terça-feira

Votos de um Tempo Novo promissor



Votos de um Tempo Novo promissor:

- Escravos e obedientes a um calendário que nos é imposto por uma convenção do tempo - que nos dita o ritmo a que devemos andar - lá vamos transitando do tempo velho para o tempo novo. É nessa transição, feita de múltiplos presentes, que julgamos migrar para um qualquer estádio que ainda não existe, mas que supomos ser um futuro promissor. 

- Que o seja para todos.

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Crise de confiança no Estado e nas instituições

Assalto em Gondomar que valeu mais de 1 milhão de € (link)

Se tivesse que eleger um facto revelador da desconfiança das pessoas no Estado, nas suas instituições, nas suas leis e práticas fiscais seria o caso relacionado com o assalto ao idoso de Gondomar, que ganhou a vida a trabalhar como emigrante, e que guardava num cofre, situado na fossa de sua casa - entre dinheiro e valores - mais de um milhão de euros. 

Dinheiro que acabou por retirar do banco, com medo de o Estado, com a crónica instabilidade fiscal e a lamentável inconstância na formulação e aplicação das leis fiscais, o tributasse sobremaneira atingindo, assim, os juros expectáveis das suas poupanças. Como este cidadão não confiava no Estado retirou o dinheiro do banco para o guardar em casa, e depois aconteceu-lhe o pior. Foi assaltado na sua própria casa, presume-se que por um familiar que conhecia os hábitos e o local onde o titular guardava o dinheiro e os valores. 

Afinal, o que distingue o pensamento e o comportamento deste aforrador daquilo que cada um de nós pensa sobre o assunto? 

O que distingue este velho emigrante - porventura saído de Portugal na década de 60 do séc. XX - dos novos emigrantes - que se dirigem para a Europa (e outros destinos) para aí refazerem as suas vidas?

Enquanto que o idoso de Gondomar enviava remessas para Portugal, criando aqui as suas poupanças e acumulando os respectivos juros; os novos emigrantes portugueses já não enviam remessas para o seu país de origem, o mesmo que os expulsou, ou, pelo menos, não criou condições de trabalho e de bem-estar mínimas para que ficassem e por cá reorganizassem as suas vidas. Além, naturalmente, de a estrutura da formação curricular ser distinta entre essas duas categorias de emigrantes: os não qualificados vs qualificados. 

Contudo, o essencial reside na atitude perante o país de origem, pois enquanto que nos velhos emigrantes permaneceu uma certa ideia de pátria, de ligação umbilical à origem e às raízes que fazia com que as poupanças decorrentes dos esforços e do rendimento do trabalho desses emigrante regressassem ao país; os novos emigrantes já não têm noção de pátria e as suas raízes estão onde forem construídas as novas bases de trabalho, de família e de bem-estar.  

Os velhos emigrantes estão, apesar de tudo, agradecidos ao seu país que os viu partir e lhes negou, então, o direito à permanência entre os seus familiares e amigos; os novos emigrantes, ao invés, sentem um profundo desprezo pelas elites políticas que desenvolveram estratégias conducentes à emigração compulsiva, alguns desses titulares de cargos governamentais, lamentavelmente, até fizeram apelos públicos à emigração. Entre uns e outros há um mundo de diferenças, de percepções, de formações e qualificações e de background - e de projecto de vida no seu conjunto. 


Os novos emigrantes são, ou pretendem ser, cidadãos do mundo, cosmopolitas, pessoas que gostam de viajar e de conhecer mundo; os velhos emigrantes actuam como o idoso de Gondomar, tiram as poupanças do banco julgando, desse modo, que o dinheiro ficaria mais seguro em casa, e sem o pagamento de juros. Pois dessa forma, o Estado já não estaria em posição de o taxar e de lhe comer parte das suas poupanças em resultado do conhecido arbítrio fiscal em Portugal, mormente nos últimos dois anos de governação do XIX Governo (in)Constitucional - em que vale tudo neste sistema fiscal verdadeiramente confiscatório.

Esta estória, lamentavelmente para o visado que assim fica sem poupanças (e sem os juros - a que teria direito se tivesse deixado o dinheiro aplicado no banco) é sintomática da desconfiança reinante entre o cidadão e o Estado - que faz leis abusivas e de carácter confiscatório para compensar o Estado de erros grosseiros de políticas públicas, gestão ruinosa, corrupção e pura incompetência que, nas últimas décadas, atingiram gravemente a economia nacional e a tornaram dependente da troika - cuja entrada em Portugal foi precipitada pelo PSD e o CDS ao chumbarem o PEC-IV, quando fizeram cair o Governo anterior. Tudo com a cumplicidade de Belém. 

Em rigor, e como nota final, creio que a generalidade dos portugueses não pensa de modo distinto da do cidadão de Gondomar, pois se pudessem, e como forma de nos subtrairmos aos impostos brutais aplicados pelo Estado - todos e cada um de nós agiria exactamente como aquele emigrante. 

Porventura, a única diferença é que ele tinha o dinheiro e os valores naquele montante, coisa que a generalidade dos portugueses não dispõe, ainda que seja possível admitir, em tese, que em cada família há sempre um "amigo" (familiar ou não) mais zeloso capaz de ser "amigo do alheio". 


