um pequeno rasto, o qual se torna peganhento a quem adoptou esse execrável procedimento. 

Nas coisas sérias e nas outras, na poeira da vida. Lembro que um dia, durante muitos dias, o genial Luíz Pacheco (aqui recorrentemente lembrado e evocado) se deu ao trabalho de identificar um clamoroso plágio de Fernando Namora sobre a obra de Vergílio Ferreira: Domingo à Tarde (1961), que seria decalcado de Aparição (em 1959), curiosamente Prémio Camilo Castelo Branco - anos antes. 

Desse trabalho de detecção do plágio de Namora, que o diminuiu nacionalmente e sem nenhuma necessidade, Pacheco formulou aquilo que designou O Caso do Sonâmbulo Chupista...

Esqueçamos, doravante, o "chupista", que os há em abundância em cada esquina (virtual e real), e centremo-nos em Pacheco que foi, de facto, um escritor genial. Sem regra, ou adoptou a dele, anárquico, surrealista e romântico, o que ficou bem patente em Comunidade ou noutro trabalho O Libertino Passeia por Braga...

Hoje já é muito difícil um tipo, por regra sem escrúpulos, plagiar um trabalho sem que alguém denuncie essa situação 24h. depois. Mesmo em relação a escritos fugazes, feitos sobre o joelho e na espuma dos dias.

O Chupista é, quer queiramos quer não, uma categoria sociológica presente na sociedade portuguesa, é uma espécie de pequeno parasita que depois cresce e se converte numa carraça. 

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Obs: Esta "rábula" é dedicada a todos aqueles seres obtusos e frustrados que se dedicam ao pequeno plágio. Especialmente, por serem como são: homens pequenos, frustrados e obtusos, além de oportunistas. Aos que conheço e, acima de tudo, àqueles que desconheço, que são em maior número. 
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quarta-feira

"Claustrofobia democrática": Advogados vão passar a ser controlados pelo Ministério da Justiça

Nota prévia: Perante isto, que é dos mais graves ataques à autonomia e independência das ordens socioprofissionais e uma violação selvagem ao estado de direito e à democracia representativa, ainda veremos irromper no espaço público o eurodeputado Paulo Rangel - pós-dieta - queixar-se de uma verdadeira claustrofobia democrática...
- Não deixa de ser curioso constatar esta contradição aberrante: por um lado, e em matéria de privatizações, os boys de Chicago-Massamá querem vender tudo ao desbarato, a exemplo gritante do que o governo de Passos pretende fazer com a TAP, num registo criminosamente neo-liberal; por outro lado, o mesmíssimo governo - que integra a "loira" mais problemática da República, que depois de ter rebentado com o sistema judiciário e tornado o país mais desigual, distante, injusto, caro e desertificado com a ruinosa reforma judiciária (que consistiu em extinguir tribunais a régua e esquadro) - pretende meter o nariz naquilo que diz respeito a uma ordem profissional em relação à qual o Estado nunca se imiscuiu, num registo socializante e fascizóide,  bem em linha com a personalidade da titular da pasta. 
- Trata-se, afinal, de mais uma guerra pessoal entre pessoas que se odeiam, e isto deveria ser poupado à República e aos portugueses que se estão nas tintas para os odiosinhos de estimação de paula taxeira da Cruz, a pior ministra da justiça desde que Portugal tem esse nome.

Adenda: Aumentei o tamanho da letra a fim de evitar plágios "rascas", mesmo em relação àqueles textos que escrevo nos  intervalos das idas ao WC e ao pé-coxinho. Textos que depois "saltam" para o Facebook sem paternidade, ou com a paternidade escondida...Mas hoje tudo se sabe quase em tempo real, até o mau hálito d´algumas pessoas. 
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Advogados vão passar a ser controlados pelo Ministério da Justiça



