sexta-feira

PS recupera maioria mas PSD está acima dos 30%

PS recupera maioria mas PSD está acima dos 30%
FRANCISCO ALMEIDA LEITE
O PS está de volta ao seu estatuto de partido no limiar da maioria absoluta nas intenções de voto dos portugueses. De 36,9% no mês passado, o partido liderado por José Sócrates salta para os 43,8%, um score que, a realizarem-se eleições legislativas neste momento, lhe conferia a maioria dos deputados na Assembleia da República. O PSD de Luís Filipe Menezes, depois de ter tido 35,9% há um mês (a um ponto do PS, um empate técnico, na prática), cai agora para os 31,5%, um resultado que é o segundo melhor do partido em mais de um ano. Ou seja, é preciso recuar até Julho de 2006, quando o PSD teve 31,9%, para encontrar um resultado superior ainda sob a liderança de Luís Marques Mendes.
De resto, a subida do PS de Sócrates - num período em que a presidência portuguesa da União Europeia concluiu o acordo para o Tratado de Lisboa - é feita sobretudo à custa do PSD, mas também do PCP e do Bloco de Esquerda, que caem todos no barómetro da Marktest para o DN e a TSF. Os sociais-democratas perdem 4,4%, os comunistas 3,3% e os bloquistas exactamente um por cento. Surpreendente é a subida do CDS/PP, que passa de 2,9% para 4,5%, com Paulo Portas a ter a maior subida entre os líderes partidários. Portas sobre sete pontos, mas ainda está com 22 pontos negativos. O CDS retoma, registe-se, uma tendência de subida que vinha desde Julho e que só foi interrompida pela queda abrupta na última sondagem publicada no DN.
O regresso do PS a uma boa performance tem também tradução no desempenho dos membros do Governo. Todos sobem, mesmo os campeões da impopularidade (Maria de Lurdes Rodrigues e António Correia de Campos, respectivamente ministros da Educação e da Saúde), à excepção de Mário Lino, ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que tem uma variação negativa de 3%. Quiçá por causa da polémica da Ota versus Alcochete, Mário Lino tem 17 pontos percentuais negativos.
Neste campo, no top da popularidade está o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado. Empurrado pelo acordo do Tratado de Lisboa, que será assinado dia 13 de Dezembro em Lisboa. O texto foi objecto de consenso na Conferência Intergovernamental dos dias 18 e 19 de Outubro, em Lisboa, e este estudo da Marktest decorreu de dia 20 a 23. Portanto, Luís Amado - embora já fosse de longe o ministro mais popular em estudos anteriores, como de resto acontece com todos os MNE - dá um salto de 23 pontos positivos para 35 e deixa o segundo mais popular, Nuno Severiano Teixeira, a 13 pontos de distância.
Nas figuras políticas, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, continua à frente, destacado, com 58% de aprovação positiva. E a subir
.

Meneses visto plo Jumento

O "bom" exemplo de Menezes
Na mesma semana em que fez propostas para supostamente melhorar a governabilidade das autarquias Luís Filipe Menezes dá, em Lisboa, um "bom" exemplo da honestidade das suas propostas. Com o único intuito de manter a câmara de Lisboa na situação de falência financeira em que a deixou para daí obter vantagens políticas, o PSD, que não tem qualquer representatividade na autarquia, ameaça usar uma maioria fantoche na Assembleia Municipal para inviabilizar as propostas do executivo camarário.
Pior do que o santanismo só o menezismo santanista.

O anão no metro...

No Metro, um anão escorregou pelo banco e um outro passageiro, solidário, recolocou-o em posição.
Pouco depois, o anão voltou a escorregar e o mesmo passageiro voltou a colocá-lo no assento.
Como a situação repetiu-se sequencialmente, o referido passageiro irritou-se e protestou:
"Bolas ! Não me importo de ajudar, mas será que você não consegue sentar-se em condições?"
O anão respondeu:
"Meu amigo, há mais de cinco estações que estou a tentar sair ... mas o senhor não deixa !"

Crise de afirmação e exuberância. Das 53 Juntas de Freguesia da Capital 33 são PSD...

Já vimos neste mesmo espaço de análise e reflexão, que Meneses é um herói sem missão, um homem político sem finalidade pública, um agente partidário sem poder e influência nem autoridade, um actor sem rasgo - que até para substituir o seu ex-rival político, MMendes, teve de recorrer à insídia, ao insulto, à injúria. Meneses, em síntese, é um ser desatinado em busca de registo histórico e em lugar de se credibilizar na cena pública cada passo que dá só gera instabilidade que o afasta ainda mais dos eleitores, e assim nem na autarquia de V.N. de Gaia ele se mantém - senão artificialmente.
Feita esta sistematização da personalidade política de Meneses, é legítimo perguntar que tem ele em vista com a sua "estratégia terrorista" na Assembleia Municipal de Lisboa ao incumbir os seus vereadores para vetarem a proposta do Executivo que visa aprovar o empréstimo para pagar dívidas geradas pelo partido dos Srs. Meneses, Carmona e Santana Lopes (fautores do passivo)!?
Neste sentido, a sua estratégia parece ser não ter estratégia, senão vejamos: do universo das 53 Juntas de Freguesia 33 são do PSD, 12 do PS e 8 do PCP. Portanto, o PSD é o partido com mais expressão a este nível do poder local, sendo certo que muitas - para não dizer todas - essas juntas vivem e mantém o seu plano de actividades com base em apoios directos da autarquia, dela dependendo para prosseguir esse plano de actividades - por regra em estreita ligação com as necessidades das colectividades locais.
Colocando-se este extraordinário constrangimento que, na prática, não passa duma chantagem política respaldada pela composição duma Assembleia Municipal manhosa e mantida artificialmente com base numa lei eleitoral antiga, maluquinha e ilógica, a conclusão que se pode extrair é que Meneses, à falta de melhor ideia e projecto para competir abertamente com Sócrates no plano nacional, fez incidir na capital toda a sua raiva política que, de resto, coincide com a natureza do órgão que ele telecomanda e lhe viabiliza o alívio da bilis, e o resultado é o que todos conhecemos: a AM, com maioria absoluta do psd, ameaça vetar a dita proposta - para vergonha da cidade e da política.
Isto conduz-nos a outra conclusão: será que os 33 presidentes de Junta de Freguesia do PSD de Lisboa estão todos de acordo com esta chantagem política instrumentalizada a partir da AM - e a que, meneses, obviamente, não é alheio (é antes o instigador)?!
É óbvio que não, aliás, muitos deles já fizeram saber que discordam da chantagem industriada pela AM, discordam desse método de fazer política local, e, por essa razão, não estão dispostos a aturar um líder fraco, errático e transitório que põe em causa a continuidade dos reais interesses das populações locais que veriam os seus protocolos suspensos e os seus planos de actividades abruptamente interrompidos caso o chumbo dessa proposta venha a ter lugar.
Neste caso, como diria o amigo Pedro A., caberá perguntar se os respectivos presidentes de junta (os 33 do PSD) devem mais solidariedade ao partido (por via da disciplina partidária) ou devem, sobremaneira, essa confiança aos respectivos eleitorados que é suposto servirem?!
Neste caso, e dado que se está diante duma farsa política que visa fazer um braço-de-força entre o PSD e o PS na CML, como ainda ontem Carmona Rodrigues referia, é óbvio que o sentido de missão, de dever, de lealdade e de confiança política por parte desses presidentes de junta deverá obedecer, primeiramente, às populações locais, ainda que isso implique estar pontualmente contra o partido de que são membros.
Esta questão remete para a legitimidade política que, neste caso sobreleva da legalidade estatutária do partido, e, por extensão, não é de surpreender que muitos desses conflitos, desconfianças, cisões e outras divergências se agudizem e multipliquem nos próximos dias como sinal de protesto à orientação política de Meneses que, como vimos, deriva da sua falta de credibilidade política nacional e da exuberância do seu carácter aliado ao facto de estarmos diante de um herói sem missão, dum agente político sem finalidade púbica.
O que nos permitirá colher uma última conclusão relevante para a avaliação do funcionamento do sistema político e ao tipo de pressões e chantagens a que ele está hoje sujeito em Portugal: até ao momento os sistemas políticos contemporâneos sofriam diversas pressões.
A saber:
  • Eram atacados pelo terrorismo suicida;
  • Pelo rompimento das bolhas especulativas que instabilizam os mercados e dão cabo da fiabilidade das moedas;
  • Pelas falsificações em larga escala nas contabilidades criativas de empresas de reputação mundial, dando indicações económicas sem fundamento na realidade;
  • Alteração da localização dos centros dominantes da decisão económica, mormente com a chamada deslocalização de multinacionais à maneira "cigana" que deixam as economias locais de rastos;
  • Na crescente motivação de tipo religioso que exige uma resposta qualificada dos diversos grupos sociais em presença.

Doravante, pela pena do sr. Luís filipe Meneses, temos um novo tipo de risco político associado, na linha, aliás, do seu já conhecido populismo e demagogia, que é o risco que visa conduzir à instabilidade dos comportamentos e dos ciclos eleitorais através de órgãos municipais com expressão nacional, como é nitidamente o caso de Lisboa, capital do País.

A este fenómeno excepcional na vida pública, porque é novo e ainda não está suficientemente estudado pela Ciência Política e pela Sociologia e Filosofia Política - denominamos aqui de crise de afirmação e de exuberância, pois é disso que tratamos quando evocamos essa personalidade tão complexa quanto conturbada e errática que hoje ocupa as estreitas ruas da Lapa e quer, vejam só, vir a ser PM de Portugal.
Para anedota de final de semana não está mal..., não Senhor!!!
PS: Agradeço à Maria João C. ter-me facultado alguma informação que aqui tratamos.

Eu é que sou o "presidieeente!!!" A grande estratégia de Meneses, esgotada a fórmula: sulistas vs nortistas...

Voltaram a perguntar a Meneses qual era o seu objectivo político nacional neste Outono. Ele respondeu assim:
1. O meu primeiro objectivo político nacional é incendiar Lisboa
2. O meu segundo objectivo político nacional é incendiar Lisboa
3. O meu terceiro objectivo político nacional é incendiar Lisboa

Voltaram a formular a mesma questão a Santana e ao sr. polícia, Nandinho Negrão e a resposta, previsivelmente, veio nos mesmos termos.
No final, outra questão saltou para a mesa de Meneses:
Mas qual é o objectivo estratégico em fazer este número de Teatro D. Maria II na Câmara Municicipal de Lisboa ao vetar a proposta que chumba a contracção do empréstimo para pagar as dívidas e o tremendo passivo deixado pelo psd na autarquia?
Meneses terá respondido assim:
1. Demonstrar à Paula Teixeira da Cruz que quem manda agora na Assembleia Municipal sou eu através do polícia, o Sr. Negrão. Por aqui se vê a "unidade" deste esfrangalhado psd à bulha entre mendistas (residuais) e menesistas/santanistas (emergentes);
2. Dizer ao PS que temos um instrumento permanente de chantagem política na autarquia, já que o Sócrates não nos dá espaço político para crescermos no plano nacional;
3. Convencer-me a mim próprio de que agora sou eu, de facto, que mando no psd através das dicas das agências de comunicação.
Além da modernização do partido, em instalações, quadros e software - este será o ideário político do psd para conquistar o poder nas legislativas de 2009.
E segundo indicações de Meneses, o mesmo método será aplicado noutras autarquias do PS em que exista maioria absoluta do psd nas respectivas Assembleias Municipais - um anacronismo legal que ficou da lei eleitoral autárquica antiga.
No final, Meneses dará uma conferência de imprensa no Alto do Parque Eduardo VII - escrita a meias pelo sr. Cunha Vaz da agência de comunicação - e pelo eloquente Ângelo Correias - onde se afirma SALVADOR da pátria porque, à última da hora, deu instruções ao Sr. Polícia, Nandinho Negrão, no sentido do psd se abster para, dessa forma, a proposta passar e o empréstimo ser aprovado junto da banca.
Eis como termina esta novela sul-americana burilada em Gaia, amadurecida na Lapa, afinada na Distrital de Lisboa à Junqueira - com um tal sr. Carréras - e aplicada na Praça do Município da autarquia da Capital.
Agora digam lá (!!!) se Meneses é ou não é o homem ideal que Portugal precisa para ser Primeiro-Ministro em 2009!?
Volta MMendes, estás (a)perdoado...

