sexta-feira

"Comunidade imaginada" - sob inspiração de Pauleta

- Esta reflexão decorre das palavras de Pauleta de 4ª f. e já foi enquadrada no post anterior, daí a interligação entre ambas. Mas o tom seminal das suas palavras merece novo desenvolvimento. Desta feita, tentarei fazer com que o Futebol sirva para algo mais, i.é, para equacionar problemas mais vastos: os chamados meta-problemas que hoje se colocam à organização das sociedades contemporâneas.
- Se a política, de per si, já não basta para mostrar que temos um projecto comum, uma afinidade, uma obrigação relativamente aos nossos concidaddãos - então teremos de recorrer aqui ao conceito de Benedict Anderson - de Comunidade Política Imaginada - que existe apenas nas mentes daqueles que se vêem como cidadãos da mesma nação. Embora os cidadãos não cheguem a conhecer a maior parte dos outros elementos da Nação, mas pensam em si próprios como seres que partilham uma fidelidade, uma bandeira, um desafio comum, um valor partilhado, uma instituição: pode ser a Constituição (que hoje já não diz nada a ninguém, nem aos deputados que a votam nas costas do povo e tendo o Algarve e o Brasil como pano de fundo), as regras do jogo democrático, os princípios de tolerância religiosa, o laicismo da sociedade com a separação do Estado da igreja, o reconhecimento da lex, etc, etc..
- Pauleta, sem querer, veio recolocar uma velha questão apreciada pelas ciências políticas. Bastou uma frase: Portugal nã tem medo de ninguém... Este orgulho, esta potência, esta compressão, este auto-domínio, aquela expressão disse mais pelo que ocultou do que pelo seu valor facial e descritivo. É claro que não é legítimo pedir ao Pauleta grandes teorias, datas, e outras tantas articulações da epistemologia, da história, da ciência política e da ciência nova que explicam factos velhos, mas a sua expressão colocou autoridade na sala de imprensa e deixou os jornalistas em sentido. Foi bonito ver o Pauleta naquele registo. Por isso lhe dedicamos mais esta reflexão.
- Vejamos agora algumas dessas consequências: as palavras de Pauleta tiveram o mérito de recuperar a noção de Comunidade Imaginada/CI que compensa a inexistência de uma comunidade real, visível, estabilizada e colectivamente feliz e pujante na qual era suposto existirem laços pessoais e obrigações mais concretas de reciprocidade. Esta noção de pertença ou de identidade espelha, por outro lado, como a concepção de nacionalismo (reportemo-nos agora à Selecção Nacional neste Mundial de 2006) se apoderou do mundo moderno, com os oportunismos ideológicos do costume.
- Quiça por ser uma necessidade mitigada: por um lado, por ser uma descrição da própria evolução histórica das sociedades; por outro lado, por recortar uma prescrição para o futuro imediato, algo que se deseja venha a realizar.
- Mas o tom e as declarações de Pauleta suscitam outra avaliação que importa reter. Revela uma descrição esclarecedora na medida em que mostra uma ideia moderna de que devemos, primeiro que tudo, uma lealdade à Comunidade nacional, ou seja, à Nação - que é indissociável à forma como nos vemos também a nós próprios - enquanto homens e cidadãos.
- Se Benedict Anderson estiver certo na sua apreciação relativamente ao conceito de CI, também Pauleta o estará. Assim, ambos estão certos porque defendem uma correspondência entre a noção de nação moderna com o conceito de Comunidade Imaginada, a tal que só existe virtualmente nas nossas mentes, mas que depois salta para o terreno onde se exercita o jogo.
- Esta articulação enquadra-se, em síntese, num retrato mais complexo do conceito de desenvolvimento a que hoje chamamos de globalização, o qual nos deveria remeter para a reconsideração da importância moral que atribuímos às fronteiras nacionais.
- Deste contexto emerge uma grande questão (que Pauleta não enunciou, mas se calhar pensou): será que no longo prazo é melhor continuarmos a viver nas tais "comunidades imaginadas" identificadas tradicionalmente com os Estados-nação ou, em alternativa, valerá a pena começarmos a considerar que integramos a tal Comunidade Imaginada (global) do mundo post-moderno!?
- Se optarmos por aquela veiculamos a ideia de portugalidade dentro das suas fronteiras nacionais já com quase nove séculos de existência (letra e espírito do que Pauleta pretendeu significar); se optarmos por esta definição (de B. Anderson - reinterpretada abertamente) não temos referências muito sólidas, i.é, no limite - estamos no mundo aberto, sem fronteiras, sem regras e sem referências, caímos no caos e na anarquia.
- E é aí - no mundo - que também residem os nossos problemas comuns, hoje mais interligados para poderem ser resolvidos se continuarmos a ter como elemento de referenciação o Estado-nação - no qual os cidadãos atribuem mais importância à lealdade dos seus próprios países do que à ampla e vaga ideia de comunidade mundial - sempre de valor jurídico e político inimputável. E bem sabemos como o Júlio de Matos está repleto de inimputáveis que - "no instante do disparo" - julgavam que o que tinham nas mãos não era uma pistola mas um brinquedo do Lego.
- Contudo, julgo que a melhor resposta - a única disponível - neste momento é fazer como o Pauleta: ter ousadia. Ou seja, já no séc. v a.C. o filósofo chinês Mozi, horrorizado com a devastação provocada pela guerra no seu tempo, perguntou: Qual é a via para o amor universal e o bem comum? E respondeu à sua própria questão: É considerar os países dos outros como o nosso próprio país. Pauleta referiu que não temos medo de ninguém, mas também acrescentou: respeitamos os outros, somos tolerantes.
- Diz-se também que o grego Diógenes, quando lhe perguntaram de que país era oriundo, afirmou: "Sou um cidadão do mundo". Sócrates - o filósofo - também deu essa resposta. O nosso PM, o engº Sócrates - também tenta dar essa mesma resposta através da net e dos Ctt, e o famoso John Lennon, ex-Beatle, também anotou essa preocupação numa música com uma letra conhecida: "Imaginar que não há países (...) e que todos partilhamos o mundo" (Imagine).
- Bem sei que tudo isto configura pensamentos e sonhos de base idealista, desprovidos de qualquer possibilidade prática de materialização num mundo guiado pelos velhinhos Estados-nação - para que remetiam as tais declarações ousadas - que considero de valor histórico - de Pedro Pauleta.
- Actualmente, mormente com o evento do Mundial de Futebol de 2006 rodado na Alemanha - atingimos, creio, um justo equilíbrio dessas duas teorias (o nacionalismo vs a busca da comunidade mundial). Uma clarificação teórica creditada a um futebolista que, pela coragem e ousadia do jogador da selecção nacional se poderia cunhar, como justa homenagem, por teoria Pauleta. Assim, se ganharmos o Mundial sempre poderíamos plantar uma estátua de bronze ao Pauleta, depois dar-lhe lustro e chamar-lhe um ilustre português que soube dizer o que se impunha no momento e no tempo certos. Oxalá amanhã ele (e a selecção nacional no seu conjunto) consiga traduzir isso em resultados. Oxalá...
  • PS: Sabemos que o pfof. Freitas do Amaral demitiu-se do governo alegando imperiosos motivos de saúde. Foi uma ideia feliz, embora tardia. Se bem me lembro, como diria V. Nemésio, não houve um dossier gerido pelo titular das Necessidades que tenha corrido bem: o caso dos cartoons (quem já se lembra...); os emigrantes portugueses no Canadá; as recolocações diplomáticas, agora as declarações sobre Timor/Austrália e tutti quanti. Em muitas dessas declarações, reconheço que Freitas até tinha razão, mas em quase todas revelou uma manifesta falta de tacto político que surpreendeu pela negativa. Com tanto erro e inépcia para o cargo cheguei a pensar que quem dirigia a política das embaixadas e, por extensão, a política externa portuguesa era um senhor que foi jornalista e dá pelo nome de Carneiro jacinto. Curiosamente o senhor do talho que me vende os bifes de Perú também responde pelo mesmo nome. Mas isso não importa. Contudo, queremos aqui sublinhar que Freita não é nenhum arrivista da política, é antes um homem rodado, com qualidade política, intelectual e científica com provas dadas. E foi talvez o CDS-PP - seu ex-partido, que mais (injustamente) o atacou política e até pessoalmente. Pediram até várias vezes a sua cabeça dentro e fora do Parlamento, basta recordar algumas declarações do sr. Pires de Lima, hoje administrador de qualquer coisa, portanto, um turbo-deputado. Desejamos daqui que a operação às costelas do prof. Freitas do Amaral corra bem, e que depois, já restabelecido, possa voar baixinho, retornar à vida civil onde em vez de ganhar 800 cts/mês passe a ganhar 8.000 mil cts/mês. É só uma questão de zero(s). No fim concluirá que fora do governo é um homem mais feliz e terá até mais tempo para a família, além de se dispensar de andar de avião, coisa que detesta. Segundo reza a história, e apesar das retas e da ausência de semáforos - também não há oficinas lá encima. Mas o ponto de situação, com mais rigor histórico, é feito aqui ao lado no Jumento - que depois de analisar a tal entrevista ao Expresso - chegou até a vaticinar a sua partida. Só creio que não acertou no dia. Mas também não se pode ter tudo...