Pela primeira vez na história da Ordem dos Advogados (OA), a instituição vai passar a ser tutelada pelo Ministério da Justiça que terá o pelouro de "supervisionar" as alterações que a bastonária Elina Fraga, ou futuros bastonários, queiram fazer, nomeadamente em questões como o estágio ou provas de acesso à profissão. O Estatuto da OA - que ontem foi discutido na especialidade no Parlamento perante a líder dos 28 mil advogados e os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias - prevê assim "que a tutela da legalidade da Ordem dos Advogados compete ao membro do Governo responsável pela área da Justiça". O que implica que os regulamentos (regras internas) feitos pela OA só produzem efeitos "após homologação" da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Os advogados passarão a contar ainda com um Conselho Fiscal, que deverá "acompanhar e controlar a gestão financeira da Ordem e fiscalizar a organização da contabilidade da mesma", diz o diploma.
Ao longo do processo de elaboração do documento, o Ministério da Justiça pediu inúmeros pareceres. No caso do da Comissão Nacional de Proteção de Dados, liderada por Filipa Calvão, é apontado o "perigo de listagens de pessoas na internet, sobretudo quando não são tomadas medidas técnicas necessárias para acautelar a possibilidade de cópia e reprodução". Em causa a publicitação das penas disciplinares aplicadas pelos vários Conselhos de Deontologia da Ordem, incluindo as penas mais graves de expulsão. Mais ainda o facto de estarem disponíveis alguns dos dados pessoais dos advogados (domicílio profissional, nome completo, data de inscrição na Ordem e ainda contactos telefónicos, em alguns casos números de telemóveis.
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Fisco trata pequenos e grandes contribuintes de forma diferente

Nota prévia: A "novidade" deste estudo radica no seguinte - no deserto continua a haver muita areia, e os oceanos estão repletos d´água..., o resto é o ar que flui pela atmosfera e que nos joga poeira para os olhos. É óbvio que o estudo deveria espelhar uma variável estrutural que condicionou tudo o resto nos últimos 4 anos, e que decorre da mentalidade (e acção) pidescas do XIX Governo (in)Constitucional, que transmite essas orientações estratégicas ao ministério das Finanças, e, este, por sua (avi)vez, mandata o secretário de Estado da Penhora & Confisco, o sr. Paulo núncio, cujo nome tem andado envolvido em actos persecutórios e de favor fiscal relativamente a certas empresas (amigas), a fim de punir os pequenos contribuintes e de criar regimes de excepção fiscal para os chamados contribuintes VIP. No caminho desta estrada de Damasco, o país ficou a saber que tem um alegado PM, Passos, que desconhecia que havia uma obrigatoriedade de as pessoas contribuírem para a segurança social, razão por que o próprio foi omisso durante anos a fio. E ainda é PM, pasme-se!!!

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Fisco trata pequenos e grandes contribuintes de forma diferente



Fisco trata pequenos e grandes contribuintes de forma diferente
FOTO ARQUIVO/GLOBAL IMAGENS
O pequeno contribuinte é tratado como um número

O trabalho da investigadora Ana Maria Evans, desenvolvido no âmbito de um estudo sobre "Valores, qualidade institucional e desenvolvimento em Portugal" que analisou o funcionamento e qualidade de seis instituições públicas e privadas, aponta para um hiato "entre o controlo apertado a que estão sujeitos os pequenos contribuintes e o tratamento mais tolerante dispensado às grandes empresas e às elites económicas".

Embora reconheça que a automatização dos cálculos e procedimentos de liquidação proporcionou "grande comodidade aos contribuintes que utilizam a plataforma eletrónica" das Finanças e reduziu os custos de contexto para a administração, a autora não deixa de comparar a máquina fiscal a um "rolo compressor" que penaliza os pequenos contribuintes.

"A proliferação de instrumentos sofisticados de controlo informático tem um impacto negativo sobre a equidade", sustenta Ana Maria Evans, sublinhando que "a administração é cada vez mais célere, controladora e eficaz na tributação dos pequenos contribuintes", mas que estes não dispõem de adequada defesa no caso de erros na tributação.