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Lisboa reforça contentores de obras na greve de recolha do lixo


Lisboa reforça contentores de obras na greve de recolha do lixo


A autarquia alfacinha aumentou, entretanto, para 52 o numero de contentores de obras espalhados por toda a capital portuguesa para que as pessoas depositem neles o lixo que não conseguem manter em casa.
Continua a amontoar-se o lixo nas ruas de Lisboa, em resultado da greve dos cantoneiros contra a privatização
de serviços pelo município liderado por António Costa e à transferência de competências, nomeadamente a 
limpeza e recolha do lixo, para as Juntas de Freguesia.
A autarquia alfacinha aumentou, entretanto, para 52 o numero de contentores de obras espalhados por toda a
capital portuguesa para que as pessoas depositem neles o lixo que não conseguem manter em casa
A Direção-Geral de Saúde reforçou também os apelos para que se evite colocar o lixo na via pública.
A greve dos profissionais de recolha do lixo em Lisboa começou a 24 de dezembro e está previsto terminar a
cinco de janeiro.
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Obs: Sem querer misturar o lixo acumulado na capital com a política, por vezes sinónimos, diria que este pode ser 
um indicador fiável de que o edil - além de não querer negociar com os sindicatos do sector por estar investido
 de um mandato reforçado e com legitimidade política própria - pensa seriamente em Belém, afastada que
está a hipótese de vir a suceder a Seguro na liderança do PS antes das próximas eleições legislativas. 
Seja como for, a ideia dos contentores é uma ideia de "verdadeiros iluminados" que só vem subtrair ainda mais
espaço para pessoas e viaturas circularem na capital. 
O que é curioso é que certos episódios derivados da actividade política autárquica essencial acabam por
denunciar putativas intenções políticas de um autarca com ambições políticas nacionais (legítimas). 
O que é revelador do tempo anormal em que vivemos. Um tempo que faz do lixo um revelador de intenções. 

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O imposto patriótico sobre os ricos


O Conselho Constitucional não foi tão patriótico e chumbou a primeira versão da lei, por considerar que qualquer taxa acima de 66% seria confiscatória. Hollande reformulou entretanto o imposto e obteve esta semana luz verde para avançar com uma tributação de 50% nos salários superiores a um milhão o que, combinado com outros impostos e contribuições, eleva para 75% a taxa paga pelos mais ricos.
A ideia de taxar os mais ricos para moralizar a austeridade não é uma originalidade francesa. Em Portugal, por exemplo, foi aplicada uma taxa de solidariedade de 5% para rendimentos acima dos 250 mil euros, o que somado à sobretaxa e à taxa marginal eleva até aos 56,5% o imposto aos mais ricos.
Faz sentido pedir mais aos mais ricos em tempos de crise. Há alturas em que a progressividade dos impostos não chega para se ter uma redistribuição justa da riqueza. E, nessas alturas, a solidariedade tem de passar por um conceito de proporcionalidade e não tanto de progressividade. Mas esta discussão deixa de fazer sentido quando se tributa rendimentos do trabalho (por mais altos que sejam) e se deixa de fora dividendos, juros ou mais-valias. E quando se ouve pessoas, como o próprio Hollande, dizerem que não gostam de ricos. Nesse caso, o imposto deixa de ser solidário e passa a ser punitivo.
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Obs: Como diria o ex-deputado do cds, joão almeida, agora elevado a secretário de Estado da AI, certamente pelos serviços reconhecidos prestados ao partido do Caldas, o povo obriga-nos  a mentir.

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Como Portugal evoluiu nos últimos 40 anos

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A ÉPOCA FESTIVA




A ÉPOCA FESTIVA

Passos Coelho disse esta semana que devido ás dificuldades económicas apenas teve dinheiro para comprar prenda de natal a uma das filhas.

Cavaco Silva, por sua vez, também sabemos que vive com dificuldades (apesar das suas "poupanças") ... 

São apenas 2 exemplos ...

... no entanto não nos parece que esta Sra.
pertença à dominante classe política portuguesa.

O pior ainda está para vir ...

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Obs: Dedicada a todos os agentes políticos (medíocres) que têm feito deste Portugal um lugar pobre e mal frequentado. 

