segunda-feira

"Cem anos de solidão" de Garcia Marques. As palavras e as coisas. Um esquecimento bem lembrado

Como diria um amigo, o conhecimento do mundo faz-se de palavras, talvez por isso tantas vezes erramos nas apreciações e julgamentos que fazemos dos outros e dos fenómenos sociais que analisamos. Mas são as palavras, bem ou mal, em maior ou menor grau, que emprestam sentido à vida.

Quando os habitantes de Macondo, evocando os Cem anos de solidão de G.G.Marques ("Gabo"), foram subitamente atacados por uma espécie de amnésia, atemorizaram-se do risco de perderem o conhecimento do mundo. Ante a ameaça de esquecimento do que representava uma árvore, uma casa, uma vaca, decidiram fazer rótulos e pendurá-los nas coisas cujos significado temiam perder: "isto é uma árvore"; "isto é uma casa"; "isto é uma vaca"...

E assim as palavras acabam por nos dizer o que o mundo é quando acreditamos que o mundo é a realidade que as palavras nomeiam. Mas às vezes confundimos os nomes com a realidade que as palavras nomeiam. Tal sucede com muitos conceitos que se constituem em realidades nominais.., como o amigo J.M. Pais, um sociólogo de boa formação, recorda numa interessante reflexão sobre Jovens e Cidadania - exposta no âmbito do Simpósio Internacional sobre Juventude, no Rio de Janeiro, UFRJ, Out. de 2004.

Vem isto a propósito das palavras e das coisas que aquelas (supostamente) nomeiam. A este propósito quando perguntavam a Vergílio Ferreira quem ele era - ele tenderia a dizer que: eu sou quem cá estou...

E nem isso foi suficiente para conquistar o Nóbel da literatura, talvez por isso tenha morrido amargurado.

Ou talvez não... Até porque, como referimos, se as palavras enganam umas vezes - podem enganar outras. E nem elas nem quaisquer outro instrumento são medida certas para interpretar o que vai na mente das pessoas.

Por isso o melhor mesmo às vezes é não dizer nada. Um nada que também encontra expressão numa palavra: nada!!! Sem que isso defina a situação...

Porque um "nada", por vezes, pode ser tudo. E "tudo" o que é?!
Como alguém diria: nunca esquecemos a nossa primeira amnésia.