Ao contrário dos grandes contribuintes que "dispõem de recursos técnicos e financeiros para planear e reduzir a sua carga fiscal", apoiando-se numa indústria de consultoria fiscal que "proporciona aos seus clientes uma panóplia de instrumentos financeiros sofisticados e operações internacionais complexas que aproveitam omissões legais para evitar tributação".

A intransigência "relativamente ao cumprimento das obrigações fiscais pelo pequeno contribuinte resulta de uma combinação de fatores culturais, incentivos financeiros e limitações políticas", argumenta a investigadora, salientando que "prevalecem atitudes de desconfiança e a presunção de que o cidadão tenta evadir o fisco e, como tal, não tem razão quando protesta".

A desigualdade explica-se também pelas "omissões e cláusulas nas normas fiscais que ultrapassam a capacidade de intervenção da administração" e estão ligadas a escolhas políticas, com a aprovação de "reformas orgânicas e alterações substantivas em velocidade estonteante".

O estudo destaca ainda que "a elevada qualidade de atendimento" dos funcionários do Fisco não é correspondida pela "máquina" legislativa e os suportes informáticos: "o pequeno contribuinte -- e muito em particular o trabalhador por conta de outrem -- é tratado como um número; os processos e procedimentos que lhe dizem respeito são automatizados, com enorme eficácia e sem defesa em caso de erro, no contexto de um sistema judicial moroso".

A ausência de instrumentos que proporcionem uma defesa célere e imparcial às vítimas de erros "reproduz a perceção entre os cidadãos de uma administração que é injusta", autoritária e distante e "afeta a legitimidade da sua missão institucional".

Ana Maria Evans observa que a Autoridade Tributária "cumpre o seu mandato" no que diz respeito à sua capacidade de extrair recursos à população em geral, mas avalia negativamente a instituição devido à pressão fiscal desigual sobre os contribuintes.

"Há um desequilíbrio claro entre a rigidez de cumprimento imposta aos trabalhadores por contra de outrem, por um lado, e a proliferação de instrumentos sofisticados de planeamento e evasão fiscal por grandes contribuintes", apurou.

O trabalho, desenvolvido a pedido da Fundação Francisco Manuel dos Santos, baseou-se em informações recolhidas ao longo de um ano (entre 2012 e 2013) e foi coordenado pela professora da Universidade Nova de Lisboa Margarida Marques e pelo professor da Universidade de Princeton Alejandro Portes.


Entre outros dados, a análise de Ana Maria Evans baseou-se, em 170 horas de entrevistas concedidas por ex-dirigentes e funcionários de serviços de Finanças, ex-governantes, revisores e Técnicos Oficiais de Contas, fiscalistas e empresários.
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terça-feira

Vamos pagar para privatizar a TAP - por Nicolau Santos -


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Nota prévia: Este Governo, que representa um verdadeiro acidente aéreo na casa das máquinas em S. Bento, 24 sobre 24h. na miserável condição dos portugueses - cuja vida empobrece em impostos e má governação - procura libertar-se de todos os activos públicos para, assim, equilibrar as finanças públicas, não ter chatices laborais e transferir os custos de gestão duma empresa pública para as mãos de privados. Pura ilusão, só cultivada por verdadeiros ingénuos no Governo, a começar por Pires de Lima, que sabe tanto do sector aviónico como Passos Coelho de contribuições à Segurança Social ou Paulinho Portas acerca de submarinos... Basta ver e ouvir Pires de Lima 20 segundos para perceber que ele anda por ali a apanhar bonés... Mas a cota do CDS tinha de ser preenchida neste governo, e foi o melhor que se arranjou!!! Se calhar é a esta elevada preparação em recursos humanos - que Portas se referiu no outro dia, quando reportava que o partido do táxi tinha quadros de alto gabarito... 
- Não só o Estado terá de assumir um brutal passivo da empresa (como sublinha Pais do Amaral), se quer viabilizar o negócio, como acaba(rá) por perder a principal empresa-bandeira do país com valor estratégico para a economia nacional, em particular para o importante sector do turismo nacional. 
- Em vez de o Governo sanear a empresa, torná-la mais competitiva e elevar o seu valor de mercado a fim de vender uma parte do capital social (minoritário) da TAP - ficando o Estado com a maioria da sua estrutura accionista, este Governo, por ser miserável, acabará por vender o ouro, os dedos e ainda ficar refém dum empresário sem escrúpulos no sector da aviação comercial. 
- O que não é de surpreender num Governo de equivalente quilate. O que prova que os bons espíritos sempre se reencontram... No chão, ou no ar..e, claro, com a ajudinha mafiosa do dr. Miguel Relvas, um íntimo de Germán Efromovich, a quem passava todas as informações quando estava no Governo. Aliás, no Governo era esse o seu papel... 
- Em breve saberemos se Pais do Amaral tem razão. 
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Vamos pagar para privatizar a TAP