O Mundo de Pauleta e a receita de Portugal

As notícias continuam a ser nocivas para a mente. Mesmo na ausência de futebol e das sábias declarações de Pedro Pauleta de há dois dias. Por momentos pensei tratar-se de mais uma das encenadas lições de Hermano Saraiva do alto dum monte refazendo a história de Moisés (espírito santo). Ou como diria um amigo: mais uma saraivada. Ainda pensei que Pauleta citasse Oliveira Marques, José Matoso; Magalhães Godinho entre outros historiadores a fim de ilustrar as suas derivações sobre a portugalidade e a coragem lusitana no seio das selecções do Mundial da Alemanha, já para não falar nos mundos que abrimos ao mundo navegando à bolina nesta nossa nova rosa dos ventos enriquecedora da esfera armilar do III milénio.
Ouvindo o Pauleta, sem embargo para o legado de Vasco da Gama - cuja teoria já sinalizámos, pensei que a própria teoria da globalização entrara em processo de revisão. Desde logo, pela noção de comunidade global que o discurso de Pauleta nos entreabrira colmatando, doravante, uma falha grave no discurso lusitano desde a fundação da nacionalidade. Tão credora de Guimarães como de Vila Viçosa.
Pauleta, mesmo sem o saber, e através da bola enquadrada pelo Mundial da Alemanha, revalorizava a noção de soberania nacional, de comunidade global, de justiça, de fair-play, de igualdade, de transnacionalidade, de aquecimento global do planeta, de investimento externo e de um conjunto de vectores conexos à teoria política da globalidade que ora reveste a vida das nações ora acrescenta algo à Humanidade. Tudo através da bola, ou melhor, das potencialidades do futebol. Na prática, com aquelas simples palavras e com tradutor à mistura, Pauleta refez a História do pensamento contemporâneo: Carrilho, Delleuze e Guattari não fariam melhor. Nem Jurgen Habermas - que só diz banalidades. Também aqui Pauleta provou que já não há filósofos, estes emanam do futebol.
Por isso felicitamos aqui o Pauleta que, com aquele sotaque insular, revolucionou a ética da globalização e agora ameaça revolucionar os curricula académicos na esfera das Humanidades.
Pauleta obrigou, por outro lado, o mundo a admitir que Portugal existe, que fez a gesta dos Descobrimentos, e que pode não ter economia que preste mas tem futebol que baste para sensibilizar o mundo e, desse modo, garantir o take-of na economia nacional nos próximos tempos..Ainda que sem a refinaria de Sines, sem o Nuclear, sem a OTA e o TVG - que, em rigor, nunca tiveram identidade fora do papel, apenas se destinaram a entreter os tolos enquanto que os menos tolos tentavam governar. Sócrates, en passent, pode não ter ideia ou estratégia para Portugal, mas lá que ele sabe de manipulação da informação, lá isso...
Pauleta revolucionou a forma como as sociedades pensam, funcionam e actuam. Hoje tudo tem de interagir com a bola e o futebol. Sem medo e com muito respeitinho, como diria o Pauleta e remata: "Portugal nã tem medo de ninguém".
- A originalidade do intelecto e do pensamento de Pauleta são um contributo moral, de integridade, de rigor para o Mundo através de Portugal - ainda que tais declarações tenham sido proferidas na Alemanha, quartel-geral do Mundial de 2006. - Pauleta passou, portanto, a ser um homem importante, mais relevante do que Scolari, Figo e Mourinho juntos. Pauleta passou mesmo a integrar a galeria dos pensadores e dos filósofos que fizeram a transição do séc. XX para o III milénio e que hoje ameaça deixar um traço distinto na história da Humanidade. - Em suma: ao ouvir as sábias e históricas declarações de Pauleta na 4ª feira, percebi como é que se opera a interacção entre o desporto, a política e a economia, além das incursões no revisionismo histórico, ético e civilizacional. Doravante, Pauleta já não é apenas mais um jogador da selecção nacional, mas um ícon para vender medalha, um símbolo de nacionalidade e de portugalidade que se banalizou em produto de artesanato. Pauleta já espelha a bandeira nacional. E esta reflecte a imagem de Pauleta. Também por isso Portugal terá todas as condições psicológicas, desportivas, identitárias e políticas para "limpar" este Mundial da Alemanha de 2006. É que o take-of da economia nacional não só aguarda como precisa desse troféu para se recompôr e fazer novos "descobrimentos". No fundo a receita de Portugal tem um nome: Pauleta.