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segunda-feira

Erupção de vulcão em El Salvador deixa país em alerta laranja



Vista do vulcão Chaparrastique, em San Miguel, El Salvador (Foto: AFP Photo/ Hector Garay - Telenoticias 21)Vista do vulcão Chaparrastique, em San Miguel, El Salvador (Foto: AFP Photo/ Hector Garay - Telenoticias 21)
As autoridades de El Salvador declararam neste domingo (29) dois níveis de alerta, um regional e outro nacional, e retiraram os moradores de um raio de três quilômetros do vulcão, por causa da primeira erupção em 37 anos do vulcão Chaparrastique, que lançou cinzas no leste do país.
O diretor de Defesa Civil, Jorge Meléndez, informou que foi declarado alerta laranja, de alto risco, no estado de San Miguel, onde fica o vulcão, e em outras regiões limítrofes, e alerta amarelo, preventivo, em todo o país.
Com base no alerta laranja, Defesa Civil ordenou a evacuação dos habitantes em um perímetro de três quilômetros do vulcão, explicou Meléndez.
O alerta amarelo significa que o Sistema Nacional de Defesa Civil, integrado por diferentes instituições estatais, e as comissões estaduais e municipais de emergência, devem ser ativadas diante de qualquer eventualidade.
A erupção aconteceu com um estrondo às 10h32 (14h32 em Brasília), com emanações de cinza e gases que formaram uma grande nuvem que cobriu amplas áreas do país, alcançando entre cinco e 10 quilômetros de altura, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais (ARN).
Meléndez apontou que a cinza se expandiu por várias zonas do leste de El Salvador e que os especialistas preveem que "possa alcançar até Tegucigalpa, em Honduras", ao norte do território salvadorenho.
Ele acrescentou que, embora "não haja lançamento de magma, há presença de certa quantidade de lava" em um setor da cratera do vulcão.
A imprensa local afirmou que cerca de duas mil pessoas já foram evacuadas dos arredores do vulcão e que muitos moradores abandonaram seus lares voluntariamente.
O prefeito de San Miguel, Wilfredo Salgado, declarou ao Canal 19 de televisão de San Salvador que "muitíssima" gente vive nas cercanias do Chaparrastique, e que "não são menos de oito mil a dez mil famílias só na parte da montante" do vulcão.
Meléndez ressaltou que "dezenas de milhares de pessoas" vivem na zona de três quilômetros ao redor do vulcão, dada a alta densidade populacional do país, e considerou que "possivelmente" não sejam evacuadas todas.
As autoridades confirmaram que por enquanto não foram registradas vítimas fatais nem graves danos materiais por causa da erupção.
Moradores disseram à imprensa local que as cinzas expelidas pelo vulcão se acumulam nas ruas, casas, edifícios ou árvores, e obscureceram parcialmente a cidade de San Miguel e arredores, além do forte cheiro de enxofre.
O Chaparrastique tem 2.130 metros de altura em relação ao nível do mar e sua última erupção aconteceu em 1976, segundo dados do MARN, que mantém uma vigilância permanente dos oito vulcões do país
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Obs: Um dos problemas deste tipo de evento extremo decorre da projecção de lava ardente, que cobre imediatamente os locais onde ocorre com uma nuvem de gás e de poeiras incandescentes que asfixia e queima quase todos os habitantes. 
Os "vulcões assassinos" eclodem porque, na verdade, sob a crusta terrestre, o alto nível das temperaturas e das pressões, mantém as rochas em fusão. E quando este magma jorra para a superfície, sob a forma de erupções vulcânicas, os habitantes da região afectada vivem frequentemente um pesadelo. Quando este fenómeno natural acontece os jardins, as ruas, as lojas, as casas, os parques.., nada resiste ao inferno. 
Os vidros fundem-se antes de os caixilhos saltarem; paredes com mais de um metro de espessura desmoronam-se subitamente; as estátuas que pesam várias toneladas caem dos seus pedestais.
A vida vira um inferno. 