Desabafo - por António Vitorino -

Image Hosted by ImageShack.us

DESABAFO [link] António Vitorino

jurista

Numa entrevista com sabor a despedida, o embaixador americano em Lisboa exprimiu preocupação pela decisão do Governo português de reduzir em 2008 as forças nacionais que participam na missão da NATO no Afeganistão. Esta preocupação soa naturalmente a desagrado.

Um dos princípios básicos da participação dos países nas missões militares da NATO assenta na livre decisão nacional quanto ao tipo de forças a disponibilizar no quadro do planeamento global da missão, a cargo dos comandos da organização.

Portugal é um dos países das Nações Unidas que na última década têm estado presentes de forma mais relevante nas missões de paz, de gestão de crises e humanitárias, desde as antigas colónias africanas (Moçambique e Angola) até à Bósnia, ao Kosovo, ao Sara Ocidental e actualmente o Afeganistão. Acresce que, em termos relativos, o esforço português, quer em efectivos empenhados quer em gasto orçamental, é dos mais salientes na comunidade internacional.

Ainda me recordo de o secretário da Defesa americano ter reconhecido publicamente que o esforço de Portugal na missão da NATO na Bósnia, em 1996, era, em termos relativos, face ao conjunto do dispositivo de forças nacional, superior ao esforço americano. A observação pode ser tida como um exemplo de simpatia para com um aliado fiável, mas esses eram os tempos em que os americanos ainda percebiam o valor que esses gestos têm para consolidar uma aliança em que se acredita...

A preocupação do embaixador americano deveria, contudo, ser centrada na própria situação no Afeganistão e nas insuficiências da missão da NATO ao longo destes cinco anos, designadamente no período em que Portugal empenhou forças relevantes e que desempenharam missões de alto risco com grande eficiência e profissionalismo. Essas insuficiências resultaram em boa parte da falta de empenho de alguns aliados - designadamente na disponibilização de meios aéreos tácticos - por parte daqueles que os tinham e decidiram então não enviar na dimensão necessária às operações requeridas.

O impasse no Afeganistão não pode, aliás, ser compreendido sem ter em linha de conta o efeito da operação no Iraque e a evolução da situação interna no Paquistão. Em ambos os casos, a centralidade da posição americana aconselha um pouco mais de humildade quando se fala sobre a conduta dos seus aliados...

A decisão portuguesa em relação ao Afeganistão não significa uma retirada da nossa presença militar numa missão da NATO que foi devidamente endossada por uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, neste ponto revestindo-se de um carácter substancialmente diferente da intervenção militar no Iraque. O que Portugal decidiu foi reformular o seu nível de empenhamento, mantendo uma presença através de meios aéreos que, sendo menos visíveis do ponto de vista operacional, não podem ser tidos como um desinvestimento no plano político na missão da Aliança a que pertencemos.

A questão pertinente que se deve colocar é a de saber se o impasse da situação no Afeganistão reside essencialmente num problema de ineficácia militar, resolúvel através do empenhamento de mais forças, ou se, pelo contrário, estamos perante um problema político, primeiramente devido à situação interna do próprio país e subsequentemente decorrente dos efeitos na região, quer da situação iraquiana quer do conflito civil no Paquistão. Com efeito, é difícil explicar que a operação militar da NATO que levou ao derrube do regime dos talibãs se tenha traduzido num limitado controlo, por parte do Governo afegão, da capital e zonas limítrofes, e que nas províncias os senhores da guerra locais continuem a ditar as regras, incluindo no apoio que dispensam a grupos terroristas ligados à Al-Qaeda. Como é difícil explicar que, logo após a intervenção militar internacional, tenha aumentado (e muito) a produção de drogas e a sua distribuição a partir das zonas orientais do Afeganistão e das regiões limítrofes do próprio Paquistão... Há de facto ocasiões em que a sabedoria diplomática deveria aconselhar prudência nas declarações, mesmo a título de despedida...

Obs: Publique-se e mande-se xerox para a Casa Branca a fim do seu locatário dar um puxão-de-orelhas ao abelhudo do diplomata norte-americano acreditado em Portugal que já se foi.

Perguntaram a Meneses... Meneses por ele próprio

Meneses sempre bem acompanhado...
Estas damas de V. N. de Gaia perguntaram a Meneses por que razão ele instruíu o Carreras (da Distrital de Lx) e o Negrão da Assembleia Municipal a ameaçar o PS que inviabilizaria a proposta que permite aprovar o empréstimo para salvar a gestão corrente da CML.
Meneses, em jeito de confissão, terá respondido assim:
    • Estou farto de ser considerado um herói sem missão
    • Um homem político sem finalidade pública
    • Um agente partidário sem poder, influência e autoridade
    • Um actor menor sem espaço para rasgar terreno na área do Socas
  • Como estava farto de ser menosprezado pelo Governo, incompreendido pela sociedade e ignorado pelos empresários e pelos influentes do meu próprio partido - resolvi fazer um pequeno "incêndio" na autarquia da capital, talvez assim alguém olhe para mim e me dê ouvidos e palco.
    É que da última vez que tentei dar nas vistas - com a velha fórmula do sulistas vs nortistas - só não fui sovado porque beneficiei da protecção da Segurança...

quinta-feira

Eu também existia...

O Macro vestiu a pele do psiquiatra e interpretou a alma de MMendes...
Eu também existia, mas o Meneses comprou os votos ao Santana e somados deram cabo de mim. Mas nem no meu tempo isto se passava. Dei muitas instruções ao Carmona para ele meter assessores e boys do partido, para nomear pessoas amigas para empresas municipais, mas nunca fui estúpido - como o Meneses - a ponto de mandar vetar propostas de empréstimo que tinham por finalidade pagar a nossa própria borrada política na autarquia da capital. Posso ser pequenino mas não sou parvo. E Meneses é ambas as coisas e não o sabe, o que é mais grave...

O absurdo desceu à cidade pela mão deste psd

"Eu existo, vivo em Vila Nova de Gaia e na Capital e gostava que se lembrassem de mim."
Eu também existo, era da polícia, depois o Lopes fez-me ministro e agora não sei bem o que sou.
Só sei que a Assembleia Municipal de Lisboa tem a maioria absoluta, por isso deve ser respeitada.
Eu também existo...
Obs:
Em face destas "existências" e da irracionalidade que preside à conduta destes dois senhores e da política que representam, sou levado a crer que a ameaça de chumbo da proposta do empréstimo (vital) para a autarquia se resume ao facto destes senhores quererem mostrar ao mundo que eles, de facto, EXISTEM!!!

A 1ª Encomenda Política que Meneses...

... faz ao líder da Distrital do psd, um tal Carréras - cujos argumentos são imperceptíveis. Será que essa encomenda veio já com o selo de cortiça hoje em voga!?

É óbvio que, quem anda na política e a estuda há uns anitos, sabe duas coisas: nada acontece por acaso, e, por outro, a política é feita de segredo, de simulação, de dissimulação, manha, astúcia, maus sentimentos, inveja, domínio, força, raramente do Direito, e muita, muita sacanagem com, neste caso, imenso desrespeito pelos munícipes de lisboa que o psd revela pelo teor da chantagem que pratica teleguiada por Gaia - via Distrital do psd da rua da Junqueira - onde o dito tem secretária e telefone...

É tudo tão simples, claro e transparente, ainda que a função desses figurantes políticos seja, precisamente, obscurecer as suas verdadeiras motivações: meter areia na engrenagem na autarquia da capital.

Digamos que o papel do sr. carréras é o de dizer em alta-vox a velha fórmula que ia matando políticamente a Evita de Gaia: sulistas vs nortistas - agora num up-grade direccionado para inviabilizar a contracção do empréstimo para saldar as dívidas agravadas, curiosamente, pelo PSD.

Ora, tudo isto assenta que nem uma luva ao actual líder fraco e a prazo Luís Meneses, que há uns anos só não foi sovado no palanque do psd porque foi a tempo protegido pela segurança que o salvou da sua miraculosa fórmula: sulistas vs nortistas - que hoje, subterrâneamente, encontra ramificações no triângulo Lapa/Gaia/rua da Junqueira (distrital psd) - e assim justapõe as directrizes do psd nacional à política local. Daí a encomenda com selo de cortiça...

Por outro lado, é sabido que Meneses é um líder fraco, cuja imagem não passa das fronteiras do seu burgo. Para agravar a situação, sobre ele tem Santana Lopes que aparece mais nos media e o ofusca, e o eloquente Angelo Correias que é a fonte de autoridade tecno-moral com ligação directa a Meneses - via hot-line permanente (tipo Washington-Moscovo ao tempo da Guerra Fria, até porque muitas vezes Meneses não sabe o que dizer e recorre ao Angelo que o industria).

De modo que a Evita de Gaia, expressão rentabilizada e popularizada pelo Jumento o mês passado, de resto, autor da imagem supra, tem extrema dificuldade em impôr-se ao partido, à sociedade e aos holofotes dos media que lhe dão pouca ou nenhuma importância, salvo quando há uma desgraça do psd ou algum incêndio no Norte..., ou o engº Belmiro de chateia.

Neste colete de forças, o que restava ao líder fraco Meneses (?), crónicamente aconselhado pelas agências de comunicação que lhe ditam os recados que ele depois papagueia sincrónicamente? senão - arranjar um casus belli na autarquia da Capital e, cobardemente, esconder-se sob o biombo desse putatitivo anonimato cuja careca todos conhecem.

Talvez tenha sido por essa razão que até o próprio engº Carmona Rodrigues, que desta forma se solidariza com António Costa no quadro da urgente medida que é aprovar esse empréstimo (de que tudo depende, e ao se junta Helena Roseta e Ze Sá Fernandes), tenha referido que o PSD resolveu encetar um braço-de-ferro com o PS e ameaçar vetar o dito empréstimo, mais a mais com aqueles argumentos obtusos e imperceptíveis dum tal Carréras que ninguém conhece e que escolheu a pior forma de ficar conhecido.

Já agora, alguém me explica quem é o sr. Carréras...

Os rostos do caos em Lisboa: mataram o "bebé" e agora asfixiam a "mãe do bebé". São os mesmos de sempre

O PSD ESTÁ A TENTAR DUAS COISAS EM LISBOA: GERAR O CAOS (DE NOVO) NA CAPITAL E AFUNDAR OS LISBOETAS NESSE AJUSTE DE CONTAS COM AS TRICAS DO PASSADO RECENTE DO PARTIDO DA LAPA AGORA TELEGUIADO A PARTIR DE GAIA E DE CASCAIS VIA DISTRITAL DE LISBOA DO PSD.
OS ROSTOS DA CRISE: PASSADO (SANTANA & CARMONA), PRESENTE E FUTURO (MENESES E CARRÉRAS/DISTRITAL psd lx).
DE MOMENTO MENESES, SANTANA E CARMONA - NADA DIZEM, LÁ SABEM O QUE ESCONDEM, SABEM A SITUAÇÃO FINANCEIRA EM QUE DEIXARAM A AUTARQUIA (ARRUINADA, INGOVERNÁVEL E SEM QUALQUER CREDIBILIDADE).
POR ISSO, É NATURAL O SEU SILÊNCIO COMPROMETEDOR. QUEM DEVE TEME, E QUEM TEME NÃO FALA - ACOBARDA-SE NAS ARCADAS DO PASSADO E RECORRE À ARMA DO BLOQUEIO E DO VETO CUJA MAIORIA ABSOLUTA DISPÕE NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL...
"ALGUÉM" NO VERÃO JÁ TINHA CHAMADO A ATENÇÃO PARA ESTE ANACRONISMO POLÍTICO, AGORA CONFIRMAM-SE AS MÁS INTENÇÕES DESTE (IRRESPONSÁVEL) PSD. TALVEZ POR ESSA RAZÃO REJEITARAM ELEIÇÕES NA DITA ASSEMBLEIA MUNICIPAL PARA, AGORA, CALCULÍSTICAMENTE TEREM A FOLGA DE RECORRER À INSTABILIDADE POLÍTICA E GERAR O CAOS NA CIDADE.
A NOVIDADE DESTA CONJUNTURA É QUE, A SER ASSIM, É A 2ª VEZ QUE O FAZEM NO ESPAÇO CURTO DE MESES...
ATÉ PARECE QUE O PSD SE ALIMENTA DA CRISE QUANDO, AFINAL, VAI REDUZINDO A SUA CREDIBILIDADE POLÍTICA E A SUA IMPLANTAÇÃO SOCIAL NA SOCIEDADE E NA CAPITAL.
ESTE PSD "MORRE" TANTO EM LISBOA COMO O PCP ENFRAQUECE NO PAÍS. UM E OUTRO PREFIGURAM-SE HOJE COMO PARTIDOS ANTI-SISTEMA QUE SE COLOCAM A SI PRÓPRIOS NAS MARGENS DO SISTEMA POLÍTICO...