quinta-feira

Hoje não tenho nada a ...

.. Declarar, excepto que as notícias continuam a não prestar. Como não podemos mudar o mundo nem a "fábrica das notícias" que as gera, resta-nos aguardar por melhores dias.
  • Nota:
- Mas enquanto aguardamos pelos "dias da rádio" que nos trarão as boas novas, sempre podemos contemplar as conexões virtuais do Jumento, revelando - também aqui - que é um espaço de hipercriatividade destacando-se de entre os demais blogs nacionais pela constância da qualidade com que nos serve múltiplas narrativas e algumas meta-narrativas do burgo e do mundo - em tempo real e programado. Ainda por cima à borla. Por isso, não admira que quase todos os meus amigos com bom gosto e um Q.I. acima da média me tenham dito: "há cerca de três anos que deixámos de ler a imprensa, em particular o Expresso, agora temos o maior e melhor blog português que assina, paradoxalmente, pelo Jumento. Os mais sinceros e frontais reconhecem-no aqui sem problemas nem caprichos; os outros, locomovem-se a toc & foge. São os ciber-complexados que até a treta dum sitemeter têm em regime de contagem oculto para não se ver as "desgraças". Também aqui o ciber-espaço está povoado pelos chamados novos (velhos) bárbaros do Restelo: são os mesmos que pressionam, que empurram mas depois são os primeiros a ancorar à terra. É como se fossem "nómadas sedentários". E é isto que também faz da blogosfera uma plataforma e um espelho tão cínico quanto hipócrita da sociedade lusa que temos. E aqueles que dizem querer mudar o mundo são os primeiros a oferecer resistências, a aprisionar. Para esses novos (velhos) do Restelo: Welcome to Globália...
- Pelo caminho, é claro, há sempre alguns que se viciam na Net... E eu a pensar que o nosso PM ainda não sabia onde ficava a "@" do teclado do PC.
  • PS: Gostaria, contudo, de deixar duas questões ao Jumento:
1) Será que quem segura na bata do enfermeiro - para apanhar pardais na esquina da Miguel Bombarda - será o cientista Carvalho Rodrigues - considerado o "pai" do PoSat, o 1º satélite português?;
2) Ao fundo, segurando a empena da porta, vejo alguém cofiando a barbicha. Parece-me o Eduardo Pardo Coelho, também conhecido no meio jornalísitico pelo "almôndega". A senhora do lado podia ser qualquer mulher, até a Manela Ferreira Leite ou a Mona Lisa ou até a Madre Teresa de Calcutá. Mas não quero ser injusto, mau grado já o meu estrabismo, pelo que solicito, de imediato, ao Jumento se digne a esclarecer-nos numa próxima edição. Será possível? Muito obrigado.

quarta-feira

Futebolítica: um pensamento alienado mais vencedor

Dantes era assim que se jogava futebol: a bola era mesmo redonda, não havia tanta Pub., nem os milhões em torno dos passes dos jogadores, os clubes eram pequenos e não multinacionais como são hoje. Como as notícias continuam a não prestar - na esfera da economia, da política e da sociedade - provarei aqui que também já fiquei alienado com o futebol. Podemos até dizer o seguinte:

- Rechaçámos os Mexicanos

- Rechaçámos os Holandeses..

- Doravante, arriscamo-nos a Rechaçar os "camones" com quem temos tido alianças político-diplomáticas verdadeiramente lesivas para Portugal, e depois, se tivermos grandeza, engenho e génio - venceremos aos "brasucas" na final.

- Creio mesmo que é esta a receita para os males do Portugal contemporâneo. Os nossos políticos são parvinhos mas não são completamente destituídos, razão por que apoiam a selecção da forma conhecida: com elevado conteúdo moral, ético, patriótico. Até Cavaco que detesta futebol faz o frete e diz que ama a Selecção e a bola. Hipocrisias à parte, confesso que me delicio com este idealismo à portuguesa, com esta retórica política lusa a partir do futebol, hoje trave-mestra duma qualquer política externa.

- Por vezes penso mesmo que é mais importante a bola do que falar de Deus, depois reconheço que se fala em sinonímia, e um vector implica o outro, como as cerejas. Portugal está hoje "apanhada" por esse "Moisés" da vida contemporânea que é o futebol. Por ele passam todas as respostas, até o PIB português, a retoma da economia, o combate à corrupção e conexos. O mundial é o novo deus, e para Portugal representa o efeito Coca-Cola da Pub. mundial.

- Arriscamo-nos a ganhar este Mundial. A grande questão será: o que fazer depois com esse título??? É isto que me assusta, não a vitória.

