sábado

Evocação de Helena Vieira da Silva

1930 Autoportrait Óleo sobre tela, 54x46 cm S/ assinatura, s/ data Colecção privada, Paris

O estilo inconfundível de Vieira da Silva é uma das referências determinantes na arte abstracta, muito embora ela se identifique preferencialmente com o abstraccionismo lírico.

A Escola de Paris é influenciada pelas pinturas abstractas iniciadas após 1935. A pintura, veículo para a apreensão do eu e como meio de conhecimento, surge, posteriormente à guerra que tudo veio modificar, como processo pelo qual a pintora transparece a percepção que tem do mundo.

Vieira da Silva fabrica o seu próprio universo, que alimenta de pequenas coisas e a sua arte apresenta-se livre de etiquetas. O objectivo é imprevisível mas nunca improvisado. O acto de pintar interpreta como meio que levará ao encontro de si própria e do mundo e à realização da união entre corpo e alma. O trabalho apresenta-se doloroso, interrogativo, mas libertador. Só ele era a chave que, perante o acesso a um espaço desconhecido, permitia ir além da dúvida.

Estas primeiras experiências são influentes, na medida em que permanecem na sua memória, onde o passado continua activo, um elemento que a qualquer momento se pode aceder.

Só uma certeza existe, para a pintora, a recusa da certeza. Cada momento é vivido plena e intensamente, mas tudo sofre mudança. O facto de colocar em dúvida a sistematização das evidências, advém da sua sensibilidade à vida, à sua renovação e mistério, que apenas uma análise exterior não atinge. É na pintura pela abstracção do espaço-plano que várias versões se podem explorar.

A sua obra apresenta três "géneros": naturezas mortas, figuras e paisagens e a sua temática vai variando ao longo da vida, em relação íntima com os diálogos que estabelece com o fluir dos momentos socio-culturais e históricos que atravessa.

A sua interrogação do mundo é elaborada e constante. Procura incessantemente vias de acesso a um conhecimento superior:

«(...)A meus olhos, a porta é um elemento muito importante. Há muito tempo que tenho o sentimento de estar diante de uma porta fechada, com coisas essenciais que não posso nem conhecer nem ver a passarem-se de outro lado. E é a morte que me vai abrir a porta. Quantas coisas, e não sabemos explicá-las! E eu que gostava tanto de saber (...) para satisfazer a minha curiosidade.

Sim, queria entender e tenho a impressão de que a explicação virá com a morte, ela me dará a chave. Enquanto for viva, não saberei!(...)» diz Vieira da Silva.(Jean-Luc Daval, 1994, p.93)

É difícil enquadrar a obra de Vieira da Silva numa só época. Em cada quadro, ela coloca um pouco de si própria, retrata o que a rodeia, partindo do seu mundo interior e mediante a perspectiva sobre a qual expõem a sua visão particular.

Em vitrais, azulejos, pequenas telas ou grandes planos, Vieira da Silva apresenta antes de mais as suas próprias construções do espaço de acordo com as suas concepções e o sentido que vai fazendo do mundo.
Arpad Szenes1942- Marie-Hélène, Óleo sobre tela, 81x100 cm Col. Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva
1943- La Partie d'échecs Óleo sobre tela e traços de carvão,81x100 cm Assinatura e data à direita Col. Museu Nacional de Arte Moderna, Paris Origem: comprado à artista em 1947, Fundo Nacional de Arte Contemporânea, atribuído ao Museu Nacional de Arte Moderna

1942 - Le Métro Gouache sobre cartão, 48x67 cm Col. Metropolitano de Lisboa (Cidade Universitária)

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