É curioso notar como as previsões preocupadas de António Vitorino (que remontam ao Verão) hoje regressam à cena política da capital com uma actualidade tão gritante quanto preocupante: há um partido anti-sistema, chamado psd, hoje com uma nova liderança, que quer impedir que o actual edil de Lisboa, António Costa, liquide as dívidas aos fornecedores, saneie as contas públicas e todo o elevado passivo da capital que foi agravado no passado recente.

Um tal sr. Carréras, que tomou de assalto a Distrital do psd, enrola um argumento imperceptível, e fala na discordância da forma (e do valor elevado) como esse empréstimo foi negociado e é, agora, legítimimamente apresentado na CML pelo Edil - e ao qual este psd de Gaia ameaça chumbar na próxima 3ª feira em reunião de Câmara.

No mínimo, isto tem nome: vergonha, desfaçatez e irresponsabilidade política, tanto mais que foi o PSD que agigantou este passivo, intensificou a crise política que tornou a autarquia ingovernável na capital e sem qualquer confiança juntos dos milhares de fornecedores que já ameaçaram não fornecer mais serviços à autarquia até que as respectivas dívidas sejam saldadas. É assim na vida das pessoas em privado, é também assim na vida pública. Sempre ouvi dizer que as boas contas fazem os bons amigos, mas parece que o PSD é adepto duma nova contabilidade pública que postula que quanto maior for o passivo, maior é a crise e o caos, e, assim, melhor é. Lamentável!!!

António Vitorino, esta manhã na antena da TSF, repetiu um argumento que tinha expendido no Verão: já que deixar de fora a eleição da Assembleia Municipal - com a sua actual maioria absoluta - só poderia conduzir a este tipo de chantagem política que ameça hoje tornar a autarquia ingovernável.

E porquê? Por causa, precisamente, dos jogos políticos florentinos que este psd de Gaia - coordenado com a Distrital de Lx - recorre para fazer politiquice autárquica, por isso, com propriedade e de forma lapidar, António Vitorino, disse:

Este PSD faz o mal e a caramunha.

A nova lei autárquica já não permite este tipo de "prostituição política", mas até lá vigora esta, e esta é bem o reflexo da forma deste psd fazer política e estar na vida pública: tão mesquinha quanto miserável, porque pensa 1º no seu umbigo postergando os reais interesses da cidade. Esta relação também espelha a forma e o modus operandi como o psd de Meneses usurpou o psd de Mendes: recorrendo ao truque, à insídia, ao insulto e, naturalmente, à compra de votos do seu amigo santana lopes - com quem se cumpliciou - para o assalto final ao partido da Lapa.
De modo que esta conduta, politicamente execrável (mas inaceitável), pode ter ramificações no poder local, mormente na capital onde se jogam destinos políticos maiores, sobretudo para um psd nacional de liderança fraca e bicéfala quanto o é a dupla encarnada por Meneses & santana.
Mas será a mesma cidade, Lisboa, a verificar-se o pior cenário, que irá cilindrar esta forma de actuação por parte dos figurantes fautores do caos que agora se prefigura. Os portugueses, e os lisboetas em particular, estão fartos destes ajustes de contas feito às suas custas, por isso não hesitarão em punir os seus fautores personificados num psd sem futuro, sem ideias, errático e desatinado.

Por seu turno, a posição política de Helena Roseta foi racional, sustentada, equilibrada, responsável e consentânea com os interesses da cidade que, neste caso, coincidem com a visão e o projecto do PS defendido pelo presidente da CML, António Costa. Não se esperava outra coisa, de resto.

Helena Roseta sustentou que não se compreende esta posição do PSD, sobretudo quando as condições do empréstimo foram negociadas em excelentes condições: com uma boa taxa de juro, com um bom spread. Manter esta situação de passivo gerada pelo PSD é insustentável, pois não se pode governar uma autarquia com mais de 7000 (sete mil) credores a baterem à porta diáriamente para verem os seus créditos liquidados. Mais uma vez, é assim na vida privada e na vida pública, só o psd, causador desse passivo, é que pensa de modo diverso.

Será caso para perguntar ao partido da Lapa de Meneses se tem algum saco-azul com que pensa gerir Lisboa...

De igual modo Mário Bettencourt Resendes, ex-director do DN, foi claro e realista, afirmando: esta dramatização do edil da capital é mais do que natural. Manter a composição daquela Assembleia Municipal seria suster - digo eu - a espada de damôcles de forma permanente sobre o Executivo, qualquer que ele fosse e, assim, ameaçar as condições da governabilidade da CML e permitir ao PSD administrar essa chantagem a conta-gotas.

É, na prática, o que este psd de Gaia está a fazer. Concertado com a Distrital (ou não)... Mas é provável que esteja, ainda que garantam o contrário, até porque Meneses é autarca (e ainda não falou), por essa razão, muito sensível às questões do Poder Local em Portugal.

Em face do exposto, a hipótese de novas eleições intercalares em Lisboa são uma forte possibilidade. E o que tiver de ser será. Mas se tal vier a ocorrer este miserável PSd coloca-se, de novo, na posição do velho estalinista PCP quando Portugal aderiu à então CEE: um partido anti-sistema, reduzido (sociológicamente) a cinzas na capital do País.

António Costa disse o que tinha de dizer, fez o que tinha que fazer. Esteve bem

O PSD de MMendes, Santana Lopes e de Carmona Rodrigues, depois de ter gerado o caos financeiro, político e de credibilidade geral na gestão de Lisboa - agrava agora a sua identidade com a promessa de vetar o empréstimo de 500 M€O que o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e a generalidade das pessoas qualificadas, informadas e de bom senso, entendem necessário para a gestão equilibrada da autarquia e a normalidade do município.
Sem este empréstimo a autarquia não consegue pagar as dívidas aos fonecedores, e sem esta operação nada mais funciona, como é óbvio. Também é assim na gestão dos orçamentos familiares. A não ser que o PSD queira ser, novamente, responsável por eleições intercalares em Lisboa, o que além de um tremendo desperdício para a cidade e para o país - seria ridículo. E os lisboetas, naturalmente, não são parvos e sabem identificar a raiz do mal.
Neste colete de forças, António Costa esteve bem: disse o que tinha de dizer, fez o que tinha que fazer: encarar a hipótese de se demitir caso o empréstimo não seja viabilizado pelo autor do caos financeiro - o PSD - que agora, muito curiosamente, ameaça inviabilizá-lo pela maioria que tem na AM.
E ao votar hoje contra essa proposta para contrair o referido empréstimo em reunião do executivo municipal - permite-nos encarar todos os cenários que, de resto, são naturais em política. Aliás, em política tudo é possível, até transformar a irresponsabilidade do PSD de MMendes, Santana e Carmona numa irresponsabilidade ainda maior do psd-sinho de Meneses.
Das duas uma:
1. Ou este PSD está já a afiar as facas longas para vetar a proposta de contracção de empréstimo na próxima semana, e então será politicamente responsável pela instabilidade política e por tornar a autarquia ingovernável;
2. Ou está a fazer bluff e a jogar com a sua maioria absoluta na Assembleia Municipal - e será, de igual modo, politicamente responsável pelo caos gerado.
Quer num caso quer noutro, trata-se de acontecimentos municipais extraordinários que, a verificarem-se, serão imputados à vontade objectiva e subjectiva deste PSD que ao inviabilizar aquele empréstimo (vital para a sustentabilidade de Lisboa) está a dizer que não se importa de degradar as condições políticas, financeiras e económicas da cidade desde que isso sirva os interesses táticos e de curto prazo do partido da Lapa, reabrindo, desse modo, o ciclo do risco, da incerteza e da instabilidade de que foi autor no passado, é instigador no presente e fautor no futuro.
Foi também esse mesmo PSD- autárquico que hoje está no banco dos réus acusado de actos de corrupção, nepotismo e demais irregularidades que a Justiça tenta apurar, provar e julgar.
É óbvio que os portugueses, e os lisboetas em concreto, não são parvos, e não o sendo sabem, à partida, como rejeitar esse passado, esse presente e esse mau futuro dum psd que se tornou mais num partido instabilizador do sistema do que um partido promotor da normalidade política ao nível autárquico.
Sucede que os tempos presentes não são tempos para agitadores sociais, nem para ameaças ou chantagens, porque o que esse psd pode transmitir à sociedade ainda está condicionado à linguagem e à práxis do passado que não tem qualquer futuro...
Por isso, bem esteve António Costa ao dizer o que disse e na forma como disse.

PS: A conduta deste PSD neste contexto de condicionalismo e de estrangulamento autárquico, curiosamente causado por si, faz lembrar a conduta do PCP na década de 80 quando Portugal aderiu à então CEE - e teve de ultrapassar a resistência obsessiva de um partido anti-sistema. É isso que o PSD hoje faz lembrar na gestão do Município de Lisboa.

Teresa Salgueiro renasce emigrando dos Madredeus

Finalmente a confirmação. Teresa Salgueiro está de saída dos Madredeus. As mudanças na vida da cantora, contudo, podem não ficar por aqui. De acordo com algumas noticias veiculadas ontem, também o seu casamento com Rui Machado poderá estar perto do fim. [...]
Obs: Felicidades para a Teresa Salgueiro agora fora da banda que a viu nascer e maturar, oxalá que possamos todos olhar para ela como quem aprecia um cálice de vinho do Porto, de preferência sem o parceiro ao lado - que representa poluição visual e estraga a sonoridade.

quarta-feira

Dia Mundial da Doidice

Image Hosted by ImageShack.us

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us

Este é estático.

Participa no Dia Mundial da Doidice ! Envie esta mensagem de solidariedade a todos os doidos que conheces ... Eu já fiz a minha parte!!!

A cidade

Image Hosted by ImageShack.us

A cidade simboliza o espaço do poder, da liberdade e da acção, da criatividade, da fuga, do anonimato e, por vezes, o local do suicídio. A cidade é uma selva: tem tudo de bom e comporta tudo de mau, ela manifesta-se na materialidade do imponente espaço urbano, nos monumentos, nos edifícios, na representação dos agentes sociais e políticos. Mas o essencial da cidade está oculto no fim colectivo, na ordem e na finalidade superior que ela deve ter para mostrar futuro, rasgar caminho e apontar soluções e alternativas a este viver comum num grande espaço feito de redes sociais em que os interesses particulares se misturam com as finalidades públicas. Mas que só estas legitimam o exercício da função política na cidade. Ou seja, a cidade não é uma coisa estática, um espaço, um território é, antes, um jogo de intencionalidades que podem apropriar-se do espaço urbano como alvo e como instrumento da sua acção. O que pressupõe realizar coisas simples como assegurar tarefas mais complexas: (re)pintar uma passadeira integra o lote das coisas simples, gerir um espaço como a zona ribeirinha que hoje ainda está ocupada pelo Porto de Lisboa representa uma tarefa complexa. A qual já envolve um conjunto de relações entre poderes públicos e privados que pode não coincidir nos seus termos e descambar em paralisias na vida da cidade. Por isso é que a cidade deve meditar recorrentemente nas suas próprias ideias e projectos, virtudes e estrangulamentos, e referenciar o quadro de acção por via da hierarquia dos problemas que tem a resolver: seja nos bairos sociais mais desfavorecidos ou entre as comunidades que vivem mais folgadamente.