- Por último deixaria uma sugestão à Comunidade internacional - que bem poderia ser acolhida na agenda oculta de Kofi-Anan, Secretário-Geral da ONU. Todos nós sabemos qual é a natureza (corrupta e cleptocrática) do regime político angolano (cuja selecção nacional pode participar neste mundial). O seu povo vegeta nas valetas, move-se por próteses e nem 1dólar tem por dia para sobreviver. Perante isto pergunto-me: por que razão a FIFA não aproveita esta magna oportunidade para - no decurso - deste Mundial da Alemanha (que é um belo antro de prostituição...) para sensibilizar a Comunidade das Democracias em adoptar um objectivo comum: pôr out of game todos os regimes não democráticos onde campeia a corrupção de Estado de que Angola, infelizmente (e com a cumplicidade da dita Comu. Internacional) é apenas um quisto?!!!

- O objectivo seria erradicar todos os ditadores até 2010. Terminando também com todas as injustiças sociais, económicas e políticas cometidas ao abrigo do petro-poder que explora as matérias-primas estratégicas do país sem nenhuma contrapartida para o seu povo.

- Isto sim, seria um programa admirável para combater as injustiças no Mundo. Vendo o Figo, o Ronaldinho denunciando as atrocidades políticas desses corruptos..em sofisticadas conferências de imprensa... Todas abertas para o mundo, todas cobertas pela CNN. A vergonha seria tanta que no day after os vários "Eduardos dos santos" que andam por aí cairiam de maduros. O futebol cumpriria, assim, a sua função-maior: queda dos ditadores e dos meios que usam para se sustentarem iniquamente no poder.

- Se este programa ético-político fosse sériamente equacionado e cumprido confesso que até ficaria a admirar ainda mais esse desportoi-rei que é o Futebol. Ainda mais com Portugal como portador desse troféu-maior que é a Taça do Mundo.

- Quando a Política - ela própria - não basta para fazer "Política" temos de ter o engenho para abrir mão doutros dispositivos que sirvam igualmente os interesses do Homem: o futebol seria essa alavanca. Já não (apenas) para correr atrás duma bola e meter golos e ganhar troféus, mas libertar do medo esse único animal racional ao cimo da Terra que somos nós.

- Por isso digo: além de termos fortes possibilidades de ser campeões mundiais teremos também uma agenda política a seguir: a Liberdade como Desenvolvimento - através do Futebol.

segunda-feira

Vasco da Gama e a teoria da Globalização

Image Hosted by ImageShack.us Um homem passa 4 anos da sua vida a estudar o fenómeno da Globalização, esse acontecimento mental que hoje nos assalta. Mas por um acaso da geografia tropeça em Vasco da Gama. Esse mesmo: o "tal" que foi grande e engrandeceu a história. Foi Almirante de Alto Mar, Vice-Rei da Índia e Conde da Vidigueira, onde a pomada também não é má - não senhor(a) - consoante o género que serve. Uma eternidade de estudo e, afinal, o Vasco remata a coisa mais ou menos assim: as pessoas vivem em lados opostos do mundo, mas estão agora ligadas de formas anteriormente inimagináveis. Foi esse alastramento rápido hoje à escala mundial que se nos afigura como um produto catalizador do processo que responde por esse nome. Sugerimos aqui que a moderna teoria sociológica da globalização se poderá rebaptizar, simplesmente, por teoria Vasco da Gama.
  • Nota: Dedicada ao n/ amigo Sudjanski que já nos telefonou da Austrália e que agora nos diz que o mundo continua redondo, como a bola. A bola da nossa comezinha felicidade.

domingo

The family

A Victória, o Derek, o Pintas e o Jacob

  • Todos falam línguas e escrevem à máquina. Os dois de cima já sabem enviar mails e já sonham com uma carreira na vida política. Talvez no Parlamento.