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domingo

2014, o combate pelas palavras - por José Pacheco Pereira -


2014, o combate pelas palavras

Propaganda e razão vão estar de lados opostos, manipulação e vontade de verdade (concessão aos que a palavra verdade de per si ofende) vão-se defrontar, como sempre, de forma imperfeita e desigual. Do lado do poder todos os recursos serão utilizados, “comunicação política”, agências de comunicação, assessores, briefings e ministros da propaganda, marketing e “eventos” (tenho a certeza que Portas já pensa num “evento” grandioso e patriótico para festejar a “saída” da troika, por singular coincidência a dias das eleições europeias…).
Esse combate irá travar-se numa parte decisiva na comunicação social, em primeiro lugar na televisão, depois nas “redes sociais” e nos blogues e por fim na imprensa escrita. Alguns jornalistas ficam muito irritados quando afirmo (e vou repetir) que um dos problemas dos dias de hoje na vida pública em Portugal é a facilidade com que a comunicação social absorve a linguagem do poder e a reproduz como sendo sua, assim legitimando-a porque lhe dá um sujeito neutro, tornando-a uma verdade universal. Este processo não é simples, não se trata de estar “a favor” ou “contra” o Governo, nem sequer de actuar em função de preferências ou hostilidade partidárias, porque se fosse assim seria mais fácil identificar o que se passa.
Há um papel importante para os gostos e os ódios pessoais, mas isso faz parte do meio jornalístico desde sempre. O hábito é ajustar contas em função das simpatias ou antipatias pessoais entre jornalistas, políticos e outras personagens do espaço público, muito mais eficaz como explicação do que as simpatias partidárias. A promiscuidade entre jornalistas e “fontes”, a troca de favores e cumplicidades, as amizades e os amores, as vinganças e elogios interessados passam-se de modo subterrâneo, mas explicam muito da atitude de jornalistas face aos detentores do poder político, actual ou passado. Ora pouca gente cultiva mais a sua relação com os jornalistas do que os grupos dirigentes das “jotas” dos partidos, seja do PS ou do PSD, cuja proximidade social, cultural, de mentalidade e modo de vida, é quase total, e cuja partilha geracional de vocabulário (escasso), fragmentos de ideias, mitos e (in)experiências é igualmente comum.
Muitas vezes estas empatias têm a ver com o bem escasso da “influência” e os conflitos pela capacidade de a ter, outras vezes é inveja por ganhos e recursos. O problema é que, sendo esta uma explicação importante para muito do que se publica e se diz, ainda por cima em meios muito pequenos, que comunicam entre si, e onde está sempre alguém no lugar pretendido por outrem, ela é invisível para a comunidade dos consumidores dos media, que desconhecem muitos dos meandros que estão atrás dos bastidores. Explicava muita coisa, como se percebeu quando do “caso Relvas”, mas é na maioria dos casos impossível de usar.
Há cada vez mais jornalistas e jornalistas-comentadores mais próximos do poder, partilhando do mesmo pensamento de fundo associado ao “ajustamento”, embora possam discordar e algumas vezes serem até agressivos na crítica a aspectos de detalhe da governação. O problema é que a concordância de fundo é muito mais importante do que a discordância no detalhe e o núcleo central de legitimação do poder permanece intocável.
A mentalidade adversarial da comunicação social, já em si mesmo uma fragilidade, deu lugar a uma enorme complacência com o poder. Uma das razões desta proximidade de fundo tem a ver com o papel cada vez mais destacado da imprensa económica em tempos em que a “crise” é dominantemente explicada apenas pelas suas variantes económicas. O predomínio da economia levou a um avolumar do “economês”, uma variante degradada quer da economia, quer da política. E esse “economês” favorece os argumentos de “divisão” que têm tido muito sucesso no discurso público, fragilizando, no conflito social, umas partes contra as outras. Este discurso da divisão é uma novidade desta crise e uma das principais vantagens da linguagem do poder.
Colocar novos contra velhos, empregados contra desempregados, trabalhadores privados contra funcionários públicos, reformados da Segurança Social contra pensionistas da CGA, sindicalizados contra “trabalhadores”, grevistas contra a “população”, e muitas outras variantes das mesmas dicotomias, tem tido um papel central no discurso governamental, que encontra na “equidade” um dos mais fortes elementos de legitimação. Se se parar para pensar, fora dos quadros das “evidências” interessadas, verifica-se até que ponto uma espécie de neomalthusianismo grosseiro reduz todas estas dicotomias a inevitabilidades a projecções sobre o “futuro” muito simplistas e reducionistas e que recusam muitos outros factores que deviam entrar na avaliação dessa coisa mais que improvável que é o “futuro”. À substituição da política em democracia, com o seu complexo processo de expectativas e avaliações, traduzidas pelo voto, ameaçando, como dizem os “ajustadores”, pela “politiquice”, ou seja, as eleições, a “sustentabilidade” das soluções perfeitas de 15 ou 20 anos de “austeridade”, soma-se a completa falta de pensamento sobre o modo como as sociedades funcionam, que o “economês”, que é má economia, não compreende.
A redução das análises correntes a este “economês”, sem política democrática, nem sociedade, revela-se num fenómeno recente que é a proliferação de livros de jornalistas com as receitas para salvar o país, quase todos sucessos editoriais. Eles mostram a interiorização profunda, em muitos casos prosélita, noutros mais moderada, da linguagem, explicações, legitimações, amigos e adversários, proto-história e factos seleccionados, do discurso do poder sobre a crise. A isso acrescentam propostas em muitos casos inviáveis em democracia e num Estado de direito, e cuja eficácia, mesmo nos seus termos, está por demonstrar.
Esses livros favorecem a ideia de que o “vale-tudo” que está por detrás da continuada sucessão de legislação inconstitucional do Governo poderia ser a solução ideal “para Portugal”, que infelizmente é “proibida” ou pela “resistência corporativa” dos interesses ou por entidades como o Tribunal Constitucional, ou mesmo pela “ignorância” e impreparação da opinião pública. Escreve-se como se não houvesse interesses legítimos que o Estado de direito acautela, ou práticas brutais de transferência de rendimentos e recursos, que tem sempre quem ganha e quem perde, cujos efeitos na conflitualidade social tornam por si próprio insustentável a sua manutenção. São de um modo geral muito complacentes com os de “cima” e muito críticos dos de “baixo”, e dão pouca importância aos efeitos de exclusão e diferenciação social que as suas políticas propõem, mas, acima de tudo, ignoram sistematicamente que elas falham no essencial, ou seja, que são ineficazes para os objectivos pretendidos.
A solução é, em vez de mudar as políticas, acrescentar-lhes mais tempo e é por isso que o coro da “austeridade” para décadas é cada vez maior e será ruidoso depois da troika mandar aterrando cá, para mandar a partir de Bruxelas. Aliás, será um interessante exercício ver o que nos diziam em 2011, sobre os resultados que já se deveriam ver em 2012, e o milagre de uma economia pujante “libertada do Estado”, já em 2013, e que agora é de novo prometida em 2014. Se diminuíssemos a dívida e défice em função das “intenções proclamadas” para o ano seguinte, já estávamos a cumprir o Pacto Orçamental.
Alguns jornalistas sabem que é assim, que a linguagem do poder se estabeleceu de forma acrítica na comunicação social, e aqui e ali tentam funcionar a contracorrente. Mas as redacções estão muito degradadas, com meios muito escassos, o trabalho precário, barato ou quase gratuito, pouco qualificado, prolifera e o emprego está sempre em risco, pelo que a prudência exige muita contenção. Por outro lado, o papel crescente da “comunicação” profissionalizada, a que Governo e empresa, recorrem cada vez mais, exerce uma pressão considerável no produto final da comunicação social, em particular na informação económica. A isto se junta o proselitismo na Rede, nos blogues e no Facebook, nos comentários anónimos, às claras ou em operações “negras” de assessores militantes e amigos dos partidos do Governo, à procura de um lugar ao sol, ao exemplo do que um destes operacionais revelou recentemente numa entrevista à Visão.
Por isso, neste combate pelas palavras de 2014, o Governo parte em vantagem, não porque tenha razão, mas porque tem mais meios e, pior ainda, conta com a força que num país pequeno, fragilizado, com uma classe média empobrecida, com uma opinião pública débil, tem o discurso que vem do lado do poder. Já acontecia com Sócrates, acontece com Passos Coelho.
Historiador
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Obs: Quando coloca de parte o seu sectarismo pessoal e ideológico a dimensão de historiador em JPP avulta, e quando isso acontece temos eficientes fragmentos de história política e social contemporânea acerca do que são as relações políticas com os jornalistas (e da sua crónica promiscuidade), e a interacção de ambos com a democracia de massas do nosso  tempo. Um tempo feito de degradação crescente entre aqueles actores, no fundo os representantes da democracia representativa, da democracia de opinião e da democracia participativa - que encontra nos eleitorados os destinatários finais das mensagens dos dirigentes políticos e dos opinadores. 
O ano de 2014 vai ser, seguramente, um tempo difícil e de mar revolto. Veremos se morre alguém nessa tempestade em gestação. 