E como é que concluímos que a nossa cidade se encaminha para um ponto de referência positivo? basta que compulsemos duas variáveis: aquilo que supomos ser a cidade ideal e aquilo que constitui a cidade real. Se a distância entre ambas for abissal vamos no mau caminho, se a distância entre ambas se estreitar vamos no bom caminho. Uma cidade também é isto: não apenas um exercício do poder político concreto, mas também um jogo de intencionalidades, uma rede de especulações puras, teóricas que, depois de discutidas e amadurecidas, são devolvidas à esfera do campo de acção política prática. Sendo certo que o homem é esse misto teórico-prático que ora concerta os buracos na cidade, planifica-a para, de seguida, pegar no carro e matar duas pessoas que estão simplesmente no meio da via a aguardar passagem.

PS: Este miserável texto é dedicado a todas aquelas pessoas inocentes que morreram esmagadas na cidade, quando um dia apenas a encaravam como mais um dia de trabalho, de liberdade, de acção, de criatividade, de... Nada!! porque a morte tudo interrompeu.

PS e PSD chegam a acordo sobre revisão lei eleitoral

( 07:39 / 28 de Novembro 07 )
"PS e PSD já anunciaram o acordo. Espreita no horizonte uma pequena revolução na distribuição do poder entre executivos e assembleias municipais.
A nova lei eleitoral autárquica prevê o voto numa lista única para a assembleia municipal.
Dessa votação sai o presidente da autarquia que é o cabeça da lista mais votada, mesmo que apenas com maioria simples.
Depois, o presidente da autarquia pode escolher metade dos vereadores, mais um, sendo que os restantes vereadores são distribuídos segundo o método de Hondt.
Quanto às assembleias municipais, ganham mais poderes de fiscalização podendo aprovar moções de rejeição ao executivo por maioria simples.
Estas moções obrigam os presidentes de câmara a apresentar, no prazo máximo de 15 dias, um novo elenco de vereadores.
Se a remodelação voltar a ser chumbada pela assembleia municipal, o executivo cai e são convocadas novas eleições"
.
Obs: Creio que as desvantagens são, neste caso, superiores às vantagens, salvo nas eleições para o Executivo e para a AM (que era um anacronismo d'antanho manter). Ao aumento dos poderes de fiscalização das AM soma-se a previsível instabilidade autárquica com os consequentes esquemas de chantagem que, a prazo, podem paralizar mais do que catalizar as energias autárquicas no País.
Sobretudo, numa conjuntura de elevado endividamento e de crise económica em que o "desenrasca" é a palavra e o método de ordem. Contudo, aguarde-se para ver em que se traduz a praxis política regulada por esta nova lei eleitoral que entrará em vigor para o ano. Pode haver surpresas agradáveis - mas também fica facilitado o caminho para "mandar abaixo" um Executivo em funções - sendo certo que o País não pode andar a brincar às eleições.
"Brincar por brincar" já os lisboetas ficaram fartos com a irresponsabilidade santanista que depois encontrou lamentável prolongamento na triste gestão corrente do simpático engº Carmona Rodrigues.
Veremos se o novo será pior do que o velho...

Uma excelente notícia para a economia nacional: VW

O modelo Pão de forma... Será este o modelo que irá garantir mais uma década de desenvolvimento sustentado em Portugal na indústria automóvel? Há quem diga que sim para fazer face à crise na compra de habitação e às elevadas taxas de juro - que só este ano foram aumentadas meia dúzia de vezes.
Os sindicatos, designadamente a CGTP que ponham os olhos neste exemplo e deixem-se de "sovietisses estalinistas" em que hoje já ninguém acredita.

A comissão de trabalhadores da Autoeuropa fica satisfeita depois de confirmado que a empresa vai fabricar o novo Polo já a partir de 2009, mas salienta que esta decisão é fruto do emprenho dos trabalhadores daquela unidade.
O dirigente da Comissão de Trabalhadores, Manuel Martins não tem dúvidas de que isto representa trabalho estável durante pelo menos mais uma década.
«Isto é fruto do nosso trabalho, dos acordos que fizemos nesta empresa na defesa do relançamento de novos produtos e estamos a chegar a uma fase de produção bastante ampla», explica.
«Isto que pode consolidar a fábrica durante mais uma década o que é uma grande satisfação para os trabalhadores», sublinhou.
A Autoeuropa foi inaugurada há 12 anos e emprega quase três mil trabalhadores dando uma importante contribuição para as exportações portuguesas e para o PIB nacional.

O Sócrates oriental

Desta vez José Sócrates, como presidente do Conselho Europeu, conseguiu aquilo que não tinha conseguido como primeiro-ministro: o encontro com o presidente da República Popular da China.
A conversa com Hu Jin Tao foi o primeiro acto da deslocação europeia a Pequim. José Sócrates explicou ao presidente chinês aquilo que o levou até à China.
«A nossa vontade é que desta cimeira saia um contributo para que entre a UE e a China se possam dar resposta aos problemas mundiais e àqueles que estão na primeira linha das preocupações do mundo», disse Sócrates. «Refiro-me as principais questões internacionais, as questões energéticas, mas também as questões comerciais», sublinhou o primeiro-ministro.
Em Pequim, o primeiro-ministro José Sócrates e o presidente da comissão europeia, Durão Barroso, lideram a delegação que participa na cimeira.
O papel dos dois líderes é convencer o império comercial chinês a abrir as portas do seu mercado interno aos produtos europeus.
Após este encontro José Socrates e Durão Barroso fecham a cimeira de negócios que decorre também em Pequim, seguindo depois para a cimeira União Europeia/Ásia marcada para as 17:00 horas em Pequim."
Obs: É curioso ver esta entente cordiale entre Socas+Barroso para abrir os portões comerciais da China à Europa. Isto só prova que em matéria de RI não há amigos nem inimigos, há interesses, como diria o mestre Charles-Maurice de Talleyrand - e é disso que se trata.
Talvez por isso tenha ficado algo assustado quando ouvi Socas referir que foi à China falar de energia, questões comerciais.., ainda temi que ele fechasse a sua ideia com uma alusão directa à defesa e promoção dos direitos humanos (sistemáticamente) violados na RPC como um "bom País" - dois sistemas - acumulando o pior do capitalismo e o pior do comunismo.

Mas isso, evidentemente, estragaria a festa e depois, Socas e barroso seriam metidos no aeroporto sem nenhum envelope no bolso. A esta mentira institucionalizada, a este jogo de cintura, a este conjunto de representações do "gato e do rato" uns chamam Diplomacia, outros realpolitik e outros ainda falta de coragem para incluir no linkage das negociações energéticas matérias de direitos humanos que, assim, fica subordinada a uma questão exclusiva de soberania interna da China e ninguém tem nada com isso.

Ou seja, quem pode manda, e quem manda pode. E na actual conjuntura não é a Europa que manda na China, mas a China que comanda os destinos da Europa.
Por este andar, ainda verei Socas apoiar Barroso para a PR em Portugal um destes dias, e quando isso ocorrer pediremos aqui parecer ao António Vitorino.
Fica a promessa.

Mais areia na engrenagem - do futuro aeroporto...

AEROPORTO DE LISBOA
Coordenador de estudo diz que opção Portela+1 é mais barata
Álvaro Nascimento, o professor da Universidade Católica que coordenou o estudo da Associação Comercial do Porto (ACP) que defende a solução Portela+1 para o novo aeroporto de Lisboa, diz que esta análise aponta caminhos para uma racionalização do investimento público, revelando que é possível poupar dinheiro ao país. [...]
Obs: Este deve ser o estudo encomendado pelo partido do Paulinho das feiras, o cds/pp, e o ar compenetrado com que ontem ele cogitava nos aviões deu-nos a todos a certeza de que a opção Portela + 1 é a solução ideal, para o Largo do Caldas - mas que não servirá, certamente, os interesses efectivos do País. Aposte-se, pois na análise das vantagens comparativas entre a OTA e Alcochete - e decida-se, eventualmente, pelo actual campo de tiro que teria de ser deslocado para Sul.

Miguel Sousa Tavares em todo o seu esplendor. Está de parabéns o homem

Confesso que gostei de ver o Miguel Sousa Tavares na SIC a enquadrar o seu livro, Rio das Flores: é um tipo com "tomates", sabe pensar, sabe falar, é genuíno e autêntico, é frontal e não enrola a língua nem desmerece os outros e, ainda por cima, escreve bem. É pena ser do FCP..., mas não se pode ser perfeito!!
Referiu ainda o legado da senhora sua Mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen, o que foi um gesto bonito de se ver em directo. Bonito e merecido, pois a Sofia era uma Senhora em todos os aspectos, até na arte da poética onde deixou uma marca d´água que ainda hoje perdura e anima as crianças de todo o mundo onde os seus livros são lidos.
A jornalista, a Srª Ana - é que poderia ter-se preparado melhor para a entrevista, pois ao termo de 3º min. fiquei com a sensação de duas coisas: ou estava a "fazer-se" ao Miguel em pleno directo (que vergonha!!!), o que o fez entornar o copo d'água sobre a dita para ver se ela arrefecia; ou então, a dama estava literalmente a encher chouriços por não saber o que mais haveria de perguntar sobre o enredo de toda a narrativa do romance histórico, Rio das Flores.
Ainda pensei que Ela perguntasse ao Miguel se costuma escrever alguns capítulos na cama, à lareira ou...

PS: A parte que o Miguel reservou ao jornalista VPV - que ele desconhecia que o era - foi verdadeiramente destrutiva, dizendo que o Vasco o parasita para se promover e vender mais uns livrinhos (do sec. XIX, acrescentou eu) - à sua conta. Era previsível. O Público, como se estivesse a cobrir o Terramoto de 1755, fez o frete para vender mais uns exemplares, o Vasco recebeu o cachet e aliviou a bílis - e o Miguel na Sic de Balsemão (também dono do Expresso onde trabalha) acabou por esfrangalhar ambos: jornal do Belmiro que anda aflito com a falta de Pub. que provoca míngua de receita e o historiador com duas ou três frases.

Isto também revela a identidade e o carácter de um bom escritor, com garra. Neste caso, no meio de múltiplas guerras: pessoais, empresariais, editoriais, corporativas e outras que tais.

Com todo o seu rancor, ódio e inveja que o Vasco pulido Valete nutre pelo Miguel (e a que o douto Marcelo irá, por certo, comentar na próxima missa de Domingo) conseguiu disfarçar nas suas linhas hoje no Público que aqui republicámos, ele e o jornal Público conseguiram uma proeza: promover ainda mais o MST e a sua obra, e até eu que nunca li nenhum livro do Miguel este Natal estou a pensar pedir ao menino Jesus que me envie o embrulho lá para casa. Agradeço ao Público e ao vasco.

Se Deus existe que tome nota, que depois eu envio a morada para o além... E se for bondoso e quiser enviar dois exemplares que faça favor, que depois reencaminharei o excedente ao cuidado do Vasco para a sua colecção de rancores e ódios de estimação.

E assim vão as Artes & Letras em Portugal. Podia ser pior se houvesse duelo, chapadas e sangue...

