quarta-feira

Tributo a Ortega y gasset. Desenhar uma nova Democracia para a Europa

Como a crise se instalou nas casas, nas famílias e nos bolsos de cada português, e até e cada europeu que sustenta esta crise geral da Europa (e do mundo), os europeus - enquanto multidões em fúria pelo esbulho de que são objecto - sentem-se verdadeiramente acossados, e essa realidade torna-se visível. Aquilo que era antes desta crise de soberania (de raiz financeira) agrupado numa plateia de descontentes tende, doravante, a enfrentar milhões de pessoas - que podemos designar os deserdados duma Europa decadente liderada pela srª Angela e Sarkosy, esse pavão sem desígnio irmanado com a velha-gaiteira da Europa que reduziu o Velho Continente a uma equação matemática do deve & haver das velhas merceerias de bairro que também já não existem, ou vão morrendo na proporção inversa à permanência no poder daqueles cáfilas.
Sucede que agora o cenário mudou ligeiramente, tendo a Grécia no horizonte, e considerando que foram reforçados os fundos de equilíbrio e estabilização financeira, são essas multidões de deserdados - aqueles que antes integravam a chamada classe média e tinham uma vida segura e previsível - que dominam o palco da sociedade e a podem bloquear por métodos de acção colectiva directa e recorrendo aos velhos métodos ensinados e praticado por M. Gandhi, designadamente a resistência passiva - que aludimos há dias noutro espaço.
Isto significa, na prática, que aquilo que ocupava o conceito de massas ou multidões antes desta crise de especulação (ocorrer), de mercados, de gestão ruinosa dos recursos públicos por Governos incompetentes e corruptos, à esquerda e à direita do espectro político em toda a Europa, tornou-se na personagem principal e pode estar no centro do furacão. Ou seja, o coro substitui-se pelo protesto efectivo das massas europeias descontentes com a terrível falta de oportunidades e a elevada e intolerável carga fiscal que os Governos cobram aos contribuintes-espoliados, poupando sempre a alta finança, que continua a ter resultados líquidos nos seus balanços anuais. Aqui somos todos marxistas ou neo-marxistas...
Este caldo de democracia calma - que fazia com que os indivíduos fossem disciplinados perante a lei e as autoridades, acabou. O liberalismo (económico) e a democracia (política e social) não lhes trouxe o prometido, antes deixou milhões de pessoas na miséria. Daí a legitimidade para a desobediência civil que pugna por uma nova legitimidade, por um conceito de hiper-democracia emergente - em que as massas - daí o tributo a Ortega y gasset - actuem directamente e sem intermediação dos poderes públicos e da lei. As massas passam a intervir em razão das suas convicções, interesses e expectativas - que já não estão em linha com os interesses dos políticos que elegeram para os representar, daí o gap entre eleitos e eleitores, governantes e governados.
Actualmente as massas e os povos que integram os Estados nacionais da Europa deixaram de querer encomendar o seu exercício de representação política às tais pessoas especiais, os representantes em democracaia representativa (deputados, ministros, PMs, etc), e quererm ser eles próprios os representantes da sua voz, interesses e expectativas. Até porque hoje existe a noção generalizada que os recursos materiais não chegarão para todos e essa rebelião das massas emergente poderá converter-se num outro equivalente funcional adjectivado pelo filósofo Mário Ferreira dos Santos - que designou de invasão vertical dos bárbaros, cuja refª foi partilhada por mão amiga e é complementar às notas aqui trazidas como tributo ao filósofo espanhol, Ortega y gasset. Complementar na medida em que essa invasão vertical dos bárbaros, penetrada pela cultura como que abre caminho à corrupção mais fácilmente, à semelhança do que ocorreu com o fim do império romano há uns séculos a esta parte.
Na prática, as tais massas sempre entenderam que os tais homens especiais, os eleitos pelos povos, entendiam mais e melhor da gestão da coisa pública, governariam melhor em prol do bem comum, de que nos falou Aristóteles. Hoje, ao invés, constatou-se pelos resultados desastrosos revelados por todos os indicadores económicos, financeiros e sociais que a generalidade das economias nacionais que integra a Europa entrou em derrapagem aguda e, por isso, foi governada por gente inqualificada, impreparada, pouco séria e, em inúmeros casos, corrupta como aconteceu em Portugal no caso de polícia (assimilado num caso de política) que envolveu a fraude e desfalque do BPN - que serviu para enriquecer alguns dos seus administradores, alguns até foram conselheiros de Estado do PR, cavaco silva, e cujo passivo transita agora para o povo pagar a factura de mais esse buraco no Orçamento de Estado.
Quem ganhou com esta golpada? alguns agentes políticos do bloco central, as ususal...
Será por causa de muitos casos destes e outros similares que têm acompanhado a (des)governação na Europa, que as massas, agora enquadradas por movimentos sociais estruturados dentro e fora do rizoma virtual, que as tais minorias de gente competente, as soit-disant elites funcionais do poder, encontram um obstáculo nos milhões de pessoas que não se reconhecem naquelas qualidades e competências (virtuais).
E se calhar chegou o momento dessa hiperdemocracia dar um contributo maior à reconfiguração da Europa, pondo os mercados a obedecer à política, que é onde reside a legitimidade assente na vontade legítima dos povos, a fim de por a economia a crescer, gerar riqueza e partilhar um bolo que hoje não existe.

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