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Passos Coelho e os números

O alegado primeiro ministro revelou, em plena noite de Natal, que não respeita os números nem a verdade. 

Muito menos respeita a verdade dos números.

Um actor político que recorre a este tipo de expedientes não deve desempenhar funções desta responsabilidade. Devia sair ou ser demitido. 

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sábado

Lixo em Lisboa - por Luís Meneses Leitão

lIXO EM LISBOA, Syntagma

SÁBADO, 28.12.13

Só há uma função absolutamente imprescindível a uma Câmara Municipal: é tratar da higiene urbana, onde se inclui obviamente a recolha diária do lixo. No entanto, António Costa, que sempre encarou a gestão da Câmara como um trampolim para outras funções, acha naturalmente que a recolha do lixo é demasiado prosaica para ser uma função camarária, decidindo por isso atirá-la para as juntas de freguesia. Os trabalhadores da recolha do lixo é que obviamente não gostaram de serem assim atirados às juntas, pelo que decidiram fazer greve. Essa greve está a ter um impacto tal que hoje, dia 28 de Dezembro, o lixo acumula-se nas ruas de tal forma que praticamente não se pode circular. O que faz, no entanto, António Costa? Pede aos lisboetas candidadamente que esperem até 10 de Janeiro, altura em que conta ter o problema resolvido. E entretanto propõe-se colocar contentores de obras nas ruas, como se um contentor tivesse algum efeito prático perante o lixo já acumulado. Conclui-se assim que Lisboa vai ficar por mais 13 dias a ter o lixo a acumular-se nas ruas, com os inúmeros problemas inclusivamente de saúde que isto acarreta. No dia 10 de Janeiro a maioria dos lisboetas já nem deve conseguir sair de casa, tal o lixo em frente das portas. Resta-lhes apenas o consolo de estarem a contribuir para a glória da reforma autárquica imaginada pelo Senhor Presidente da Câmara. Esta pode traduzir-se por um slogan: "o lixo às freguesias — e se for preciso aos munícipes — rapidamente e em força".
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Obs: Envie-se xerox para o dr. Costa, que anda, manifestamente, a perder qualidades políticas porque pensa mais nele do que no bem comum dos munícipes que seria suposto defender. 
O edil não pode congelar o tempo em função da sua agenda eleitoral pessoal, deve, sim, ser flexível e negociar com os seus interlocutores, mas num tempo tal que evite a ocorrência de situações críticas de saúde pública decorrentes do lixo acumulado nas ruas e edifícios de habitação na capital. 
Lisboa converteu-se numa espécie de Corno d´Africa nestes últimos dias. 
Lisboa está imunda. 

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A montanha pariu um rato

Célula da NSA e da CIA opera em Portugal

As agências de espionagem norte-americanas têm 80 escritórios espalhados pelo mundo, 19 dos quais na Europa, segundo o ex-espião da NSA, Edward Snowden.
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Obs: Um país que na II Guerra Mundial era o principal entreposto da espionagem internacional e, hoje, está no carrefour das relações transantlânticas é de supor de tenha células nesses países para recolha e tratamento de informação. 

A novidade radica na surpresa dessa banalidade, o que prova que ainda nos surpreendemos com estórias de lana caprina. 

Afinal, os oceanos estão repletos d´água e os desertos povoados d´areia, e cobras invisíveis. 

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Marques Mendes é o porta-voz oficioso de Marcelo a Belém


Marques Mendes posicionou-se hoje como o novo porta-voz não oficial de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém. O analista ocupa mais de 2/3 do seu tempo de antena a criticar as políticas do XIX Governo (in)Constitucional bem como muitos dos seus actores, mas entende, paradoxalmente, que são todos muito rigorosos e competentes (!?) 

Entende, por outro lado, que o primeiro ministro mistificou os números do desemprego em Portugal na sua mensagem de Natal, e depois tece considerações acerca do rigor de Passos Coelho. Não se compreende tanta cambalhota analítica. 

Afinal, [a] quem serve Mendes com as suas mestelas analíticas?!

Marques Mendes é norte e sul no mesmo trajecto, é  black & white, quer, no fundo, agradar a gregos e a troianos. Revela escassa coerência analítica, denota parcialidade e fraca sustentabilidade nas suas apreciações e, por todas essas razões, denuncia uma agenda pessoal mais ou menos oculta que serve para apoiar/lançar candidatos a Belém -  posicionando-se, ele próprio, nessas proposituras mais ou menos dissimuladas.

Será que Marcelo o autorizou a dizer o que disse, ou pediu-lhe expressamente que o fizesse!?