  • PS: Alguns dos royalties do Miguel deveriam servir para pagar algumas das fotos que aqui publicamos, tiradas à chuva e ao frio... Ele que pense nisso e me garanta o Natal.

terça-feira

A inteligência e a bondade a caminho da justa sabedoria. Evocação de Albert Einstein e de Agostinho da Silva

Image Hosted by ImageShack.us

Quando vejo estes dois titãs com pés de barro (MST e VPV - no post infra) a discutirem quem é o melhor a produzir literatura no bairro deles, dá-me vontade de rir. Rir porque as pessoas se levam demasiado a sério, rir porque nem um nem outro são assim tão excepcionais, rir porque dão um mau exemplo parecendo puto em briga no recreio do intervalo do jardim-escola. Um ofende o outro por sms, só isto diz muito acerca dos intervenientes em presença, não obstante se tratarem de pessoas com importantes funções mediáticas em Portugal. Se estes dois sujeitos se dessem ao trabalho de consultar certos blogues veriam a humilhação que sofriam, qualitativa e quantitavimente. E só não cito essas referências porque elas são conhecidas entre o meio.
Esta relação de amor-ódio, de consideração-desconsideração entre antigos amigos é penosa, confesso. Todos nós, mais ou menos, já passámos por estórias semelhantes, e por vezes notamos que alguns desses soit-disant "amigos" não estão à nossa altura, e aí sobrevem uma frustração do tamanho do mundo. Dá a sensação que estivémos a encher pneus, a dar pão-de-ló ao burro, a encher uma piscina a cuspo, enfim, a falar para o deserto num qualquer sermão aos peixes.
Há momentos, e isto é um lugar por que todos - mais ou menos - passamos, em que constatamos que os nossos amigos não estão, de facto, à nossa altura, e esse é um momento revoltante, de viragem. É o chamado momento de mandar à merda um amigo: ora, no caso vertente do romance do MST - colhe semelhante reacção por parte do seu ex-amigo - VPV - que fez isso mesmo: mandá-lo à m.... Depois o MST, quando tiver oportunidade - seja na antena da TSF, na TVI ou num jornal qualquer, terá a mesma cortesia e mandará o VPV igualmente para o mesmo destino.
Homens cultos, inteligentes, sagazes, técnicamente preparados e depois comportam-se como rapazolas de escola que amuam, dramatizam, vitimizam-se, atacam-se canalhamente. Isto chama à colação o papel da inteligência com a bondade e os bons sentimentos na sociedade. Quantas pessoas têm a 1ª valência e depois revelam maus sentimentos na segunda: são invejosos, "comem para dentro da gaveta" (como dantes se dizia dos algarvios), são egoístas e egocêntricos, empolam situações que seriam dirimidas num contexto de normalidade, etc. Nestes casos as motivações da litigância são pessoais, ideológicas, políticas, económicas, de imagem, de status e outras...
Essas pessoas, ainda por cima, têm a mania que são superiores aos outros, que pensam, escrevem e actuam duma forma mais correcta do que os outros. E, afinal, não passam duns pobres de espíritos: não têm amigos (mas dizem que os têm); não dão duas para a caixa (e fartam-se de encher a boca com performances que não asseguram); vivem em redes fechadas, num solipsismo pegado, por vezes virtual e anónimo. Não é o caso, certamente, de MST e de VPV - que são bem conhecidos e têm uma obra assinalável, ainda assim cheia de pecados e defeitos, como qualquer mortal.
Mas a vida está repleta de anormais, de doentes polares, de esquizofrénicos - de pessoas que são, de facto, assim, mas julgam-se normais porque alguém lhes disse um dia: "o senhor é genial", e alguns desses cromos até passam a vida a escrever cartas a eles próprios para se convencerem disso mesmo. E depois embandeiram em arco e permitem-se tudo, enchem-se de virtudes públicas e, afinal, não passam de farrapos enrolados em vícios privados. O Eça conheceu-os bem, nós por cá também conhecemos alguns desses players, mas a questão essencial fica por resolver: como harmonizar o capital-inteligência com o capital-bondade a caminho duma sociedade de sabedoria neste 1º quartel do III milénio!?
Como limar as arestas de gente excepcionalmente inteligente com a bondade natural dos "parvos"?! É difícil fazer esta quadratura do círculo: os talentosos julgam que têm direito a um lugar à parte, a um estacionamento gratuito e permanente no Paraíso; os "parvos" sabem que são parvos, resta-lhes a bondade natural de servir o outro e a sociedade com a "parvidão" de sempre, sem rasgo. Os talentosos marginalizam os "parvos, e estes, por seu turno, querem integrar-se no grupo dos talentosos. É uma luta desigual. Sendo que o ideal seria construir uma sociedade em que o valor da bondade natural fosse tão apreciado quanto o do talento, e assim a pessoa, a organização, a instituição seria mais cotada quanto reunisse as duas valências na sua performance social.
Sabe-se que Albert Eisntein, por exemplo, foi considerado por alguns uma prova viva do conceito kantiano (reunindo elevada inteligência com elevado potencial cívico), ou seja, alguém capaz de elaborar uma teoria concebida pela inteligência capaz de trazer algo de novo e útil à sociedade. E quando soube que algumas das suas teorias poderiam servir para o mundo ficar mais belicoso e conflitual - ele, pura e simplesmente, (porque era um pacifista e suspeitava-se das suas ligações secretas às correntes de esquerda) afastava-se dos projectos, como sucedera com o Projecto Manhattan - no âmbito da II Guerra Mundial - que tinha o grave problema de eliminar a agressividade do imperialismo alemão de raiz hitleriana que andava pelo mundo a largar bombas e a prometer a constituição do III Reich - liderado - obviamente - pelo sr. Adolfo.
Onde é que pretendo chegar com toda esta narrativa e derivas? Um dos desafios do tempo presente é fazer com que o homem consiga conciliar a inteligência, o talento, os skills múltiplos necessários à construção duma ponte, à descoberta duma vacina, à elaboração duma teoria sociopolítica com a bondade natural a caminho da criação da chamada sociedade da sabedoria.
Infelizmente, e fazendo aqui luz da minha escassa experiência de vida, tenho encontrado poucas pessoas que conseguiram reunir numa só pessoa esses elevados índices de intelegiência, talento com sabedoria e bondade. Uma dessas pessoas foi o mestre e amigo Agostinho da Silva - que aqui aparece alinhado com Einstein. O resto, quando se olha para o resto, é uma desgraça de terra queimada que, por vezes, até é bom nem recordar.
O homem é, afinal, esse filho-da-mãe desatinado em busca do seu interesse próprio, muitos ainda continuam a "comer para dentro da gaveta", e julgam que são mundos virtuosos que irradiam saber e luz. Quando, afinal, não passam duns trolhas convencidos de que o mundo se lhes rende ao 1º sinal. Essa gente anda iludida, e se fossem mais humildes veriam que só teriam a ganhar, assim como a sociedade no seu conjunto.
Infelizmente, a nossa sociedade está montada para estimular e engrenar no chamado homem de talento mas "filho-da-puta". É aquele que tem alguns skills mas que nunca hesitará em tramar a sociedade se os seus interessezinhos e o seu ego não forem primeiramente atendidos e afagados. São os mesmos cromos que escrevem cartas a si mesmos convencendo-se de que são uns génios ante essa falsa e/ou artificial assembleia de heterónimos que hoja até faria rir Pessoa no Martinho da Arcada.
Mas o nosso desafio é outro, bem outro: contribuir para criar esses talentos mas encaminhá-los para as virtudes sociais e cívicas, porque é aí que esses skills verdadeiramente se amplificam e ganham amplitude e dimensão social, económica, moral e ética.
Até lá navegamos à vista das arcadas da nossa própria arrogância e soberba.

Image Hosted by ImageShack.us

As "zebras" do Jumento: um cruzamento perigoso...

Sugira-se ao fotógrafo de serviço à cidade que esperasse mais 15 ss. para aproveitar e tirar a chapa a um BM série 7., mais 27 ss., registaria o Jaguar do Jardim Gonçalves ou um Aston Martin, ambos carros capitalistas, o que ficaria mal. O ideal seria "chapar" um carro do povo, um VW, assim daria uma imagem proletária e amiga do "povão". Dessa forma até a zebra ganharia outro brilho ante os poemas do Pessoa na fronteira do Martinho. Sugira-se, pois, mais paciência ao fotógrafo.

O Jumento chama a atenção da autarquia - através destas duas imagens de que é autor - para que o Sr. Presidente mande pintar as zebras onde passam muitas e poucas pessoas, muitos e poucos eleitores. De facto, não se percebe como as zebras não estão onde deveriam estar. Pergunto-me se será falta de tinta, falta de verba, falta de lentes - cujo défice foi agravado pelo Executivo precedente ou, simplesmente, esperança que as pessoas já não sejam atropeladas, ou, sendo-o que o sejam fora das passadeiras.

Como mero cidadão também gostaria que houvesse passadeiras em Lisboa inteira, nos locais apropriados, desde que, a montante, os condutores também soubessem conduzir, observassem as regras e às 5 da madrugada não andassem a 120klh. nas artérias da cidade a ceifar semáforos e, de caminho, triturar pessoas que apenas tentavam atravessar a estrada para ir trabalhar.

Espero que dentro duma semana os "homens da Robialac" metam as zebras onde faltam - no Campo das Cebolas - sem com isso garantir que não haja mais acidentes, cuja prevenção depende, essencialmente, da forma como se conduz e não dos sinais longitudinais na cidade (mero paliativo). Até porque grande parte dos acidentes também ocorre nas passadeiras. Azar!!!

Ao fim e ao cabo para que servirão as regras de trânsito e os sinais se, na prática, os condutores as violam!? Se assim for, pergunto-me se a autarquia não deverá investir mais em pedagogia - em articulação com as Escolas de Condução - do que nas zebras do jumento que tardam...