Na sua fúria privatizadora, que já mais que duplicou os 5000 milhões que estavam contemplados no memorando de entendimento com a troika, o Governo entrou agora num sprint alucinante para despachar para o setor privado tudo o que seja da esfera pública. Ora como se sabe, depressa e bem há pouco quem. No caso da TAP avolumam-se os indícios de que vai acabar mal.
Felizmente, não apareceu só uma proposta, como aquando da anterior tentativa de venda da transportadora aérea, mas três. Uma já caiu, a que era liderada por Miguel Pais do Amaral, a única que tinha algum toque nacional. As outras duas, a da Azul e da Avianca, falam brasileiro – e o mínimo que se pode dizer é que nas duas experiências anteriores em que estiveram envolvidos investidores brasileiros, Cimpor e PT, as coisas não correram nada bem.
Mas demos de barato que uma vez não são vezes e que agora a TAP ficará em boas mãos, qualquer que seja a escolha. De parecido as propostas falam num rápido reforço da frota e na reserva de uma percentagem de capital para os trabalhadores, para além, claro, de algum dinheiro que tem de ser investido rapidamente na companhia, dada a situação dramática porque passa a tesouraria da empresa. Será que basta?
Olhemos para a entrevista que o candidato já afastado deste processo, Miguel Pais do Amaral, deu ao Jornal de Negócios. Diz ele, entre outras coisas: «Aquilo que aconselha a experiência de privatizar uma empresa com estas características é que se deve sentar à mesa o vendedor, os credores, os trabalhadores e o comprador. O comprador não está disposto a passar um cheque sem garantir estabilidade laboral nem sem ter a garantia de que os credores estão de acordo com o plano e que eventualmente o vendedor assume alguma da dívida».
O COMPRADOR DA TAP VAI QUERER QUE O ESTADO ASSUMA PARTE DA DÍVIDA; QUE GARANTA QUE AS ATUAIS CONDIÇÕES DE FINANCIAMENTO NÃO SEJAM ONERADAS; E QUE OS CREDORES NÃO EXIJAM DE IMEDIATO AQUILO QUE TÊM A HAVER
E mais à frente: «É extraordinariamente difícil (cumprir o caderno de encargos). Não está previsto que o Estado assuma dívida, mas não sei se algum dos proponentes está disponível para ficar com a TAP sem que o Estado Assuma ou garanta uma parte. Este processo pode não chegar ao fim, atendendo a uma enorme pressão de tempo, à instabilidade laboral, à situação da empresa e à situação dos credores».
Pais do Amaral insiste várias vezes na mesma tecla: «Considero altamente provável (que o Estado tenha de assumir parte da dívida) para que a empresa seja privatizada»; «não há alternativa» (a que o Governo faça cedências)». E até estima o valor em causa: de 200 a 400 milhões – o que até parece pouco para os mil milhões que constam do passivo da empresa.
É claro que podemos desvalorizar tudo o que diz Pais do Amaral e levar as suas palavras à conta de dor de cotovelo. Mas um mínimo de experiência e de bom senso leva-nos a acreditar nisso mesmo: que o comprador vai querer que o Estado assuma parte da dívida; que garanta que a mudança de dono não leve a que os bancos que financiam a empresa onerem as condições de financiamento; e que os credores não exijam de imediato aquilo que têm a haver.
Por outras palavras, para vender a TAP antes das eleições legislativas, como pretende, o Governo vai ter que acabar por ceder nalgum ou nalguns destes pontos, sob pena de não conseguir cumprir a sua promessa. E ao fazê-lo é não só provável que o processo seja menos bem sucedido do que poderia ser se fosse executado com mais tempo, como que sobre alguma fatura para os do costume: os contribuintes. Entre 200 ou 400 milhões, como estima Pais do Amaral. Coisa pouca para quem está a pagar quase 5 mil milhões pelo BPN e irá pagar alguma coisa pelo BES.
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Konstantina Efthymiou, the Greek FinMin’s classy PR person (photos). Um novo ar helénico para a Europa farta de Varoufakis