Entrámos no jogo de espelhos pré-eleitoral a um ano e meio de distância do acto. 

Seja como for, acho que fica mal ao comentadeiro identificar uma falácia grave debitada pelo primeiro ministro na noite de Natal, que afecta tanta gente, e, acto contínuo, referir (ou sugerir) que se trata dum homem rigoroso.

Provavelmente, o rigor a que Marques Mendes se reporta é o mesmo rigor que levou Gaspar a demitir-se por ter reconhecido que estava a rebentar a economia nacional e a implodir a sociedade portuguesa. 

Em suma: Marques Mendes integra aquela categoria de "ex-futuros" cavaquistas que não tem emenda. E, pior, vai para a televisão de Balsemão, sócio fundador n.º 1 do PSD, denunciar em directo essas suas mazelas analíticas que espelham uma lamentável inconsistência. 

Não admira que Coelho não o tenha convidado para o Governo, mas se o fizesse estaria em linha com o conjunto da sua acção, pois estão bem uns para os outros. 

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Série de avalanches mata cinco pessoas nos Alpes



Turistas são aconselhados a manterem-se dentro das zonas delimitadas das montanhas JEAN-PIERRE CLATOT/AFP

Os mais recentes acidentes mortais ocorreram perto das estâncias de Courchevel, Serre-Chevalier e La Plagne, nos Alpes franceses. Um montanhês de 50 anos, que tentava chegar a um albergue com o filho, foi morto pela avalanche de Courchevel. Em Serre-Chevalier, a vítima foi um jovem com idade entre os 15 e os 20 anos, que morreu já no hospital após ter sido resgatado de debaixo da neve. Um outro adolescente, de 18 anos, morreu em La Plagne.
Do lado suíço da fronteira, onde tem caído muita neve nos últimos dias, duas avalanches provocaram uma vítima mortal em St. Moritz e uma outra a sul de Realp, no cantão de Uri. As equipas de resgate não conseguem chegar até esta segunda vítima, que se acredita ser um irlandês de 27 anos a viver em Zurique, devido às más condições meteorológicas.
Há ainda registo de uma avalanche desencadeada por sete esquiadores em Val-Thorens, França, numa zona em que não está prevista a prática deste desporto de Inverno. O grupo teve de ser resgatado por uma equipa de salvamento. Mas não há registo de vítimas.
Em La Clusaz, também nos Alpes franceses, aconteceu algo idêntico: um grupo de seis pessoas foi surpreendido por uma avalanche que uma descida conjunta de esqui e snowboard provocou numa encosta que fica fora dos limites de segurança traçados pelas autoridades. O incidente ocorreu a 2200 metros de altitude e deixou duas pessoas gravemente feridas.
Após os acidentes desta sexta-feira, as autoridades francesas e suíças responsáveis pela segurança e pelas operações de resgate nos Alpes lembraram que os esquiadores e os snowboarders devem descer as montanhas nevadas apenas nas zonas delimitadas. E alertaram para a possibilidade de novas avalanches durante o fim-de-semana.
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Obs: No Inverno, a neve fofinha constitui uma incontornável imagem de alegres lazeres... Comprimida, forma um material duro e por vezes perigoso, o gelo. Quando se desloca, pode deixar desastres no seu caminho. As neves podem ser assassinas. 

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O síndrome de Hubris do primeiro ministro Passos coelho



Na mensagem de Natal o ainda primeiro ministro português, Passos Coelho, de forma tão estranha quanto surpreendente manipula os números do emprego e afirma que, entre Janeiro e Setembro de 2013 foram criados 120 mil postos de trabalho, o que é falso e é evidenciado pelas estatísticas. Coelho, deliberadamente, omitiu a destruição de emprego que ocorreu no primeiro trimestre de 2013, i.é, esqueceu-se de referir a destruição de 100 mil postos de trabalho. 

Sucede, porém, que este não é um caso isolado na comunicação pública do PM, pois desde que tomou posse, em Junho de 2011, já se repetiram inúmeros episódios de falseamento da realidade como expediente para esconder o fracasso da governação e, assim, manter um nível de aceitação popular que lhe permite continuar a arrastar-se pela desgovernação em S. Bento. Mas como estamos já perante um padrão comportamental, em que o recurso à mentira política se tornou num acto de gestão corrente do XIX Governo (in)Constitucional, este fenómeno psico-político pode indiciar algo mais profundo na estrutura da personalidade do agente político e do governo na sua globalidade. 



Na prática, constata-se que a incompetência mitigada com a impulsividade, a recusa em ouvir as oposições e as populações e a profunda insensibilidade social dos elos mais fracos da sociedade portuguesa, que é castigada com impostos sobre impostos, resultou num desastre da liderança do governo que tem causado estragos à economia nacional em larga escala. A perda de capacidade para fazer as escolhas políticas racionais prosseguindo o bem comum e evitar erros colossais, como os praticados (e reconhecidos) pelas políticas financeiras de Vitor Gaspar depois seguidas pela Miss Swap, tem reforçado a ideia da loucura que reina entre o governo. E para descrever tecnicamente esse conceito recorremos a Roy Porter que enquadra esse comportamento da seguinte forma:



‘The history of madness is the history of power. Because it imagines power, madness is both impotence and omnipotence. It requires power to control it. Threatening the normal structures of authority, insanity is engaged in an endless dialogue—a monomaniacal monologue sometimes—about power’.
Roy Porter
A Social History of Madness: Stories of the Insane, 1987.