Vasco Pulido Valente volta a criticar o livro de Miguel Sousa Tavares

UMA GUERRINHA DE BURGO ENTRE PEQUENOS TITÃS...
Confesso aqui que não me interessam muito os livros de um e doutro que, de resto, não leio. Mas respeito as suas opiniões escritas nos media. Gosto da acutilância de VPV e do realismo combativo com consciência social de MST, embora um e outro, por vezes, emitam opiniões de que discordo, mas respeito intelectualmente. Mas creio que há aqui uma quezília entre ambos que ganha continuidade sempre que um lança mais um livro - o outro põe o seu saber ao serviço da destruição intelectual do autor. isto é quase uma guerra existencial personificada na fórmula vita mea mort tua. Eis a função cultural de VPV, e MST, por seu turno, diz que "tem pena de VPV" na antena da tsf, como se este fosse um velho trapo deixado na valeta numa ruela de província. Isto é lamentável, porque dois homens de cultura e de inteligência superior desperdiçam boa parte do seu tempo e das suas energias criando animosidades e conflitualidades que só têm uma finalidade: alimentar o ego de quem as produz e provar a genialidade das críticas. O que revela que até pessoas desta importância social assumem posições de criançola de bairro.
Sem ler os livros de um e outro, repito, apenas fico-me pelas análises de imprensa, percebo que são duas pessoas com uma visão alargada do mundo, sabem pensar, articular, correlacionar factos e, sobretudo, o MST comunica bem; o VPV é imperceptível e um comunicador tão fastidoso quanto quezilento. Com a idade temperou essa litigância social latente que só o marginalizava. Desse modo, acho que o VPV vive obsecado pelos sucessos editorias do MST. Aquele vende às dezenas, o MST vende às centenas de milhar, e isto, obviamente, enfurece o VPV - que depois canaliza todo o seu talento para mostrar que MST não compreendeu bem a época que visou explicar, os seus personagens são fracos, a narrativa está repleta de incoerências e o diabo a sete.
Mas para lá destas maldades - que remontam ao passado em que VPV pediu ao MST que lhe escrevesse a biografia e a sua passagem efémera pela pasta Cultura (que MST não aceitou), está um conjunto de razões mais profundas que tentarei aqui alinhar sem qualquer pretensão metafísica:
1. Na base do conhecimento erudito do mundo social, estão leituras desse mesmo mundo fundadas em reservas de experiências prévias, as nossas próprias transmitidas de pais a filhos sob a forma de conhecimentos disponíveis, e que acabam por funcionar como esquemas de referência. E referências, neste caso, poderão ser - ou passar a ser - as derivas expostas nos livros do MST que desactualizam a alta erudição do séc. XIX de VPV que só meia dúzia de intelectuais e académicos têm a paciência de ler. Aqui VPV perde para o MST; E este está a dar cabo do legado histórico de VPV;
2. Creio que o mundo que um romance visa é um conhecimento quotidiano, simultaneamente intersubjectivo e cultural, porque ele não é somente o mundo do seu autor mas também o de outros homens, entre os quais aqueles que nos precederam, e até porque esse mundo é constituído por significações que se sedimentaram através da história - que o VPV não escreveu, não percebeu nem nunca virá a escrever, porque lhe escapa. A história e os factos sociais são maiores que o VPV. Aqui VPV também perde, porque vive eclipsado na sua douta cápsula de conhecimento achando-se o grande especialista em história do séc. XIX, e quem dela falar sem o seu visto prévio é, segundo aquele historiador, uma "besta": e "besta" parece que era o que o douto historiador chamava aos seus alunos, o que revela bem a frustração do homem e a forma como o dito está na vida. Basta falar com alguns dos seus alunos para testemunhar estes coices do dito historiador que eu nem dois min. teria paciência para aturar.
3. Depois - na linha das usuais críticas que VPV faz a MST - porque dele tem uma inveja de morte (é a questão vital da idade e da virilidade que assiste a um e já há muito largou outro), até porque este tem uma oralidade fluente e sabe comunicar com eficácia e não parece um gago à porta do metro a pedir moedinhas para beber um traçado ou uma ginginha nas Portas de Sto Antão, as posições do MST - sem que eu tenha lido os seus livros (apenas me fundamento nas suas intervenções orais on tv e nos artigos de opinião, repito) - há uma constante preocupação em que as suas posições reflictam um mundo social diferentemente distribuído mas cuja estruturação assenta em diversas camadas da realidade, ou em realidades múltiplas.
Por exemplo, as tomadas de posição de MST em prol do Ambiente, do Planeamento e do Ordenamento do Território mesmo dizendo asneiras de quando em vez, têm um saldo eminentemente positivo no Portugal post-25 de Abril, os livros do VPV servem para aclarar a história do séc. XIX, desancar no cavaquismo, agora em versão socratista e deixar meia dúzia de historiadores e académicos lânguidos e ampliar o seu ego. Impacto e vantagem social com efeitos directos nas pessoas não tem. Aqui o MST também leva vantagem ao pobre do Vasco PV que só vende umas migalhas se comparado com MST. Coisa que aquele não suporta... Também aqui VPV perde por causa deste défice contabilístico.
4. Depois VPV terá de se habituar a uma coisinha: além de escrever bem, as suas temáticas são já demasiado previsíveis, é sempre o poder, a sociedade, as greves, o ministro A, B ou C, a história do séc. XIX, a guerra, a paz, e, claro, o seu tremendo ego que está sendo implodido sempre que o MST edita mais um livro e faz furor, para desgraça de VPV - que assim vê o seu prestígio, a sua memória e a sua quota de mercardo minguar. Vasco não perdoa nem tolera isto.
Miguel, à luz daquele, é um bandido iletrado, um amador das letras que ainda não se familiarizou com o alfabeto. E toda a noção de romance, de narrativa, de construção dos personagens não passa duma coisa estéril, típica dum estagiário, dum amador de prosas ao serão, porque só ele, o genial Vasco, é que sabe pensar e escrever, escrever e pensar. Falar é que é mais difícil, porque a língua enrola muito e os perdigotos ofuscam a tela... Pois!!!
5. Depois o VPV pensa que é o mundo erudito ambulante que faz a história, e o mundo do MST apresenta-nos o mundo social - no caso vertente duma família de latifundiários alentejana - povoada de conhecimento comum, no qual se apoia, presumo... Pois, como referi, não leio os livros de um e de outro. As impressões que aqui sistematizo resultam da minha análise de 20 anos de crónicas e de entrevistas e tomadas de posição sobre factos sociais e assuntos de natureza política.
Mas sendo ambos homens superiormente inteligentes porque não se deixam de merdinhas e passam ser mais parcimoniosos um com o outro.
Ou será que isto serve para manter viva uma polémica artificial e vender mais papel!!? É que um e outro podem escrever bem, e escrevem, de facto, mas não podem esquecer-se de que há centenas, milhares de escritores que o fazem de forma melhor, mais iluminada e com metade das páginas que ambos utilizam para transmitir as suas histórias, mensagens e trajectos de vida.
Humildade precisa-se. Se eles lerem os clássicos verão quão anões são do alto dos respectivos egos. Mas confesso aqui que adiro mais à consciência social do MST do que à habitual verborreia de ego inflamado de VPV. Um e outro - não sendo de mundos diferentes, são de gerações diferentes, e, por vezes, isso basta para afastar as pessoas.
Ou seja, por vezes os mais velhos, que já estão velhos e não conseguem aceitar a ideia de morte e de finitude da vida, como aqueles leões em fim de carreira nas savanas africanas - que já não patrulham o território, cobrem as fêmeas e defendem a prol, sentem-se a morrer aceleradamente e, por essa razão, começam a implicar com tudo e com todos como forma de dilatar o seu próprio prazo de vida, também sinal ou evidência de (suposta) vitalidade. Quando, afinal, do que se trata é um sinal de fraqueza.
Numa palavra: o VPV deveria fazer como eu, não se levar muito a sério, nem ler os livros do MST mas respeitá-lo e não atacá-lo de cabeça perdida, ainda que isso seja disfarçado com grandes e geniais ideias de literato que qualquer investigador descodifica e desmonta em dois tempos...
Motivos mais do que suficientes para se começar a ler os livros do MST, e se neste Natal me sobrarem uns cobres lá irei depositar os meus trocos nos bolsos do Miguel. Embora o mais provável seja ler alguma síntese ou recensão bem feita e depois dissertar sobre ela, assim dou uma ideia de leitor assíduo da obra do cronista e também de homem culto da República. Depois então estarei encartado para começar a escrever os meus próprios livros e dizer mal de todos aqueles que escrevem melhor do que eu.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
O Macro republica aqui o artigo que o Público solicitou a VPV sobre o último livro de MST. Sirvam-se...
Rio das Flores Vale pouco ou nada como romance histórico, é pobre e vulgar como romance de família
24.11.2007
Pedimos a Vasco Pulido Valente que lesse Rio das Flores, o último livro de Miguel Sousa Tavares. O romance conta a história de uma família de latifundiários alentejanos na primeira metade do século XX. O historiador, especialista da República, não gostou e diz que o escritor não ilumina a época nem a percebe Numa entrevista ao Expresso, Miguel Sousa Tavares contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o Equador, sem o ler) e acrescentou alguns comentários desagradáveis. Como é natural, desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". Parece que, segundo o critério dele, não "deu", por esta vez, "cabo de mim". Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse, revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões Miguel Sousa Tavares não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo. Excepto sobre o meu "carácter" privado, não abriu a boca. Em cinquenta anos, não me lembro de encontrar um ódio tão inexplicável. Fiquei espantadíssimo e até, num encontro de acaso, lhe tentei falar, para o ouvir e, como lhe disse, para lhe poupar no interesse dele uns tantos disparates no Rio das Flores. Não quis Escrevo esta crítica sem prazer. Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau. Mas, como se compreende, não podia deixar que a brutalidade de Miguel Sousa Tavares chegasse para me calar. PreâmbuloUma ficção histórica (um romance), como a história, interpreta o passado. Ao contrário da história, pode inventar um passado, onde as fontes são omissas ou parciais. Pode deformar coerentemente o passado (dentro de limites), atribuindo, por exemplo, uma mentalidade moderna a personagens da Antiguidade ou da Idade Média. O que não pode é desconhecer e falsificar o passado ou dar dele versões falsas, simplificadoras ou propagandísticas. Convém, por isso, no caso do Rio das Flores, partir deste ponto elementar. Tanto mais que Sousa Tavares anuncia na badana que o livro assenta num "minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica". OpiniõesRio das Flores é a história de uma família de latifundiários do Alentejo entre 1915 e o fim da II Guerra: do pai (Manuel Custódio, que morre ao princípio do livro), da mãe (Maria da Glória), dos dois filhos (Diogo, o herói do romance, e Pedro, o seu contraponto), da mulher de Diogo (Amparo), da amante de Pedro e da segunda mulher de Diogo. Pelo livro perpassam outras criaturas, sempre de uma convencionalidade absoluta, que pouco vão além do nome, ou da etiqueta, e se esquecem imediatamente. Mesmo as personagens principais são pouco densas, sem complexidade ou interesse. Através da família dos Ribera Flores, o Rio das Flores pretende ser uma meditação política sobre a primeira metade do século XX. É bom por isso saber, um a um, o que têm dentro da cabeça e, sobretudo, o que tem dentro da cabeça Miguel Sousa Tavares: uma distinção muitas vezes difícil de estabelecer. a. Opiniões de Manuel Custódio sobre a República - Claro que não tratarei aqui de opiniões, que servem para "caracterizar" Manuel Custódio como "personagem": uma regra que apliquei a Diogo e a Pedro. Só me interessam aquelas que revelam os conhecimentos dele ou, se preferirem, o grau de consciência da situação em que vive. Manuel Custódio acha, por exemplo, que "as despesas da corte no tempo de Monarquia" eram ridículas comparadas com "o desperdício de dinheiros públicos do governo do dr. António José de Almeida - "o rei dos demagogos, o maior vendedor de feira que este país já conheceu"". Sendo que António José de Almeida foi presidente do Conselho entre Março de 1916 e Abril de 1917, quando Portugal entrou em guerra e se organizou o Corpo Expedicionário para a França, a comparação não faz sentido, nem (como no caso) numa querela de café.Manuel Custódio acha que a República queria proibir "os padres de andar vestidos de padres". A República proibiu o uso de vestes talares na rua, isto é, de vestes que chegassem ao calcanhar (do latim: talus, calcanhar): numa palavra, a batina. Não proibiu o fato