Nota prévia: A razão tem razões que o coração desconhece...
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From English literature, to magazines, to jewelry… to politics!

EF


Her recruitment is nowhere to be found on the Diavgeia magazine that announces such appointments, but nonetheless she visits the Ministry of Finance on Nikis Street on a daily basis.
Efthymiou accompanies Varoufakis at all public appearances and it is her duty to introduce him to Very Important People that Varoufakis has not yet had the pleasure of meeting.
It still remains to be revealed how the Li-La-Lo spokeswoman came to be the one who cares for Varoufakis’ personal image at key – and often crucial – events, such as the recent meeting of the Federation of Greek Industries (FGI) at the Athens Concert Hall. To handle the minister’s image as though he were a “jewel” is indeed far-fetched. On Monday, however, Efthymiou cordially welcomed the minister and his wife, Danae Stratou, at the steps of the Athens Concert Hall, and she seemed to be particularly familiar with the minister’s wife.
The goodlooking woman could not help but draw the attention of journalists and photographers as she looked on. (..)
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Um laboratório de mentiras exercitado pelo pior PSD pós-Sá Carneiro




RICARDO GRAÇA / LUSA



Obs: NATURALMENTE, EXISTE UM PROBLEMA COM A SUSTENTABILIDADE DA SEGURANÇA SOCIAL, DESDE LOGO PORQUE O ALEGADO PM, PASSOS COELHO, RELAPSO, IMPREPARADO E HOMEM DE MÁ FÉ NÃO ASSUMIU AS SUAS CONTRIBUIÇÕES À SS ANOS A FIO, COMO SERIA SUPOSTO, PORTANTO SE HÁ RUPTURA NESTE RELEVANTE SISTEMA DE FINANCIAMENTO SOCIAL É UM RESULTADO DO COMPORTAMENTO DESVIANTE E ILEGAL DE PESSOAS DA ESTIRPE DE PASSOS COELHO, QUE NEM UM RETROSARIA DE BAIRRO DEVERIAM GERIR, QUANTO MAIS UM PAÍS; 
- POR OUTRO LADO, É SABIDO QUE O BRUTAL DESEMPREGO E O ELEVADO NÍVEL DE INSOLVÊNCIAS DE EMPRESAS FAZ COM QUE OS DESCONTOS PARA AQUELE SISTEMA DE FINANCIAMENTO SOCIAL SEJA CADA VEZ MAIS DIMINUTO, POIS AO NÃO CONTRIBUÍREM - POR VIA DOS DESCONTOS E DOS IMPOSTOS - O SISTEMA TENDE A RUIR;
- uMA 3ª RAZÃO DESSA FALÊNCIA DECORRE DA TAXA DE NATALIDADE REGRESSIVA QUE TEMOS, EM RESULTADO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - SOCIAIS E ECONÓMICAS - CRIMINOSAS IMPLEMENTADAS PELO XIX GOVERNO (IN)CONSTITUCIONAL QUE CONDUZIRAM OS PORTUGUESES À EMIGRAÇÃO COMPULSIVA E A NÃO TEREM FILHOS;
- EM SUMA E DE FORMA ALGO TOSCA, EM LINHA COM O CALIBRE DA DESGOVERNAÇÃO QUE PORTUGAL CONHECE E AS TIRADAS DESTA BUROCRATA - NA IMAGEM SUPRA - ILUSTRAM - TEMOS UM QUADRO NEGRO QUE SINTETIZA EFICIENTEMENTE AS CONSEQUÊNCIAS - PARA O PAÍS E PARA OS PORTUGUESES - DE TEREM ELEITO O ESTAROLA DE MASSAMÁ PARA S. BENTO. 
- PIOR DO QUE ISTO, SÓ MAIS D´ISTO!!!