Concomitantemente, o síndrome da hubris é formulada como um comportamento que coloca o seu agente numa situação de auto-glorificação através do poder que tem, e desenvolve toda a sua acção tendo por base o reforço da sua imagem pessoal e não o verdadeiro interesse nacional e o bem comum. Consequentemente, essa desproporção entre a imagem que o agente político procura dar de si mesmo e a realidade revela um fosso terrível, traduzido na devastação social hoje identificada em Portugal e que o actual PM procura sistematicamente desvalorizar, ou até falsear, como vimos acima através da manipulação grosseira dos números de emprego criados para continuar a iludir o eleitorado e lançar a confusão nas massas populares que têm sempre alguma dificuldade em destrinçar o essencial do acessório. 


Por outro lado, este flop da governação tende ainda a ser mitigado com o discurso da reforma do Estado - que foi o maior logro deste governo, e se traduz apenas pelo desmantelamento do Estado social e através dum processo inexplicável de privatizações, como os CTT, que irão diminuir a qualidade desses serviços à comunidade e, seguramente, agravando os preços praticados desses serviços.


Essa perda de contacto com a realidade, essa dissociação dos factos mais dramáticos que atingem as pessoas, as famílias e as empresas em Portugal revela uma desordem política e mental daqueles que decidem e se traduz num padrão global de incompetência das políticas públicas. 

A relevância deste síndrome na vida pública - que revela simultaneamente arrogância e incompetência, é um dos traços de personalidade que tem marcado as atitudes e os comportamentos do XIX Governo (in)Constitucional, e denuncia uma mudança de comportamento do líder que, por sua vez, se tem revelado um actor disfuncional em termos de poder e de serviço à comunidade, pois nem tudo pode ser respaldado pela exigências da troika. 

Aproveitando a intoxicação do poder de G.W.Bush e do seu apêndice atlântico, Tony Blair, no quadro da famosa invasão do Iraque pelas forças norte-americanas (e aliadas - que foi preparada pela não menos famosa Cimeira dos Açores que teve em Durão Barroso o mordomo-mor dessa desgraça) - David Owen, médico e ex-político, num livro interessante, The Hubris Syndrome, explica esse fenómeno de degenerescência e degradação do comportamento de alguns líderes que, naturalmente, ajuda a explicar os níveis de incompetência política e de desgraça social associada a esses desvios e patologias potenciados pela obsessão com o poder. 



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Ministro guineense diz que Cavaco foi "infantil"

Ministro guineense diz que Cavaco foi "infantil"
O ministro de Estado e da Presidência da Guiné-Bissau, Fernando Vaz, revelou, em entrevista à TSF, que o incidente com os refugiados sírios foi politizado por Lisboa, e que a intenção é dar suporte político ao antigo primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, deposto em 2012.
"Portugal apoiou sempre o ex-PM e não reconhece o atual governo de transição, onde o partido do ex-PM, PAIGC, tem cinco ministros. Portugal continua a insistir em apoiar o ex-PM", afirmou Fernando Vaz à TSF.
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Obs: Seria deveras problemático que Portugal, enquanto estado de direito reconhecesse, de facto e de iure, Estados que resultam de golpes de Estado e, por essa via, governam mediante um regime de excepção num período de transição até que haja dinheiro para fazer eleições. 
A entrevista de Fernando Vaz, que é um homem tão habilidoso quanto arguto nos comentários que fez, não pode fazer doutrina, sob pena de qualquer golpe de estado amanhã ser reconhecido pela comunidade internacional como se de um processo político normal se tratasse. Seria legalizar e legitimar o crime de Estado, violando também a vontade popular. O mundo, na mente de F. Vaz, seria composto por uma sucessão de golpes de estado que seriam imediatamente reconhecidos pela ONU, é ao que conduz este ambivalente raciocínio.
Nessa medida, as declarações do entrevistado devem ser relativizadas, e quem o ouviu pensa até que a Guiné é um país democrático e desenvolvido do 1º mundo, ao nível do Canadá e dos EUA. 
Para um narco-Estado (e um Estado falhado) não é mau. Entre os factos e o discurso de Fernando Vaz, que carece de algum sentido das proporções das coisas e dos seus valores e princípios, há um atlântico de diferenças. 


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Pussy Riot prometem continuar a lutar contra Vladimir Putin

As artistas deram uma conferência de imprensa em Moscovo REUTERS/TATYANA MAKEYEVA