preto e o cabeção (ou volta), e a coroa, que identificavam perfeitamente os padres.Manuel Custódio acha que vai "ganhar quem eu disser ou quem disser aquele pateta do Joaquim Gomes, o cabo eleitoral dos republicanos em Estremoz. É só esperar para ver qual de nós dois está disposto a gastar mais dinheiro com a eleição e depois contam-se os votos - se não houver chapelada deles". Isto mostra, numa cápsula, que Manuel Custódio não compreendia os mecanismos eleitorais da República, na prática um regime de partido único, o Partido Democrático. Nesse ano, 1921, ganhou a maioria o Partido Liberal por decisão de António José de Almeida (na altura Presidente da República) e com o acordo do Partido Democrático: o que, de resto, levou rapidamente ao assassinato do presidente do Conselho, o "liberal", António Granjo. Daí para frente, como desde 1911, o Partido Democrático ficou sempre, como antes, com a maioria no Parlamento e no Senado e Estremoz nunca elegeu um deputado monárquico.Suponho que isto basta para indicar a natureza e a perspicácia das discussões políticas nos jantares de Manuel Custódio.b. Opiniões de Diogo sobre a República - Como notei atrás, é difícil separar Diogo de Miguel Sousa Tavares. Seja como for, trato aqui só de opiniões que Miguel Sousa Tavares resolveu atribuir a Diogo e que não servem directamente para o "definir".Escreve Sousa Tavares: "Diogo (...) não gostava de ser tratado por morgado, esse título que se referia ao iníquo sistema sucessório em que filho varão mais velho herdava tudo, como forma de defesa da propriedade familiar, evitando a sua divisão entre vários herdeiros. A República pusera fim legal aos morgadios e ele, embora tivesse saído pessoalmente a perder, estava de acordo." A Monarquia "pusera fim legal" ao último morgadio em 1863, com excepção da Casa Real. Nem Diogo, nem o pai, nem o avô, nem o bisavô, nem o tetravô repararam na coisa.Diogo acha que a República instituiu "o sufrágio universal". A República notoriamente não instituiu o sufrágio universal. A lei eleitoral de 1911 deixava votar os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de família há mais de um ano. Infelizmente, na "eleição" de 1911 não se votou, por pressão do Partido Republicano, em quase metade dos círculos. Pior ainda, nos círculos em que se votou, bandos de terroristas "fiscalizaram" o acto. Na eleição seguinte, em 1913, o Partido Democrático restringiu o voto a maiores de 21 anos, do sexo masculino e letrados: um corpo eleitoral mais pequeno do que o da Monarquia. A República não podia, como é óbvio, deixar votar o povo analfabeto do campo, que obedeceria ou se "venderia" aos "caciques" monárquicos. Até 1926 (com a excepção do "sidonismo"), o regime de 1913 praticamente não mudou.Diogo acha que a República decretou "o divórcio para quem não é católico". A República, de facto, decretou o divórcio para quem era ou não era católico, para quem se casara pelo registo civil ou pela Igreja. Mas são subtilezas que excedem Diogo.Diogo acha (ou parece achar) que a República foi uma democracia. A um amigo pergunta: "Os portugueses livraram-se de uma ditadura (a Monarquia) e, menos de vinte anos depois, já querem outra (a ditadura militar)." E, durante o pronunciamento republicano de 1937, pensa que em breve se irá restabelecer a "legalidade democrática". Verdade que Diogo tem ideias muito estranhas sobre a Monarquia e era muito novo em 1910. Mas não conseguir ver, aos 27 anos, o que toda a gente via, ou seja, que a República não passara da ditadura do Partido Democrático (de que ele mesmo, de resto, se gabava) e que não existira legalidade alguma, excede a ignorância permissível.Diogo acha, enfim, que é (ou foi) "um monárquico constitucionalista". Esperemos que tenha querido dizer "constitucional".É com uma personagem desta lucidez que temos de acompanhar a história política de Portugal, de Espanha, do resto da Europa e do Brasil durante 608 páginas. É principalmente através dele que o leitor é convidado a "ver" a ditadura, a liberdade e o destino do mundo.c. Opiniões de Miguel Sousa Tavares sobre a Monarquia e a República - Quando aqui me refiro a Miguel Sousa Tavares deve ser claro que me refiro ao narrador. Incumbia, em princípio, ao narrador alguma exactidão e alguma subtileza interpretativa. Vamos por partes. Começa por que Miguel Sousa Tavares, como Diogo, tem uma ideia insólita da Monarquia. Sousa Tavares acha que uma "aristocracia caduca e inculta" dominava a Monarquia: os "marqueses de berço" e os "condes de ocasião". Desde 1871, ou seja, nos cinquenta anos que precederam a República, estiveram no governo, entre dezenas de ministros, 2 marqueses, 3 condes, 3 viscondes. Excepto Sabugosa (um ano no Ministério da Marinha), nenhum "de berço", todos "de ocasião". Havia, claro, muita gente de "boas famílias de província" ou da classe média de Lisboa e do Porto, em geral com pouco dinheiro, que mandara estudar os filhos. E uma apreciável quantidade de self-made men. De uma "aristocracia caduca e inculta" a governar o país nem os próprios republicanos se queixavam.Sousa Tavares acha que existiu um "poder autocrático e distante" nos "últimos tempos da Monarquia". Poder de quem? Dos partidos? Do rei? E quando? Durante a crise de 1891-1893? Durante os meses da "ditadura" administrativa de João Franco? A "descrição" é vácua: e falsa.Sousa Tavares acha que "os grandes capitalistas (...) tinham mantido cativa a Monarquia, trocando créditos à Casa Real por concessões de monopólios e oportunidades de negócio nas colónias de África". Os governos vigiavam os dinheiros do rei, vintém a vintém. João Franco publicou (com injusto escândalo) as contas todas. Nem o mais remoto vestígio de evidência permite a Sousa Tavares dizer o que disse. E nem o Partido Republicano, indiferente à calúnia, se atreveu a ir tão longe. De resto, as noções de Sousa Tavares sobre a República são vagas. Acha que foi um regime "dissoluto, deliquescente" e "que parecia sem rumo" (o que não quer dizer absolutamente nada). Acha que "abandonou à sua sorte as colónias de África por absoluta incapacidade de gestão" (um erro óbvio) e acha que se "arruinou na aventura militar da Flandres" para conservar o Império Português (tese contestada e hoje abandonada). Acha que a República fez do "clero regular, e em especial dos Jesuítas, o seu principal inimigo" (não existiam em Portugal mais de uma centena ou duas de Jesuítas no 5 de Outubro) e que "insinuou tréguas" ao clero regular, "em troca de apoio". Não lhe ocorreu sequer que a Lei de Separação, que tenta "explicar" (com vários erros pelo meio), se dirigia na essência ao clero regular. Nada disto é para levar a sério e não contribuiu remotamente para que alguém perceba a República.Mas Sousa Tavares não pára aqui. Acha, por exemplo, que a República confiscou os bens dos "aristocratas exilados" (não confiscou) e que o Papa "se apressou a publicar uma encíclica contra ela" (não publicou uma encíclica, publicou uma bula, que repetia a doutrina pouco antes estabelecida para França) e que deu "instruções secretas aos bispos portugueses com vista a uma resistência clandestina como no tempo dos primeiros cristãos de Roma" (!!!). Vale a pena comentar?d. Opiniões de Pedro - Pedro, graças a Deus, quase não fala. Expele tiradas de propaganda, com frequência completamente anacrónicas (mas não se pode pedir muito). É o contraponto da direita de que Diogo precisa. Não adianta, nem atrasa.Resumos de "História"Como o Rio das Flores vai de 1915 ao fim da II Guerra, Sousa Tavares é obrigado a entremear a vida dos Ribera Flores, com resumos do que sucedeu em Portugal e no mundo. Estes resumos seriam sempre uma simplificação. Com Sousa Tavares, são, além disso, de um primarismo, de uma banalidade e de uma ignorância, que não permitem o mais vago entendimento do que se passou. Tanto mais que o narrador resvala constantemente para a retórica da indignação pré-"25 de Abril" e de quando em quando faz digressões de uma extraordinária irrelevância, para exibir a sua virtude ou a sua cultura, ou simplesmente porque lhe pareceram "engraçadas". Não se procure aqui a história ou "atmosfera" dos anos 20, 30 e 40. Segue, para guia do leitor, a lista dos resumos:A Ditadura Militar, Salazar e o Estado Novo - Com erro atrás de erro, não há lugar-comum que Sousa Tavares nos poupe sobre o "28 de Maio", a personalidade de Salazar e a perversidade do Estado Novo. Infelizmente, como não compreendeu a República, não consegue compreender Salazar, nem os mecanismos por que tomou e consolidou o poder. O narrador repete a evidência de que o exército e a Igreja apoiaram Salazar: não esclarece nem como, nem porquê. E não lhe ocorre que a liquidação política do liberalismo e do radicalismo a favor do "viver habitualmente" (cujo significado essencial lhe escapa) implicasse mais do que a polícia e a censura. O pronunciamento de Fevereiro de 1937 - O narrador não trata dos motivos corporativos do pronunciamento ou da sua natureza política. Resolve contar o episódio, em que Diogo nem sequer participa, porque sim. Política espanhola até 1936 - Diogo explica incontestavelmente o que o narrador pensa: "Houve eleições (em 1931), ganharam os republicanos e socialistas e há um governo legítimo em funções. Um governo escolhido pelo povo: conhece melhor alternativa para governar os povos?" Em 1932, torna a dizer o mesmo. Talvez seja apropriado observar que em 1931 e 1932 já a Espanha estava em guerra civil larvar. A Guerra Civil de Espanha - Miguel Sousa Tavares escreve que a Frente Popular ganhou a eleição de 1936 por 150.000 votos, uma margem ridícula. Se tivesse lido Hugh Thomas com atenção (vem na bibliografia), saberia como esse número é enganador e artificial. Não leu ou não se ralou. O título do primeiro grande "clássico" sobre a Guerra de Espanha é O Labirinto Espanhol. Mas Miguel Sousa Tavares não perde tempo com complexidades. Num único parágrafo descreve (mal) as razões políticas da guerra e segue para uma reportagem truncada e tosca da conspiração e do levantamento militar. Por necessidade narrativa (Pedro vai para Sevilha para combater na Legião Estrangeira), conta em mais pormenor o "golpe" de Queipo de Llano em Sevilha e, com um enorme buraco pelo meio, a campanha nacionalista até Madrid, onde Pedro é ferido.Desta prosa atrapalhada e confusa, sobra uma pérola. Cito: "No lado oposto, pontificava o socialista de esquerda Largo Caballero, um político populista e demagogo (...). "A revolução a que aspiramos - dizia ele, sem medir as palavras - só terá sucesso através da violência."" Isto sobre um homem a quem chamavam desde 1933 o "Lenine de Espanha, um homem que organizara e declarara a greve geral revolucionária de 1934 (a chamada "revolução de Outubro) e que já expressamente ameaçara antes com a guerra civil : "não media as palavras". Isto sobre o chefe de um partido, cujo programa, entre outras coisas, reclamava: a nacionalização da terra, a dissolução e expropriação das ordens regulares, a dissolução do exército e a dissolução da Guarda Civil: "não media as palavras".A política de não-intervenção - O narrador volta à denúncia (indignada, claro) da política de não-intervenção. Tal qual como se Blum (a Frente Popular Francesa) e a Inglaterra fossem absolutamente livres de intervir e tivessem escolhido não o fazer. Não eram e seria aqui inútil demonstrar por quê. Mas três observações de Miguel Sousa Tavares merecem (pelo absurdo) um comentário.1.ª Sousa Tavares escreve: "De início, o ditador comunista (Estaline) não parecia muito inclinado a envolver-se no conflito espanhol, mas a enorme pressão exercida pelo Komintern acabou por forçá-lo a mudar de política." Se, em 1936, algum membro do Komintern manifestasse a mais ligeira discordância de Estaline, seria imediatamente morto, se estivesse na URSS, ou expulso do partido, se não estivesse. Miguel Sousa Tavares não sabia isto? 2.ª Sousa Tavares escreve, glosando o tema: "Depois de duas décadas a pregar o "internacionalismo proletário", os comunistas de todas as partes do mundo não conseguiam compreender como é que a "Pátria do Socialismo" poderia assistir de braços cruzados a um conflito onde um povo em armas pela Revolução Socialista enfrentava uma coligação de todas as direitas, apoiada por Hitler e Mussolini." Os comunistas não conseguiam compreender? Não tinham compreendido o terror no Partido da União Soviética, os julgamentos de Moscovo (e ainda em 1936 os de Zinoviev e Kamenev), a mudança na Alemanha e na França da estratégia "classe contra classe" para a estratégia "frente popular"? Não iriam compreender o pacto germano-soviético em 1939? Miguel Sousa Tavares não sabia disto?3.