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segunda-feira

Carta em que Fernando Pessoa esclarece a origem de seus heterônimos - a Adolfo Casais Monteiro -

Nota prévia: À data do seu falecimento, importa sublinhar, Fernando Pessoa é um completo desconhecido para o grande público. Hoje é o mais português e o mais universal dos nosso poetas e um dos nomes maiores de sempre na Literatura Portuguesa a par de Camões, ou mesmo ultrapassando-o. Traduzido em todo o mundo, objecto de culto elevado à escala global, erigido a mito. É, hoje, talvez, o maior activo cultural nacional. 

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Carta em que Fernando Pessoa esclarece a origem de seus heterônimos

“Meu prezado Camarada:
Muito agradeço a sua carta, a que vou responder imediata e integralmente. Antes de, propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia. Acabou-se-me o decente, é domingo, e não posso arranjar outro. Mas mais vale, creio, o mau papel que o adiamento.
Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que nunca eu veria «outras razões» em qualquer coisa que escrevesse, discordando, a meu respeito. Sou um dos poucos poetas portugueses que não decretou a sua própria infalibilidade, nem toma qualquer crítica, que se lhe faça, como um acto de lesa-divindade. Além disso, quaisquer que sejam os meus defeitos mentais, é nula em mim a tendência para a mania da perseguição. À parte isso, conheço já suficientemente a sua independência mental, que, se me é permitido dizê-lo, muito aprovo e louvo. Nunca me propus ser Mestre ou Chefe-Mestre, porque não sei ensinar, nem sei se teria que ensinar; Chefe, porque nem sei estrelar ovos. Não se preocupe, pois, em qualquer ocasião, com o que tenha que dizer a meu respeito. Não procuro caves nos andares nobres.
Concordo absolutamente consigo em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz com um livro da natureza de «Mensagem». Sou, de facto, um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras coisas. E essas coisas, pela mesma natureza do livro, a «Mensagem» não as inclui.
Comecei por esse livro as minhas publicações pela simples razão de que foi o primeiro livro que consegui, não sei porquê, ter organizado e pronto. Como estava pronto, incitaram-me a que o publicasse: acedi. Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prémio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior. O meu livro estava pronto em Setembro, e eu julgava, até, que não poderia concorrer ao prémio, pois ignorava que o prazo para entrega dos livros, que primitivamente fora até fim de Julho, fora alargado até ao fim de Outubro. Como, porém, em fim de Outubro já havia exemplares prontos da «Mensagem», fiz entrega dos que o Secretariado exigia. O livro estava exactamente nas condições (nacionalismo) de concorrer. Concorri.
Quando às vezes pensava na ordem de uma futura publicação de obras minhas, nunca um livro do género de «Mensagem» figurava em número um. Hesitava entre se deveria começar por um livro de versos grande — um livro de umas 350 páginas — , englobando as várias subpersonalidades de Fernando Pessoa ele mesmo, ou se deveria abrir com uma novela policiária, que ainda não consegui completar.
Concordo consigo, disse, em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz, com a publicação de «Mensagem». Mas concordo com os factos que foi a melhor estreia que eu poderia fazer. Precisamente porque essa faceta — em certo modo secundária — da minha personalidade não tinha nunca sido suficientemente manifestada nas minhas colaborações em revistas (excepto no caso do Mar Português parte deste mesmo livro) — precisamente por isso convinha que ela aparecesse, e que aparecesse agora. Coincidiu, sem que eu o planeasse ou o premeditasse (sou incapaz de premeditação prática), com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional. O que fiz por acaso e se completou por conversa, fora exactamente talhado, com Esquadria e Compasso, pelo Grande Arquitecto.
(Interrompo. Não estou doido nem bêbado. Estou, porém, escrevendo directamente, tão depressa quanto a máquina mo permite, e vou-me servindo das expressões que me ocorrem, sem olhar a que literatura haja nelas. Suponha — e fará bem em supor, porque é verdade — que estou simplesmente falando consigo).
Respondo agora directamente às suas três perguntas: (1) plano futuro da publicação das minhas obras, (2) génese dos meus heterónimos, e (3) ocultismo.