sexta-feira

Comprar o futuro: domar o tempo, invisuais ao poder

  • A maior parte do que pensamos, dizemos ou fazemos não coincide com a realidade. É assim na vida pessoal, social, económica e em geral. Isto não seria grave se o futuro, com todos os seus problemas e tragédias, não tivesse já determinado. Mas quando tentamos antecipar ou imaginar esse futuro ficamos cegos: ou vemos tudo escuro, ou vemos tudo neve. A complexidade da vida das sociedades modernas adensou esta preocupação de comprar-futuro. Mas como demover esse monstrinho imóvel que se chama destino? O tal que nos coloca permanentes armadilhas, quer ao pensamento quer à acção. Por isso, vemos tudo preto ou branco, ou a preto e branco. E são essas as cores cegas que se apoderam de nós.
  • No fundo, queremos antevisões e esbarramos com mais do mesmo. Queremos uma percepção extra-sensorial que nos diga que amanhã o petróleo vai baixar, e só temos notícias que nos contrariam; queremos uma notícia que nos aponte que o valor do dinheiro vai baixar e a realidade segue num carrossel que não é tocado por nós.
  • Na política, na sociedade, na cultura, na economia nada hoje é estimável ou previsível. Nem os casamentos são já as referências que foram no passado. É certo que à custa de muita violência - física e psicológica. Mas não falemos de coisas tristes porque não somos porta-vox das mulheres, seres maravilhosos a quem só faltam asas para voar.
  • Estas questões colocam-se, por maioria de razão, aos agentes políticos que têm de estar sistemáticamente a antecipar o futuro, a delinear medidas para regular os problemas micro e macro-sociais e, assim, assegurar o funcionamento das instituições.
  • Por aqui se imagina a angústia que os políticos hoje devem ter. Muitos nem um meio dia conseguem estimar, quanto mais um debate parlamentar, aguentar a gestão duma oposição na adversidade (como M. Mendes actualmente) ou ainda suportar uma legislatura inteira - como Sócrates. Esta questão da compra do futuro coloca-se, portanto, a todos estes actores e agentes da governação doméstica que também têm responsabilidades na esfera da globalidade, ié, das relações internacionais.
  • Lembremo-nos do que Platão dizia neste contexto: antes da realidade materializada, já existe um mundo de projectos que se pôs no terreno a delinear formas, a impôr conteúdos. Ora isto é dramático, na medida em que - a ter algum fundamento - significa que só as pessoas mais sensitivas e mais dotadas - (e nem sempre as encontramos na política, e às vezes em parte alguma...) conseguem reconhecer alguns desses sinais, antecipar alguns desses projectos ou ideias que balizam o futuro. Confesso que por vezes vou à varanda, e se verifico que se o céu está muito nublado digo logo que vai chover. Mas não passo disto, nem são estes os sinais de que aqui falamos.
  • Será que esse futuro não existe já no passado? Assim como uma espécie de tempo paralelo. Felizmente tenho boa vista e até acho que não seja completamente destituído, mas não encontro nenhuma resposta para prover estas dúvidas sobre a compra do futuro que se colocam com acuidade na esfera política, por envolver os destinos colectivos.
  • E por saber que essa aquisição de futuro é um enigma que se esconde nas dobras do tempo julgo que não seria má ideia fomentar a entrada de invisuais na política, já que, como sabemos, são pessoas com uma sensibilidade excepcional que poderão, um dia, conhecer esse futuro muito antes dele aparecer.
  • Estas pequenas conjecturas vieram-me à memória ontem à tarde quando assistia a parte do discurso de Paula T. Pinto que quer, e bem, assumir as responsabilidades na Distrital do PSD em Lisboa. E sempre será preferível, de longe, a sua eleição à infiltração do PsD pela versão amadora dos Donos da bola e do universo faccioso-populista da futebolítica tão bem representada pelo sr. fernando Seara, que parece que ainda é edil de Sintra, apesar de ainda se levar 2 horas (eu disse 2 horas!!!) para percorrer Lisboa-Sintra (uns miseráveis 20 quil.). Por outro lado, nunca sei se Seara quando fala está representando o departamento de futebol do Benfica, o velho CDS ou um PSD tão estranho quanto etéro, que é o dele e de mais ninguém.
  • Algo o persegue desde os tempos de faculdade, e não creio que seja o PSD, embora possa admitir que seja ele quem persegue o partido. Sabe-se lá para quê??? Realização do bem comum, não é certamente. É por isso que o PSD às vezes não é um partido, mais parece um albergue espanhol. Recebe todo o tipo de acantonados da política. Um dia destes ainda veremos Garcia Pereira de braço dado com Arnaldo de Matos e Otelo Saraiva de C. - sob o alto patrocínio de Durão Barroso inspirado no livro vermelho de Mao Tsé Tung - ingressar no PSD - com antónio Preto lavrando em acta essas novas aquisições.
  • Por acaso foi uma tarde muito bem passada à conversa com o Jorge, a Teresa, o J. Eduardo, o Rui e muitos companheiros de outras guerras que o tempo futuro, porventura, já não reproduzirá.
  • Em rigor, estas minhas estranhas preocupações com a precognição do futuro no quadro da política portuguesa traduzem-se numa ideia simples e que um dia ainda desejaria ver realizada: ter em Portugal um Primeiro-Ministro invisual. E não nos referimos aqui a Sócrates, reporto-me a um verdadeiro invisual que, pelas suas excepcionais capacidades extra-sensoriais, poderá antever os problemas antes deles se manifestarem e desenvolver formas de conhecimento nunca antes vistas que nos permitam explicar o inexplicável em que hoje se encontra Portugal.
  • Em suma: do que precisamos, do que Portugal precisa é de um jovem "cego" em S. Bento. Por enquanto ainda não nos pronunciamos sobre os jardins do Palácio de Belém.
  • Este post é dedicado a todos os invisuais de Portugal que por serem seres verdadeiramente excepcionais, deveriam ter, um dia, responsabilidades políticas. Se quiserem perceber a excepcionalidade de que aqui falamos façam o seguinte e comezinho exercício: suponham-se totalmente cegos (de vista e tudo) e tentem sair de casa, apanhar o elevador, atravessar estradas (pode ser alí a Av. da República...), entrar no metro, etc, etc... Façam um dia essa viagem ao interior do inconsciente e vejam quão cegos ficam... Ainda que vejam ou julguem que vêm algo só porque têm os olhos bem abertos.

quinta-feira

Alentejo virtual

Marvão...

... Visto doutros mundos

Dedicada aos marvanenses.

Monsaraz

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Subsídios para uma política de Turismo nacional

A ler in - Jumento -
  • "Quando criei uma conta no Flickr para lá colocar imagens de Portugal pensei para comigo que se houvesse uma única pessoa que decidisse visitar o nosso país depois de o conhecer através dessas fotografias teria valido apenas. Desde então coloquei mais de 2.000 imagens que foram vistas por alguns milhares de pessoas de todo o mundo, fui incluído nos preferidos de muitos utilizadores do Flickr, fui contactado para autorizar a utilização das imagens por uma agência de viagens e finalmente dois turistas australianos decidiram vir passar uma semana a Reguengos de Monsaraz, influenciados pelas imagens daquela que considero ser a aldeia mais bonita de Portugal. Pergunto-me quanto teria Portugal a ganhar se utilizasse eficazmente a Internet em sectores como o turismo, mas também em muitos outros onde a comunicação é importante. Não seria necessário nenhum choque tecnológico ou financeiro, bastaria apostar na formação profissional e olhar para a Internet com profissionalismo. A verdade é que muito do que o Estado e as nossas empresas colocam na web é lixo electrónico, que só serve para poluir ainda mais a imagem de Portugal. A presença da Administração Pública (central ou local) é, na maior parte dos casos, uma combinação entre um hipotético modernismo e uma grande carga de amadorismo. Quem quiser conhecer Portugal não encontra quase nada. Enquanto se fazem grandes apostas tecnológicas, se projectam grandes investimentos para o futuro, pede-se a Deus para que a OPEL não parta, concedem-se subsídios e benefícios fiscais a torto e a direito, não se faz o que é mais fácil e está à mão. Os nossos governantes sonham muito com o que é difícil e, entretanto, esquecem o que é mais fácil".
  • Nota: se estas fotos fossem acções da Sonae a riqueza global do País já teria decatuplicaaaaaaado.