Público

Pussy Riot prometem continuar a lutar contra Vladimir Putin


“Se não nos tivessem metido na cadeia, não teríamos deixado de fazer o que fazemos. Não é agora que vamos parar”, prosseguiu, numa conferência de imprensa em Moscovo, em que ela e Maria Alekhina não se coibiram de criticar severamente o Presidente russo – e a sua política repressiva. Além do combate político contra o Presidente, as duas tencionam dedicar os seus esforços ao activismo pelos direitos dos reclusos, através de uma nova organização que será financiada pelo presidente da Aliança Popular, Alexei Navalni.
Três das integrantes do colectivo Pussy Riot foram detidas e condenadas a penas de prisão por actos de hooliganismo e incitamento ao ódio religioso em Outubro de 2012, seis meses depois de uma performance na catedral Cristo o Salvador de Moscovo, que incluiu uma “oração punk” em que pediam à Virgem Maria que libertasse a Rússia de Putin. Uma delas, Yekaterina Samutsevich, já tinha sido libertada na sequência de um acordo judicial.
O processo, denunciou Maria Alekhina – que cumpriu uma greve da fome na prisão em protesto contra as condições da sua detenção (durante cinco meses em regime de solitária) –“teve a mão da igreja Ortodoxa Russa”, que pressionou ou interferiu para que as mulheres fossem detidas.
E a sua libertação, quatro meses antes do fim da pena, deve-se à “obsessão de Putin em limpar a sua imagem” antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno na cidade russa de Sochi, que, de acordo com Alekhina, é um “projecto pessoal” do Presidente.
Na sua opinião, Putin só concedeu a amnistia por receio de uma possível contestação internacional às políticas do regime em termos de direitos humanos durante a competição. “As autoridades só tomaram esta decisão por estarem debaixo de intensa pressão, tanto na Rússia como nos países ocidentais. Não há aqui nada de humanitário. Depois da olimpíada, a repressão continua”, sublinhou Nadezhda Tolokonnikova.
Vários chefes de Estado estrangeiros recusaram marcar presença na cerimónia de abertura em protesto contra as prisões políticas ou as leis que discriminam os homossexuais na Rússia – uma atitude que as Pussy Riot agradecem. “Quer se goste, quer não, a participação nos Jogos Olímpicos é uma aceitação tácita da situação política interna na Rússia e a aceitação do caminho que está a ser seguido por uma pessoa que está mais interessada nos jogos do que em tudo o resto: Vladimir Putin”, mencionou.
“O mundo de Putin está repleto de desconfianças e conspirações. Acho que ele realmente acredita que o Ocidente é uma grande ameaça para a Rússia”, observou Maria Alekhina. “Putin é um cheka [nome dado aos agentes da polícia política secreta da União Soviética precursora do KGB], fechado, opaco, com uma infinidade de crenças e realmente com medo de muita coisa”, prosseguiu Tolokonniva. “Ele pensa que pode controlar tudo, mas isso é impossível e mais cedo ou mais tarde o controlo vai-lhe escapar de entre as mãos”, antecipou a sua companheira.
Questionadas sobre quem poderia ocupar o lugar de Putin à frente do Governo russo, Nadezhda Tolokonnikova disse que não se importaria que fosse Mikhaïl Borissovitch Khodorkovski, o antigo homem forte da petrolífera Yukos e opositor político do Presidente, que passou dez anos na prisão por fraude e evasão fiscal e também recebeu um indulto “por razões humanitárias” na mesma semana.
Supremo tribunal vai rever caso de Khodorkovski
Khodorkovski foi transportado de uma colónia penal no Árctico para Berlim, onde permanecerá no exílio. No entanto, e ao contrário das suas expectativas, a hipótese de um regresso à Rússia não estará totalmente eliminada, uma vez que o Supremo Tribunal fez saber que está disponível para rever uma decisão de um juiz de primeira instância que condenou o antigo oligarca num segundo processo de fuga ao fisco (numa pena que contempla ainda a “devolução” de cerca de 500 milhões de dólares ao fisco).
Em Julho, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos de Estrasburgo analisou um recurso apresentado pelo ex-magnata e solicitou a anulação da injunção que obriga ao pagamento da multa, por ser contraditória com as disposições da legislação do país.
Em declarações à imprensa internacional, um dia depois da chegada a Berlim, Khodorkovski disse que não voltaria à Rússia enquanto esse processo estivesse pendente, por não ter nenhuma garantia de que não seria impedido de voltar a sair do país, caso desejasse.
Activistas da Greenpeace já começaram a deixar a Rússia
Cinco activistas britânicos detidos a bordo de uma embarcação da Greenpeace, em Setembro, após um protesto contra a exploração petrolífera em offshoreem águas protegidas do mar de Barents, regressaram esta sexta-feira a casa, depois de cem dias de prisão preventiva na Rússia.
Os ecologistas e membros da tripulação (30 pessoas no total, de diversas nacionalidades) foram detidos pela guarda costeira por suspeita de pirataria. Acabaram por ser acusados de crimes de hooliganismo, mas o seu processo também foi abrangido pelo mesma amnistia que permitiu a libertação das músicas da banda Pussy Riot.
Os britânicos dizem que foram bem tratados, mas confirmaram que as condições na prisão de Murmansk eram” muito difíceis”. “Não éramos prisioneiros de guerra, mas a estética da nossa colónia penal, com o arame farpado e as barras de ferro, era exactamente como a de um campo de concentração”, descreveu Anthony Perret, à Radio 4 da BBC.
A Greenpeace confirmou numa nota oficial que “todos os envolvidos no processo beneficiaram da amnistia aprovada na semana passada pelo Parlamento da Rússia, e viram as queixas contra si retiradas sem a admissão de qualquer culpa”.
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Obs: Os neo-ditadores são aqueles que pretendem fazer-se passar por democratas mas não o são, nunca o foram e é plausível que jamais o serão. Putin foi formatado no ambiente ideológico da Guerra Fria, as mudanças que simula são apenas para aplacar a censura da comunidade internacional às suas medidas, e, hoje, arrisca-se a ser criticado por umas miúdas com estilo punk que o querem ver fora do poder. Como elas há milhões de russos a querer o mesmo. E Putin sabe-o. Por isso, governa como um pequeno ditador, embora rodeado num mundo de democracias pluralistas em relação às quais marcará sempre uma grande distância, especialmente para sobreviver num mundo que já não é o seu. 

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