Feita, nas condições que lhe indiquei, a publicação da «Mensagem» , que é uma manifestação unilateral, tenciono prosseguir da seguinte maneira. Estou agora completando uma versão inteiramente remodelada do Banqueiro Anarquista, essa deve estar pronta em breve e conto, desde que esteja pronta, publicá-la imediatamente. Se assim fizer, traduzo imediatamente esse escrito para inglês, e vou ver se o posso publicar em Inglaterra. Tal qual deve ficar, tem probabilidades europeias. (Não tome esta frase no sentido de Prémio Nobel imanente). Depois — e agora respondo propriamente à sua pergunta, que se reporta a poesia — tenciono, durante o verão, reunir o tal grande volume dos poemas pequenos do Fernando Pessoa ele mesmo, e ver se o consigo publicar em fins do ano em que estamos. Será esse o volume que o Casais Monteiro espera, e é esse que eu mesmo desejo que se faça. Esse, então, será as facetas todas, excepto a nacionalista, que «Mensagem» já manifestou.
Referi-me, como viu, ao Fernando Pessoa só. Não penso nada do Caeiro, do Ricardo Reis ou do Álvaro de Campos. Nada disso poderei fazer, no sentido de publicar, excepto quando (ver mais acima) me for dado o Prémio Nobel. E contudo — penso-o com tristeza — pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!
Creio que respondi à sua primeira pergunta.
Se fui omisso, diga em quê. Se puder responder, responderei. Mais planos não tenho, por enquanto. E, sabendo eu o que são e em que dão os meus planos, é caso para dizer, Graças a Deus!
Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente.
Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriarmente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo — os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas — cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia…
Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já me não lembro — os que jazem perdidos no passado remoto da minha infância quase esquecida.
Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos). Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar.
Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente — um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era, não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida — ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.
Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura — cara, estatura, traje e gesto — imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto vejo… E tenho saudades deles.
(Em eu começando a falar — e escrever à máquina é para mim falar — , custa-me a encontrar o travão. Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou entrar na génese dos meus heterónimos literários, que é, afinal, o que V. quer saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu à luz).
Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis).
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.
Quando foi da publicação de «Orpheu», foi preciso, à última hora, arranjar qualquer coisa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «antigo» do Álvaro de Campos — um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o Opiário, em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive que desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro em botão…
Creio que lhe expliquei a origem dos meus heterónimos. Se há porém qualquer ponto em que precisa de um esclarecimento mais lúcido — estou escrevendo depressa, e quando escrevo depressa não sou muito lúcido — , diga, que de bom grado lho darei. E, é verdade, um complemento verdadeiro e histérico: ao escrever certos passos das Notas para recordação do meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos, tenho chorado lágrimas verdadeiras. É para que saiba com quem está lidando, meu caro Casais Monteiro!
Mais uns apontamentos nesta matéria… Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos — o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma — só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
Como escrevo em nome desses três?… Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis — ainda inédita — ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso).
Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.
Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo (escreveu o poeta). Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Extrema do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente — o que é facto — que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1881. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a ordem) trechos de Rituais que estão em trabalho.
Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.
Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.

Fernando Pessoa
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