Imagine.. de J. Lennon...e os impostos

Adoro pagar impostos, então os ditos municipais e de circulação automóvel pago-os com gosto e regalo. Com mais gosto do que se tivesse comendo um pudim flã ou baba de camelo ou uma maizena qualquer de gosto mais duvidoso. Mas quando estava a pagar o dito imposto, já não sei porquê, ou talvez porque o John Lennon estava no "ar" no estabelecimento onde me encontrava a ser esmifrado pelo Estado (municipal) - ouvia-se...:

Imagine there´s no countries

it isn't hard to do
nothing to kill or die for
and no religion too
imagine all the people
living life in pace...
  • Ainda esboçei à amável senhora que me atendia um sinal de afecto que reconhecia aquela bela música, deixando-lhe apenas uma ressalva: só é pena a letra não ser diferente..., mas talvez ela não tenha entendido bem o que lhe transmiti, baixinho...
Imagine there´s no taxes...
o resto da prosa fica em narrativa aberta

Não linearidades no III milénio

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us A racionalização tecnológica da irracionalidade social aumenta a desordem.
Trocando por miúdos: dantes as economias crescíam de forma regular e continuada. Eram sustentáveis; hoje o crescimento é contingente e irregular e as economias são tigres de papel. Logo, o caos potencia a desordem social e esta intensifica a exclusão e a infelicidade. Dê-se devida nota aos promotores do Plano Tecnológico - que é o governo - creio...

Maldades de Borges

Como é sabido a Argentina é um país belo. Com belas mulheres, belo futebol, bela comida, belo... Mas o belo aqui radica em algumas pequenas maldades de Borges. Por exemplo, admitia que qualquer pessoa o entrevistasse. E nesse contexto uma vez disse:
Tens razão, mas o rapaz conversou muito comigo e passadas duas horas esqueci-me que era jornalista e confundi-o com uma pessoa civilizada.
  • - Noutra passagem, a propósito de repetidamente ficar adiada a atribuição do Nobel da literatura, Borges ironizava. Parece até que havia um senhor, com influência nesse sector que dizia que enquanto fosse vivo o Borges nunca seria nobilizado. Aqui Borges lembra (me) Vergílio Ferreira, até na palidez com que rasgavam o vento. Mas Borges, em 1978, ironizou com a questão do prémio aludindo, precisamente, a essa não atribuição.
  • E então dizia que o Nobel já fazia fazia parte de uma tradição, e que, como ele amava tudo o que era escandinavo, era uma honra fazer parte dessa tradição. Relativamente ao então autor nobilizado rematou assim: Como sempre escrevi sobre o desconhecido, vou tomar a liberdade de escrever sobre o último Nobel. Espero não me equivocar. Creio que o seu nome é Singer. Realmente, é um senhor tão desconhecido que é possível que até seja um bom escritor. Mas não me parece. Sei que escreve unicamente em iídiche, que é um idioma moribundo.Uma espécie de alemão arcaico que tende a desaparecer.
Esperemos, agora, que quer os jornalistas (só alguns deles, certamente!) e o nobel saramago (todo ele) não se indisponham com a memória de Borges. Pois nem tudo é para levar à letra. Por mim, nem quero imaginar o diria hoje de uns e de outro caso Borges estivesse ainda entre nós...
  • Em homenagem à Obra e memória de J.L.Borges

quarta-feira

Jorge Luís Borges (Beppo)

Bem sei que é meio herético escrever sobre J.L. Borges sobre um post de um ex-PM de Portugal, que não reza à história. Espero que a memória de Borges me perdoe, que deve ser grande e ampla e muito misericordiosa. Mas não resisto a citar aqui uma passagem da sua Obra e que é tão revelador para a natureza das relações humanas como o O2 que respiramos. Reza assim: Se lhes perdoar, vão voltar a roubá-lo. Noutra passagem refere: Não posso suplicar que os meus erros me sejam perdoados; o perdão é um acto alheio e apenas eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem nunca diz respeito. J.L. Borges, Obras Completas, 1972.

O regresso de l'enfan terrible

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O líder da bancada do PSD, Luís Marques Guedes, assegurou hoje que Pedro Santana Lopes será integrado «o mais possível» nos trabalhos do grupo parlamentar, quando regressar no início de Julho à Assembleia da República. «Vamos integrá-lo o mais possível nos trabalhos do grupo parlamentar», disse Marques Guedes à agência Lusa.

(...)

  • Obs: Dito assim, depois de Portugal ter ganho ao México e quando já se começava a esquecer a sua estranha passagem pelo governo, eis que emerge o ex-PM. Santana Lopes está aí, já não anda por aí. Mas dito daquela forma até parece que que o PSD está a reintegrar um reformado aleijadinho na função pública (em regime favor) - que nunca deixou de o ser. Agora é que Sócrates terá de se cuidar. E Marques Mendes também, é que aos tempos idos da faculdade de Direito quando a coisa azedava as cadeiras voavam, e às vezes algumas cabeças íam ao encontro delas em pleno vôo. É sempre bom reintegrar um PM. Especialmente, pelos altos serviços prestados à nação. A nação agradece. Mas o Portugal que pensa é capaz de ficar a rir...

A magia do futebol

Em puto, já meio adolescente, pensei ser futebolista. Pela mão de Paco-Bandeira, que na altura frequentava a casa - nas imensas digressões que fazia por esse Portugal-profundo, cheguei ao Tony. E lá fui parar aos anexos do Estádio da Luz para mostrar os meus magros méritos, evidenciar as minhas singulares capacidades futebolísticas. Como eu estavam lá mais uns quantos. Tudo malta que vivia numa ilusão. Ser o "dono da bola".
O treinador tinha uma tarefa: dificultar-nos a vida ao máximo... Explico: os estreantes, onde me encontrava, agruparam-se entre si. Ao nosso encontro veio uma equipa já de malta madura que, pelos inícios da década de 80, já prometia. Alguns integraram depois o plantel da Luz, O Glorioso. Tinham o dobro do nosso tamanho, alguns o triplo do nosso peso. Então, a coisa começou. Mas que coisa??? Treino e mais treino. Carregar com aquelas bestinhas no nosso lombro; atravessar o estádio a fazer de burro de carga. Quase uma hora nesse suplício. Perguntei-me se não me teria enganado na morada, pois parecia-me mais que estava na estiva ou a descarregar contentores vindos do Ultramar. Só dizia: porra, não nasci para isto... Mais uns exercícios esgotantes e veio a partida entre pequenos e grandes, mais parecia o David contra Golias. Depois veio o jogo cujas regras impunham que se fizesse a troca de bola ao 1º passe. Resultado: como os estreantes estavam exaustos assim que passávamos a bola ao 1º toque caíamos para o lado. E assim foi a minha experiência no futebol, depois disso joguei como amador. Mas aquela experiência macaca ficou-me, alguns, mais iludidos, ficaram traumatizados e em vez de serem futebolistas passaram a caminhar para o divã do psicanalista. Mas aí não se joga à bola, aí só se estoura o que alguns ganham com a bola...
Mas acima do futebol está sempre uma lenda, um sonho que comanda as nossas vidas. Hoje vivemos nesse suspense, nessa magia, estamos despertos para essa paixão neste dia de "feriado". É mais uma festa pagã que ou se chora ou se vibra. Cada um de nós, irá agora entrar nas profundezas da nossa (in)consciência e construir o seu jogo, o jogo diferente daquele que vai ser verdadeiramente jogado no campo. Dependendo, naturalmente, da paixão de cada um. Por isso, hoje, agora, é tempo de fazermos a tal corrente psicológica para canalizar as energias positivas para dentro do campo, e permitir que dessas ondas positivas venham golos espectaculares neste Portugal preso pelo fio do futebol. E a forma como se vêm os dirigentes políticos subordinados a essas agendas até parece que o seu sucesso dependerá também da vitória da selecção Nacional. Espero que hoje possamos rematar bem na realidade. Até porque todo o sonho, toda a lenda, constitui um sistema. Cabe agora ao mito concretizar essa realidade. Portugal 3 México 1.