ª Sousa Tavares escreve: "Graças ao trabalho de sapa do embaixador em Espanha, Teotónio Pereira, e à sua facilidade em chegar junto a Franco, foi possível (...) conter os ímpetos expansionistas do ministro (dos Negócios Estrangeiros e antes do Interior) espanhol (Serrano Suner) e a sua tentação de estender o Reich à Península Ibérica. / Este foi o primeiro objectivo de Salazar na pasta (dos Negócios Estrangeiros) e teve sucesso." Miguel Sousa Tavares engole aqui (anzol, linha e cana) a propaganda salazarista. Franco nunca quis qualquer aliança com Hitler como provam à saciedade as condições proibitivas que lhe pôs no encontro de Hendaye (1940). Hitler também não queria a expansão da Alemanha para sul, como escreveu no Mein Kamppf , nem a "estratégia de ofensiva no sul", como mostrou em 1940 e 1941. Em Hendaye, queria que a Espanha expulsasse a Inglaterra de Gibraltar, sozinha ou com uma pequena ajuda, e sem compensações territoriais, susceptíveis de incomodar a Itália e a França de Vichy, coisa que Franco naturalmente recusou. Nem Salazar, nem Teotónio Pereira contribuíram fosse o que fosse para a neutralidade da Península.Política externa de Salazar - Sobre a política externa de Salazar é ocioso insistir. A neutralidade de Portugal convinha aos dois lados. As pequenas cedências aqui e ali (volfrâmio, Açores) como a zanga com Armindo Monteiro, embora parte do folclore da velha oposição, não têm qualquer espécie de significado. Um ponto, no entanto: ao contrário do que Sousa Tavares parece pensar (ou leva o leitor a pensar), Salazar deu "total liberdade" a todos os "serviços de espionagem" e não só aos alemães.Política brasileira - Por causa da progressiva emigração de Diogo para o Brasil, há em Rio das Flores dezenas de páginas sobre política brasileira (e mesmo sobre a economia do café), que não sou competente para avaliar. De resto, se o assunto me interessasse, e duvido que interesse alguém em Portugal, escolhia outro livro. Com este (que li e reli), não aprendi nada. CronologiaMiguel Sousa Tavares reconhece, numa "nota final", que tomou algumas liberdades com a cronologia. O que não interessaria muito, se elas não afectassem a substância da intriga. Mas neste caso afectam. Duas vezes.1.ª Miguel quer "mover" Diogo para o Brasil. Diogo é proprietário de uma firma de import-export, que um judeu alemão, Gabriel Matthaus, representa no Brasil. Em Dezembro de 1935, Gabriel vai ver a família à Alemanha e, segundo Sousa Tavares, fica oficialmente impedido de tornar a sair. Ora, excepto se Gabriel fosse por qualquer razão um "suspeito" político (coisa que o livro não menciona), em 1936 podia ainda deixar a Alemanha, embora sem dinheiro ou praticamente sem dinheiro (o que o prejudicava relativamente pouco porque vivia da empresa do Brasil). Entre 1933 e 1937, emigraram 87.000 judeus alemães dos 437.000 que continuavam no Reich: 25.000 em 1936 (o ano em causa) e 23.000 em 1937. Verdade que em 1937, não em 1936, o Brasil fechou as portas à emigração judaica, mas ficaram Cuba, a Colômbia, a Venezuela e o México, onde era depois possível arranjar um "visto" para outro destino. A situação de Gabriel serve principalmente para "avançar" a intriga do romance (Diogo parte para o Brasil para o substituir) e para uma breve, e como sempre distorcida e primária, referência ao Holocausto. Esta espécie de "habilidade" cronológica não é venial, nem aceitável.Mas, antes de passar à frente, não resisto a uma transcrição, típica da maneira como Sousa Tavares escreve sobre o mundo: "No mês anterior", declara ele, "Hitler anexara a Renânia ao Reich, fazendo tábua rasa dos Acordos de Versalhes, que haviam estabelecido a região como zona desmilitarizada." Hitler não anexou a Renânia, porque a Renânia era parte do Reich. Hitler militarizou a Renânia, coisa que o Tratado de Versalhes de facto proibia. Quase tudo o que Sousa Tavares diz sobre Hitler e o nazismo é assim: errado, aproximativo ou confuso.2.ª Lá mais para o fim do livro, Sousa Tavares tem o problema contrário: a intriga exige que Diogo fique no Brasil. Como resolver a coisa? Sousa Tavares inventa que a partir do começo da guerra (Setembro de 1939) não existia maneira de atravessar o Atlântico em segurança. Existiu, pelo menos, durante um ano, até Julho de 1940, e em rigor até Julho de 1941, para navios de passageiros com bandeira neutra, que viajavam para portos de países neutros. Centenas de milhares de pessoas foram nessa altura para a América do Sul e para a América do Norte, sem uma perda, e os barcos voltavam para a Europa meio vazios.Mas com este truque Sousa Tavares faz com que Diogo não venha para Portugal contra a sua vontade, porque isso é essencial à intriga e à "definição" da personagem. Imagino que um iletrado (a maioria dos leitores) acredite piamente em Sousa Tavares.O uso das fontes e "peças de jornalismo"Para além das "meditações" sobre política (sob forma de polémica ou não), Sousa Tavares precisa de "encher" o romance, de o "enchumaçar". Para isso, usa fontes. Na história, como na ficção histórica, as fontes devem servir para suportar uma narrativa ou um argumento, esclarecer um ponto obscuro, excepcionalmente para uma descrição com valor alegórico, metafórico, simbólico, analítico ou dramático. Nunca devem servir para uma simples paráfrase ou como uma espécie de reservatório de elementos decorativos, para dar "cor" a um episódio, à maneira do jornalismo de "revista". Infelizmente, é assim que Sousa Tavares sistematicamente as usa. Há passagens que quem se deu ao trabalho de ler a bibliografia percebe muitas vezes donde foram "tiradas". Segue uma lista: 1.º Uma tourada em Sevilha. Sousa Tavares não estava com atenção quando "estudou" a fonte e confunde a capa (ou capote) com a muleta. Daí em diante é o puro disparate.2.º História abreviada do Palácio Real de Estremoz.3.º Descrições de vários automóveis.4.º Descrição do voo de um Zeppelin sobre Lisboa. 5.º Opiniões do embaixador inglês (em 1929) e do sr. R.A. Gallop sobre os portugueses. 6.º Breve história do restaurante Tavares Rico.7.º O cinema em Lisboa no princípio dos anos 30.8.º Descrição dos efeitos da crise de 1929 em Portugal.9.º Descrição de um Zeppelin.10.º Descrição e história do hotel Copacabana Palace.11.º Nova descrição de hotéis e de alguns cafés frequentados por intelectuais no Rio.12.º Preparativos para a Exposição do Mundo Português e obras da referida Exposição.13.º Economia do café no Brasil.14.º Descrição e história da fazenda Águas Claras.15.º Diatribe contra intelectuais brasileiros que colaboram com Getúlio Vargas. 16.º Algumas notas sobre a família Werneck.17.º Descrição e história da cidade de Vassouras.18.º Descrição da querela entre Salazar e Armindo Monteiro.19.º História da demissão do vice-cônsul de Portugal em Vichy (depois de preso pela Gestapo), recomendada por um terceiro secretário de embaixada, Emílio Patrício.A maior parte destas digressões não tem qualquer função na narrativa: não passa de um ornamento "colado" à narrativa. E a pequena parte que tem uma função podia ter sido reduzida a uma frase ou a meia dúzia de linhas. Sousa Tavares não diz nada indirectamente: não sugere, não insinua, não omite. Não escreve como quem escreve um romance, escreve como quem escreve um relatório: directamente, com a mesma luz branca e monótona para tudo. Lendo o Rio das Flores, uma pessoa sente claramente quando entrou a "ficha" (de informação) sobre isto ou sobre aquilo. E o peso das fichas torna o livro pueril como um "trabalho de casa". Mas também o desequilibra. A interminável quantidade de páginas sobre, por exemplo, os Zeppelin, a política brasileira (em que Diogo não participa) ou as belezas de Vassouras são meras curiosidades, que estão ali porque estão, e atenuam ou dissolvem a já fraca intensidade do romance.ComidaNo Rio das Flores há 17 descrições de comida. Dessas 17 só quatro ou cinco (e com muito boa vontade) se justificam.SentençasDe quando em quando, Sousa Tavares gosta de dar a sua sentença. Para apreciar a sua profundidade e a perspicácia, aqui vão algumas:1.º "... O Corpo Expedicionário Português fora dizimado em dois dias de Abril à mais imbecil estratégia militar de todos os tempos - a chamada guerra das trincheiras..." Morreram 9 milhões de pessoas porque ninguém (pelo menos tão inteligente com Sousa Tavares) descobriu que a guerra de trincheiras era imbecil.2.º "... numa Europa ainda mal refeita dos efeitos catastróficos da imbecil guerra de 14-18..." E pensar a gente que se gastou tanto tempo a tentar perceber uma "imbecilidade".3.º "... toda a elite nacional de então, continuava a alimentar a lenda do regresso desse patético rei D. Sebastião - o mais imbecil, incompetente e irresponsável governante de toda a história de Portugal." Isto é o que Sousa Tavares compreende de D. Sebastião e do sebastianismo.4.º "... o poeta (Fernando Pessoa) retirava-se (...) dedicando-se (...) à escrita da mais extraordinária obra literária que Portugal alguma vez tivera." Nada de discussões.5.º "A lista dos intelectuais que militaram pela causa da esquerda espanhola era absolutamente impressionante - não havia, praticamente, um escritor, um músico, um filósofo prestigiado, um Prémio Nobel, que lá não figurasse..." Palavra de honra?Estes juízos não são percalços, são sinais particularmente cómicos da imaturidade e presunção que permeiam o livro inteiro."Personagens"Como escrevi acima, anda muita gente pelo Rio das Flores: que sai e entra, com uma identidade qualquer e se esquece imediatamente. Na família Ribera Flores, que ocupa o centro da história, as mulheres, Maria da Glória e Amparo, são meros comparsas, de uma confrangedora convencionalidade. Nada de essencial as distingue uma da outra. Literariamente, não existem.Diogo, o herói principal, é, por um lado, uma colecção de opiniões: representa a inquietação democrática. E, por outro, uma colecção de decisões arbitrárias e de paixões melodramáticas: representa a inquietação existencial. Mas, como só vê e só percebe a superfície dele próprio, do mundo e das pessoas, nunca chega a interessar ou a comover. Não passa de um artifício. Pedro, o irmão, representa a tradição do latifundiário alentejano e a reacção política. Serve de contraponto a Diogo. Consegue ser um pouco mais "real" do que Diogo. Mas, sendo do princípio ao fim uma "personagem" esquemática e, por isso mesmo, previsível, não é convincente.Como escreve Sousa TavaresComo escreve Sousa Tavares? Sousa Tavares não tem um "estilo", se entendermos por "estilo" uma forma característica de escrever. Sousa Tavares escreve como um jornalista: fluentemente e anonimamente. Quando quer ir mais longe e "fazer estilo", os resultados não se recomendam. Um exemplo ao acaso: "Parecia que Sevilha inteira flutuava com ele dentro de um carrossel de sensações, de excitação, rumo a um ponto qualquer onde tudo aquilo teria forçosamente de explodir num apocalipse."O lugar-comum abunda: "as areias de Alcácer-Kibir" são "incandescentes"; a "beleza de Amparo" é "encandeante"; a actividade do Natal "é desenfreada"; a "continuidade das coisas" é "reconfortante"; o filho de Diogo "ensaia os primeiros passos"; as pernas de uma senhora são "bem desenhadas" e os olhos "grandes" e a boca "rasgada"; a mãe ama o filho "até ao absurdo"; o corpo da senhora já referida é "esguio e proporcionado"; as palavras "estrangulam a garganta" da mesma senhora; quando Pedro percebe que ela o vai deixar é "como se uma bomba tivesse acabado de rebentar dentro da cabeça dele"; "quem nunca sofreu por amor nunca aprenderá a amar. Amar é o terror de perder o outro, é o medo do silêncio e do quarto deserto...", etc., etc., etc.Sempre assim.ConclusãoComo romance histórico e político da primeira metade do século XX, uma alta ambição, o Rio das Flores vale pouco ou nada. Com a sua superficialidade e a sua ignorância (a bibliografia do livro mostra principalmente o que ele não leu, ou seja, quase tudo), Sousa Tavares repete a versão popular "esquerdista", sem "iluminar" a época e sem a perceber. Como romance de uma família, o Rio das Flores é pobre e vulgar. Há quem se entretenha com esta espécie de produto, mas não se trata com certeza de literatura.Uma última observação: discuti neste artigo um livro e um autor, não estou disposto a discutir a minha pessoa ou a pessoa de Sousa Tavares. O título é da responsabilidade da redacção Rio das FloresMiguel Sousa TavaresOficina do Livro, 628 págs, ?29 Com erro atrás de erro, não há lugar-comum que Sousa Tavares nos poupe sobre o "28 de Maio", a personalidade de Salazar e a perversidade do Estado NovoResumos do que sucedeu em Portugal e no mundo [...] são de um primarismo, de uma banalidade e de uma ignorância, que não permitem o mais vago entendimento do que se passouSousa Tavares precisa de "encher" o romance, de o "enchumaçar". Para isso, usa fontes. [...] Há passagens que quem se deu ao trabalho de ler a bibliografia percebe muitas vezes donde foram "tiradas"Não escreve como quemescreve um romance, escreve como quem escreve um relatório: directamente, com a mesma luz branca e monótona para tudo. O lugar-comum abunda: a actividade do Natal "é desenfreada"; a "continuidade das coisas" é "reconfortante"; o filho de Diogo "ensaia os primeiros passos"; as pernas de uma senhora são "bem desenhadas"Há quem se entretenha com esta espécie de produto, mas não se trata com certeza de literatura"