"Um 10 de Junho diferente" - por José Manuel Barroso -

Nota prévia: só tenho a agradecer a leitura deste interessante e oportuno texto-reflexão por parte do jornalista José Manuel Barroso (e ex-director do DN e homem com provas dadas no jornalismo político e de ideias em Portugal) - que, aliás, leio sempe com atenção e proveito. E um dia quando se fizer a história do 25 de Abril de forma desapaixonada - ele será, sem sombra de dúvida, uma fonte credível para o efeito. Nós aqui no Macroscópio temos apenas uma regra editorial: publicar aquilo que tem qualidade, o resto é educação e common sense. Bem haja pelo texto que, aliás, já tinha lido no DN.
  • Bandeira e hino Na verdade, apesar de todos os atropelos, esta ideia de Pátria, de Nação, de País está de novo caminhando. Não tanto, ainda, pelo que conseguimos fazer de bom na economia, na educação ou noutros campos (e é universalmente reconhecido pelos portugueses), mas pelo fenómeno de massas que é o futebol. Não, também, pelo culto positivo da nossa história, da nossa literatura, da nossa língua e da nossa cultura. Mas pela adopção democrática espontânea dos símbolos nacionais do Hino e da Bandeira, a propósito do "clube Portugal" em que se tornou a selecção de futebol. Quantos milhares de portugueses aprenderam a cantar o Hino e a usar os símbolos nacionais com orgulho, por causa do Euro 2004 e agora do Mundial?
  • Também aqui a ideia profunda de País e de Nação venceu a ideia rasca e anti-portuguesa do antinacionalismo - tão difundida pelos que viam num certo internacionalismo, filho de um dos grandes totalitarismos do século XX, o comunista, um subserviente substituto para a ideia de Nação. Mesmo sendo o futebol o que é, no seu melhor e no seu pior, resulta magnífico ver tantos portugueses a cantar A Portuguesa e a fazer ondular ao vento a bandeira das quinas. E com que orgulho o fazem os milhares de emigrantes, os homens da moderna diáspora, nos diasque eles sentem como sendo sempre "de Portugal e das Comunidades".
  • Há dois conceitos de nacionalismo, hoje como ontem. Um conceito aberto, progressista, que não teme o mundo e não receia a afirmação dos valores nacionais, representado pela diáspora portuguesa e por aqueles que se revêem na história portuguesa; e outro conservador, que os antiglobalização tão bem representam e que quer parar o curso da História - neoproteccionista e chauvinista, envergonhado dos valores nacionais, laicista em vez de laico e para quem as Forças Armadas, Nação, Pátria são um empecilho. Os herdeiros da Guerra Fria, pelo lado do velho internacionalismo proletário, refugiaram-se quase todos aqui, modernizando o discurso, mas conservando os conceitos.
  • O Portugal moderno de hoje tem nestes novos velhos do Restelo, de discurso fácil e demagogia sedutora, os seus novos-velhos inimigos. Se há algo que, nestes últimos trinta anos, se tornou evidente é que os herdeiros do velho progressismo são os verdadeiros conservadores, os que se opõem a todas as reformas - ou que só as querem para os outros - e que muitos dos ditos conservadores são os verdadeiros progressistas. José Manuel Barroso Jornalista Diário de Notícias Terça, 20 de Junho de 2006
Ver aqui o texto na íntegra

Dia de futebol: mais um feriado a caçar ratos

O eficiente artigo de Vicente Jorge Silva abaixo postado e pub. no dn disse tudo, quase tudo sobre o Futebol. Contudo, se lá estão explicitadas algumas razões de natureza sociológica (comparada) que fazem do F. aquilo que ele é hoje - um negócio de massas unificado pela globalização dos media - há algumas outras razões - mais de natureza psicológica - que aqui sistematizarei. Até porque hoje é feriado, ninguém trabalha, mesmo aqueles que fingem gostar de F., entendem que também devem ter direito a ele. Porque nisto do F. há sempre muita inveja. Mas antes de me abalançar sobre os tópicos que racionalizam essas motivações e fazem com que as pessoas vibrem com o F., é útil fazer uma distinção prévia da velha sociologia alemã entre Comunidade e Sociedade (Gemenschaft e Gesellschaft) feita em tempos por Fernand Tonnies (finais do séc. XIX).
Ou seja, nas nossas sociedades existem dois níveis de estruturação: a Comunidade que une as pessoas em torno de elementos mitológicos e intangíveis ligando os homens numa comunidade, e é aqui que entra a História (e, por extensão o F.); e a Sociedade - que se resume ao business as usual - enquadrada pela trama de interesses económicos e de processos técnicos que ora associam ora opõem os homens entre si no seio da mesma sociedade. Aqui entra mais o dinheiro do que qualquer outro tipo de motivações nacionais. Embora a massificação do F. , a publicidade global, os milhões em torno dos passes dos jogadores, os interesses cruzados que envolve (sobretudo com a política, a construção civil e conexos) tenha esbatido substancialmente aquela distinção feita por F. Tonnies.
  • - Portanto, hoje - dia de oitavos de final entre Portugal e o México - opera-se mais uma catarse colectiva, mais um orgasmo em grupo: veremos se o é na sua plenitude ou mais uma ejaculação precoce das muitas que já temos vivido - até em matéria desportiva. Afinal, temos de ser bons em algo, e durante anos fomos bons no H. em patins. Esperemos que hoje não patinemos.
  • Vejamos, pois, algumas das razões que fazem do dia d'hoje uma tempo de fraternidade.
  • 1) Desde logo, um lugar comum: o F. é o ópio do povo - por contraponto ao Fórmula 1 - que é o dos ricos. Já para não falar do golf - que mais parece um desporto de aleijadinhos e de pessoas que já não têm força para jogar ténis - ssão depositados nos relvados dos campos de golf. É óbvio que os praticantes jamais o admitirão, até acham isto uma heresia, pois admiti-lo é maio caminho para reconhecer a sua senilidade, e isso as pessoas não fazem. Lembro-me do caso de j. sampaio. Mas há mais. Só que este teve a infeliz particularidade de estar 10 (eu disse 10 anos) a jogar golf em Belém, dando tacadas no vazio de Portugal. Depois de Santana ter chegado a PM temos defendido que sampaio em Belém foi o 3º acidente político em Portugal no pós-25 de Abril. O 1º - e sem querer brincar com coisas tristes, foi o acidente de Camarate que vitimou o então PM e de que hoje ainda nada se sabe. Enfim, é também um retrato da m.... da Justiça que temos.
  • 2) Depois as estatísticas deveriam informar qual o número de trabalhadores portugueses que vão trabalhar hoje. Uma coisa que, por exemplo, o sr. Vitor Constância poderia bem fazer, em vez de andar a elogiar gratuitamente este governo, todos os governos desde que o nomeiem - de tão sabujo que já se tornou. Chego à conclusão que a sua relação com a economia é exactamente igual à de outro economista - césar das Neves - com o lixo teologico que anda a escrever nas págs. do dn - que agora nos diz que o inferno tem apartamento de 2 ou mais assoalhadas no céu. O dn tem de se pôr a pau com os articulistas que contrata, porque assim ainda termina com mais baixos índices de leitura do que o jornal das Beiras.
  • 3) Por outro lado o F. permite a cada um de nós, sem distinção de raça, credo ou condição económica debitar opiniões sobre tudo e sobre nada. O F. permite-nos ser o tal treinador de bancada que dá asas à nossa imaginação e nos faz sentir reis por umas horas. É uma sensação de poder temporária que enriquece a nossa pulsão da vida. Não é por acaso que os guarda-redes têm sempre opiniões abalizadas.
  • 4) Depois no F. mais vale um presente ao juiz do que um avançado de raiz, embora ainda haja gente séria. E as massas associativas sabem sempre detectar essas (in)justiças - sempre em boa berraria por entre outras tantas injustiças e mais berrarias. Depois não se ganha para as pastilhas da garganta. Julgo que muitas dessas pessoas que vão para os estádios arrombar as faringes jamais fariam idêntico esforço vocal se se tratasse de chamar por um nadador-salvador na praia do Guincho a fim de salvar a mulher que se estava a afundar. Com o Marcelo também não pode contar, porque este só promove os livros dos amigos, mesmo que não valham um tostão.
  • 5) Há ainda uma outra razão que faz do F. um desporto surpreendente: há sempre um tontinho que faz uma aposta e quer ganhar uns cobres e decide invadir o campo e mostar o seu rabo, pénis e conexos. Não o faria no Irão, no Iraque ou em Cuba... Aí os ditadores trucidários no poder poriam fim a um circo que não encomendaram. No mundo livre - mas alienado - tudo se permite. Até charadas. Seria agora interessante, para mudar o disco, que a ideia da aposta partisse duma Senhora bem dotada. E digo-o por uma única razão: imagine-se que Portugal termina o 1º team a perder, ao intervalo - vendo aquelas imagens - sempre poderia levantar o moral e entrar a matar no 2º team e ganhar a partida. Sempre entendi que uma boa mulher faz milagres, nem que seja por uns momentos - sem qualquer ofensa à mulheres, pois os homens são, como se sabe, bem mais chatos e, regra geral, também nunca liquidam as apostas que perdem...

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6) No futebol, em rigor, todos os adeptos - que são aos milhões - são arquitectos e engenheiros civis que constroem as suas equipas com boas e sábias jogadas. Mesmo aquele que tem a 4ª classe incompleta sente-se um verdadeiro engenheiro civil ou arquitecto se estiver num estádio de F. O F. é, por estas e outras razões que só o coração e o desnorte das pessoas poderá compreender, esse desporto-rei. Essa terapia para as frustrações do quotidiano; essa possibilidade de soltar a língua e de verter as águas. Essa faculdade de calhandrar, como diriam as sopeiras de bairro - que os homens tanto imitam quando não falam de outra coisa, mulheres, por exemplo. Refiro-me aos heteros..., hoje cada vez em menor número. Mas não deve ser por causa do F.
  • O F. é, em suma, uma espécie de caça aos ratos, é o safari dos pobres. E como estes existem em grande número hoje vai tudo à bola. Por isso, hoje é feriado. Oxalá o resultado seja positivo e que levemos os ratos para casa...
  • Nota:
  • Não sabemos bem a quem dedicar este post, mas para não ser acusado de antipatriótico dediquemo-lo, pois, à História de Portugal. Que desta vitória resultem as maiores felicidades para a economia nacional: que o PIB cresça, as exportações também, Cavaco continue a elogiar Sócrates, este aquele, os empresários se transformem todos em Bill Gaitas e, já agora, que Portugal deixe de ser Portugal, mas o Silicone Valley da Europa. Ainda que sem a estatua da Liberdade que a França ofereceu à República Imperial, como lhe chamou R. Aron.
  • Eis a linha de ataque que o seleccionador nacional escolherá se as coisas correrem mal no 1º tempo. Se repararmos bem, neste caso uma mulher vale por três homens, todos bem posicionados. E com 9 avançados assim duvido que o México se aguente... O México ou qualquer outra selecção do Mundial. Aqui até eu grito: Força Portugal!!!
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